Capítulo 19

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Os passarinhos cantado davam indício de que já havia amanhecido. Me perguntei como havia conseguido dormir com guardas me encarando o tempo inteiro e em uma posição nenhum pouco confortável.
— Não tente fazer nenhuma gracinha. — Disse o guarda sorrindo. Como ele estava perto de mim, o poderia chutar no estômago facilmente, mas me perguntei se receberia uma punição maior por causa disso.

— Me deixe ir. — pedi, tentando não pensar em formas de fugir. Isso só causaria mais problemas.

— Talvez se você pedir com jeitinho... Quem sabe. — Ele se aproximou. Sua mão veio em minha direção e antes que ele me tocasse soquei sua cara. Definitivamente foi uma péssima ideia ter me deixado com as mãos livres. 

O guarda cambaleou para trás. Ele veio até mim enfurecido, ficando por cima de mim. Tentei o chutar novamente, mas sem sucesso. Ele segurava minhas pernas com seu joelho enquanto suas mãos prendiam as minhas. Percebi que sua mão se fechou em um punho para me socar, mas fomos interrompidos por um eco de uma voz alta e estrondosa. 

— Se afaste! — Quando virei o rosto, vi o rei. A coroa de rubis brilhando em sua cabeça. Atrás de si haviam dois guardas. Pude notar que estava enfurecido pelo seu olhar extremamente escuro.

— Majestade ela... — tentou se explicar o guarda. 

— Eu disse para se afastar da moça. — Ele o obedece imediatamente sem hesitar.

— Você é burra? — perguntou me encarando. Não ousei me levantar do chão. — O que seus pais lhe disseram?

— Nada de mais majestade. Sinto muito. — Callen atravessou o salão. Não sabia se agradecia ou se saia correndo.

— Dê um jeito nela ou ela nunca mais pisara nesse castelo! É o meu último aviso. — Disse ríspido a Callen. O guarda estendeu a mão para acariciar meu rosto em forma de deboche, mas Callen retirou com agressividade. Ele faz uma reverencia parcialmente irritado e vai embora. Se antes eu tinha uma visão positiva de guardas, agora não tenho mais.

— Como sempre causando problemas, Tany. — Exclamou.

— Eu... — Callen puxou meu braço para que me levantasse. Estava envergonhada demais para sentir qualquer outra emoção.

— Que seja, tenho informações. — Informou enquanto andava em direção as escadas. Rapidamente peguei minhas armas na mesa e o segui.

— Wagner está tentando adiar a coroação. — Disse enquanto andávamos pelo corredor.

— Acha que ele consegue? — Callen dá de ombros.

— Ele é manipulador, não tenho dúvidas que consiga. - Entramos em seu quarto. Meus pensamentos estavam mais voltados para o diário e o assassino que havia libertado. Se Haru descobrir que eu o libertei provavelmente terei problemas, não só com ele, mas com Ryut também. 

— Acho que você tem que começar a planejar seu plano. Wagner não me parece fraco e se o seu plano for fraco, vamos cair juntos. — Disse enquanto cruzava os braços.

— Meu plano não será fraco, disso você pode ter certeza. — Eu me aproximei dele.

— Eu espero que não seja, até porque só estou com você por causa de meus pais. — Ele deu um passo em minha direção. Um de meus pés deu um passo para trás.

— Me diga algo novo agora, Tany. — Eu o encarei. Callen deve saber e deve ser lembrado que não sou sua amiga e muito menos um passatempo de joguinhos. Eu preciso o lembrar de que estamos juntos por meus pais.

— Me diga você. Até agora o que fez foi dançar valsa com Wagner. — Callen respirou fundo.

— Você não sabe o que diz.

— E você não sabe o que faz. — Retruquei. Callen apenas me encarou, nesse momento, percebi que não éramos realmente amigos e muito menos aliados. Eu era uma peça em seu jogo e ele também era uma peça do meu.

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Quase tive um mal súbito ao ver o assassino em meu quarto. Há quanto tempo ele esteve aqui? A noite toda? Como diabos ele sabe que esse é meu quarto?

— Por que está aqui? - perguntei fechando a porta do quarto.

— Disse para te ver aqui, não? - revirei os olhos.  Pelo menos ele não fugiu e cumpriu com sua palavra em me ajudar.

— Achei que fugiria.

— Eu sou um homem de palavras. Por favor. — Tirei a adaga do suspensório a colocando em cima da cômoda. O arqueiro se aproxima estendendo o braço. — Meu nome é Hud. — Agora sem seu capuz, ele parecia ter pelo menos 40 anos de idade e tinha uma barba grisalha malfeita. Eu diria que ele é bonito.

— Tany... De onde você veio? Não parece ser de Midgard. — Observei.

— Sou de Svartal. Vim aqui a bordo de um navio para fugir de alguns assassinos. — Dei um sorriso.

— E o que você fez? - perguntei curiosa cruzando os braços.

— Não revelarei detalhes, só preciso de dinheiro para voltar novamente para Svartal. — Ele retira uma pequena faca da bota e a coloca no cinto da cintura.

— Posso falar com Ryut para arrumar um quarto a você e se você cooperar, podemos enviá-lo de volta para Svartal. — Ele concorda satisfeito. — Você consegue me dar mais informações sobre quem lhe contratou? — Hud ficou em silêncio, pensativo.

— Lembro que um homem alto com uma espada no cinturão falou comigo. Ele parecia ter pelo menos 30 anos. — Talvez Wagner possa ter mandado outra pessoa para contratar Hud. Lembro das palavras de Gian. Qualquer um pode estar cometendo os ataques á Ryut, mas o meu principal suspeito com certeza era Wagner.

— Tudo bem, você nos ajuda com a coroação e eu o envio de volta para Svartal.

— Ajudar com a coroação? Você planeja roubar a coroa? — questionou ele, a expressão de surpresa.

— É uma longa história. Preciso que me ajude com a coroação caso algo dê errado e você possa ajudar a libertar meus pais. — Ele franziu o cenho.

— Aliás que diabos seus pais fizeram para serem colocados em uma cela diferente das outras? — Realmente, aquela cela era difícil de ser arrombada com uma simples adaga, diferente da sela de Hud que era facilmente aberta. O que é meio estranho, já que Hud tentara matar Ryut e deveria ser considerado perigoso.

— Eu também não sei... Acho melhor eu ir tentar achar um quarto para você. — Ele foi em direção a porta.

— Depois eu a pago quando voltar de minha "caçada". — Ergui uma sobrancelha.

— Dinheiro roubado? — ele sorri. 

— Pelo menos eu vou lhe pagar. — Ele sai do quarto me deixando sozinha. Me joguei na cama suspirando. 

Cabana de férias... Lembro que quando pequena costumava passar as férias em uma cabana, mas não lembro onde e nem qual seria. 

Franzi o cenho tentando achar memórias. Quando pequena, eu fui criada até meus 5 ou 6 anos de idade em um lugar longe do palácio. Talvez seja nesse lugar que papai se refere.

Quarto em Vermelho e ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora