Olho para a pilha de jornais que estão a um canto da sala, a minha mãe fez coleção de todos os jornais onde o meu nome foi mencionado, inclusive jornais em outras línguas...
Levanto-me do sofá e vou até à janela, desvio a cortina um pouco, apenas o suficiente para um olho espreitar...continuam lá! São menos, muito menos...mas ainda são muitos para mim...um já seria uma multidão.
Odeio...odeio repórteres, jornalistas...estes merdas que não me deixam...que me fazem sentir ainda mais presa do que quando vivia com Thomas.
Quando penso nele, forma-se um bolo na minha garganta, as lágrimas aparecem... não sei porque aparecem...gostaria de ter uma razão para elas aparecerem...tornava tudo mais fácil, mais normal...sinto-me um extraterrestre na maioria das horas e na minoria alguém com um problema mental grave.
Voltei há sete meses...Moyo nasceu um mês depois...prematuro!
Não me lembro de tudo o que aconteceu com todos os detalhes que gostaria...sei que o deixei para trás, mas o sangue dele não me deixa as mãos...lavo-as constantemente...existem dias que acho que ainda estão manchadas, que ainda cheiram a ele.
Fiquei presa na base dos capacetes azuis três dias, colocaram-me num hospital de campanha e separaram-me Jimmy.
Lutei por Jimmy, como não lutei por Thomas...foi como se ao lutar por Jimmy fosse uma espécie de redenção para com Thomas.
Depois de sair da base da Suazilândia, colocaram-me num hospital militar perdido na Alemanha...não me enviaram para casa...mantiveram-me presa...fui entregue às autoridades do meu país, e dos EUA mas eles mantiveram-me presa a uma cama de hospital e presa a um interrogatório disfarçado de início e descarado, desesperado quando o tempo começou a escassear.
Quiserem saber tudo, quem me prendeu...quem era o pai da criança...
Menti...menti e não sei quem estava a proteger...se Thomas...que me deixou e que eu deixei me deixar...se a mim...não sei se me protegi para não me lembrar, não sei!
Disse que nunca tinha visto quem me prendeu...o pai do meu filho era outro prisioneiro como eu...que eles, os nossos carcereiros e carrascos usavam para fazerem sessões de sexo privadas...que eles assistiam e davam indicações enquanto nós estávamos nus no meio de uma sala.
Disse como fugimos, como roubamos o carro...
MENTI!
Menti por mim...por Thomas...por Moyo...por Jimmy...Turat...Naty...menti por nós.
Quase quebrei no dia em que Moyo nasceu...as contracções eram fortes e eles não me ajudavam. Fizeram um interrogatório ainda mais exaustivo, mais cansativo...no meio dos meus gritos de dor...eles gritavam para eu não lhes mentir mais...suportei...chorei...mas não contei...
O meu filho nasceu...o meu coração viveu quando ele chorou pela primeira vez.
Vi-o fugazmente...levaram-no...
Eu gritei...chorei...
E os interrogatórios continuaram...
Durante três dias, não me deixaram dormir...descansar...não me deixaram pegar ou mesmo ver ao longe o meu bebé!
Chamaram-me terrorista...ameaçaram-me que nunca mais iria ver o meu filho...quando perguntava por ele ou por Jimmy, riam-se e disseram que uma mentirosa como eu não podia educar filhos...ameaçaram que iriam dar as crianças para adopção.
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Anjo de Pedra disponível até 31/12
Mystery / ThrillerTudo na vida começa por: Era uma vez… A minha história poderia começar assim! Era uma vez uma menina que sonhava ser médica…que sonhava casar…que sonhava ter um príncipe e um castelo com torres, com uma fada madrinha a espalhar o pó mágico da Felici...