Capítulo 17

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Sonhei a noite toda com Azazel e com todos os últimos acontecimentos.

Antes de adormecer fiz o retrato do que tinha acontecido no quarto dele, a forma como ele tinha quebrado o meu escudo, como tinha lido o meu corpo e como se tinha aproveitado disso.

Associei tudo ao cansaço, a falta de sono, a falta de uma boa refeição a um horário normal… todas estas privações estavam a mexer com a minha capacidade analítica e a mente estava a perder o controlo sobre o corpo.

Mas também as palavras de Turat começavam a conquistar espaço em mim. Quando se referiu a Azazel, havia uma simpatia ou empatia por ele, por vezes um misto de pena e tristeza.

Atitudes dele que eu pensava ter enterrado em mim, surgiram sem serem convidadas. Coisas simples como as vezes que ele a meio da noite me vinha cobrir, a forma como ele me tinha feito sentir em segurança quando surgiu atrás de Julius, ou a sua voz quando pediu para não deixar a Lou morrer.

Havia incoerências em tudo o que ele fazia! As suas palavras cortavam, amedrontavam. O seu toque por vezes selvagem, desumano, mas em outras vezes quase havia uma adoração, um toque que me fazia sentir de cristal, como se eu fosse a peça rara num museu.

O pesadelo quase tinha sido um semi – sonho erótico com ele, mas no momento em que estava quase a atingir o orgasmo, ele deixou-me e foi ter com Cora. Cora ria-se de mim e apontava para o chão. No chão estava Heinrich cheio de sangue e sem língua…eu queria ajudá-lo, mas Azazel não me deixava, ele queria que eu visse a Cora a gozar! Foi Lou que me fez acordar, quando senti a mão dela queimada a tapar-me os olhos e a dizer que me ia matar, queimar por o marido dela me querer e eu deixar.

Acordei no momento em que a Lou despejava gasolina em cima de mim.

Desisti de dormir, levantei-me e tomei um duche demorado.

Sentei-me no chão da casa de banho ainda de toalha e rabisquei mais umas quantas palavras no meu caderno… desenhei um rádio tosco, livros e mais um sol… resisti à tentação de ler o livro…sorri ao lembrar-me que Azazel iria partir de viagem. Eu iria ter toda a paz necessária para me perder num livro.

Guardei o diário, a caneta e vesti a primeira coisa que apareceu.

Precisava de saber as horas, uma necessidade primitiva de olhar para o tempo, como se o tempo fosse algo necessário para a minha vida actual.

O quarto da Lou estava quase na escuridão total, apenas um pequeno feixe de luz vinha do quarto dele. Ouvi as vozes…toda a minha inteligência me mandou de volta para o meu quarto, mas a curiosidade ganhou.

Fui pé ante pé e coloquei-me junto à porta ao lado do armário dos medicamentos.

- Dois milhões de libras? – Azazel murmura.

- Sim! A merda de dois milhões de libras! – reconheço a voz de Naty.

Oiço passos e encolho-me.

- Não me parece um valor muito alto.

- Fodasse Azazel! É um valor alto demais para uma médica!

- Quem é que oferece o prémio!

- A merda do Ex sogro dela.

Ele dá uma pequena gargalhada.

- O homem caga notas ao pequeno – almoço e o dobro a cada refeição e só oferece isso?

Oiço a Naty suspirar.

- Não está em causa o que o burro fez, ou a merda que ele fez ao oferecer dinheiro. Está em causa é que a merda deste país se está a agitar por causa desse dinheiro… A merda do ministro já deu ordem para começarem a procura-la.

Anjo de Pedra disponível até 31/12Onde histórias criam vida. Descubra agora