Capítulo 03

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Quando cruzei o corredor, eu mal havia notado Eric em minha frente. Ele era bem mais alto que eu e bastante robusto. Suas feições também eram bastante marcantes: cabelos pretos, olhos bem castanhos e um rosto bastante assimétrico. Eu não sinto tanto medo dele agora quanto sentia quando era pequena. Ao olhar para ele, só sinto vontade de o esmurrar. 
— Nem uma desculpa? —indagou. Fazia mais de três dias que eu não o vira na escola.

— A culpa não foi minha se você caiu que nem idiota. — Falei, sem me preocupar com as consequências. Ele apenas riu secamente.

— Como um idiota? Cuidado com as palavras plebeia. — Rosnou. Eu ainda o encarava. Nada mudou, eu nunca me deixei intimidar por Eric e muito menos por Callen, não era agora que iria abaixar minha cabeça.

—Vai contar para seu papai? Ah, você não consegue resolver nada sem ele, não é? — um sorriso se erguia em meus lábios. Eric me empurrou no chão ficando por cima de mim. Foi aí que o soco voou.
Senti um líquido escorrer por meu nariz e, ao levar minha mão, vi que era sangue.
Eu o chutei tentando puxar a adaga. O que eu pretendia fazer com ela se pegasse?
Após dar outro soco em meu rosto, Eric levou suas duas mãos ao meu pescoço e apertou.
Eu odiava a sensação de impotência. De ter uma prova de que ele e outras pessoas podiam ser mais fortes que eu. Isso me irritava.

Os alunos ao redor começaram a sair ao ver os docentes que cruzavam o corredor. Eric me puxou pelo braço me levando até o campo de batalha. Estava cedo ainda para ter aulas ali. Cuspi o sangue de minha boca e o encarei.

— Podemos conversar. — Ele riu. A adrenalina em meu sangue me deixava desnorteada. No fundo eu não queria estar perto de Eric.

— Não. Filhas de traidores não merecem serem ouvidas. — Cada passo que eu dava para trás ele dava um para frente, como um predador prestes a matar sua presa.

— Do que você está falando? — ele puxou a adaga lentamente.

— Você não sabe? Seu pai foi preso por traição a coroa. Acho que não vai demorar muito para sua mãe também ser e os dois serem executados juntos. — Parei imóvel no meio da arena.

— Está blefando. — Ele riu.

— Por que eu mentiria? A quanto tempo você não o vê? — fazia três dias, mas não faz sentido ele trair a coroa.

Eric veio em minha direção, a adaga pronta para ser cravada em minha pele. Tentei correr para a saída, mas ele segurou meus cabelos me jogando no chão.
— Covarde. — Sussurrou já em cima de mim. Ele largou a adaga e levou as duas mãos até meu pescoço. Eric pode ter pensamentos conturbados o suficiente para tentar me matar sufocada.
Eu provava de sua força há bastante tempo e de sua crueldade também. 
Agora, me pergunto se eu venceria essa luta.

— Embora seu pai tenha sido culpado por traição, acho que esse não é o único motivo. — Tentei me desvencilhar dele. Sua mão apertou cada vez mais minha garganta.
— Após a coroação de Wagner, seus pais estarão há três palmos enterrados na terra. — Minha mão desceu até minha coxa puxando a adaga e, sem pensar, eu a cravei em seu braço.
Ele caiu no chão enquanto resmungava de dor.

Novamente, corri até a saída onde pude ver Callen que havia acabado de chegar. Ele tentou dizer algo, mas peguei sua mão e corri para fora da escola. Paramos ofegantes há alguns metros longe de minha casa.

Não poderia ser tarde demais. A corte vermelha não poderia prender minha mãe, não comigo lá. Dei um passo para fora da floresta, mas Callen me puxou novamente ao se deparar com dois guardas montados em um cavalo que seguiam pela trilha de terra. Observei atentamente e vi minha mãe presa na carroça, com mais dois guardas do lado de fora. Era tarde demais.
— Me dê sua adaga. — Pedi tentando retirar a lâmina de seu suspensório. Callen me impede segurando meus pulsos.

— São os guardas reais Tany, se você fizer o que está pensando, também será presa. — Eu o empurrei com raiva.

— Vocês estão tramando contra mim? Você e Eric? — perguntei, meu coração pulsando em meus ouvidos. Ele negou com a cabeça.

— Eu não sabia que sua mãe também seria presa.

— E a conversa sobre eu trabalhar para você? — ele olhou ao redor.

— Vamos até o palácio, posso te explicar tudo e ajudar com seus pais. 

— Por que está disposto a me ajudar? — questionei. A mente a um milhão.

— Porque eu preciso de um favor seu em troca. — Dei uma risada.

— Isso é tão estranho. — Coloquei um pé para trás quando Callen se aproximou.

— Sei que parece, justamente por se tratar de uma ajuda vindo de minha parte. 

— Ajuda? Que eu saiba eu não quero ser ajudada. — Ele suspirou. 

— Venha comigo até o palácio e, se você não gostar da minha proposta, — ele retira a adaga do seu suspensório a colocando em minha mão. — Você pode me matar, me mutilar ou sei lá o que você sempre desejou fazer comigo. — Eu ainda o encarava. Um pouco confusa com os acontecimentos repentinos. 

Como eu ainda estava em silêncio ele continuou: — Eu baixei meu ego para ter uma conversa civilizada com você. Acha que estou de brincadeira? — perguntou Callen.
Retirei minha mão da dele.

— Tudo bem. 

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Notas da autora

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Quarto em Vermelho e ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora