Capítulo 35

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Pode parecer que não, mas eu era uma pessoa que não reagia perante a injustiças. Tanto que, quando Eric e Callen haviam tentado me matar afogada e congelada no gelo, eu não disse uma só palavra. Não os ameacei e muito menos pensei em me vingar. Eu apenas torcia para que todos morressem. 

Retirei a adaga de meu suspensório e a encarei. Ela era de tamanho médio e seu cabo era de cor azul escuro. Callen acha estranho o fato de ainda ter sua adaga. Sim, essa lâmina era dele. Respirei fundo olhando o sol descer aos poucos. Eu estava sentada no jardim da cabana relembrando algumas coisas, sem motivo algum. Talvez pelo fato de estar entediada. 

Contando sobre o dia em que Callen havia me dado isto, eu estava andando pelo Bosque das fadas douradas, tentando achar maças para comer. Tive a infeliz sorte de me deparar com Eric, Diana e Victoria juntos fazendo uma espécie de piquenique próximos a uma cachoeira. Tentei voltar despercebida para o lado oposto dos deles, mas o creck de um galho que eu havia pisado fez um barulho alto o suficiente para eles escutarem. Eric veio até mim sorrindo enquanto passava as mãos em torno de meus ombros.

"- Olha só quem veio para o piquenique também. - Anunciou ele me levando para mais perto de Diana e Vic. - Não lembro de tê-la convidado. - Diana riu. 

- Muito menos eu. - Eric sorriu perversamente. 

- O que acha que deveríamos fazer com ela? - perguntou como se eu não estivesse ali. Diana pensou.

- Jogue-a na água. - Sugeriu dando de ombros.

- Vocês não vão fazer aquilo que fizeram no inverno com ela, ou vão? Se fizerem vou ir embora. - Avisou Vic se levantando. Eric ergueu a mão para ela.

- Relaxa, vai ser diferente. Até porque isso é uma cachoeira e ela não está congelada. - Argumentou Eric. Victoria revirou os olhos. - Vamos dar um mergulho então, Diana. - Disse Eric. No mesmo momento Diana se levantou deixando a amiga ali. Eric segurou meu braço me levando até a borda da cachoeira.

- O que pretende? - perguntou Diana. Olhei para a água corrente. Só de ver, sabia que ela estava gelada. Sem dizer nada, Eric me empurrou. A água chegava até minha cintura. Tentei andar até a borda, mas Eric me impediu. Com um sorriso entre os lábios, ele tentou me afogar. Tentei o chutar diversas vezes. Ele segurou meus cabelos molhados e afundou minha cabeça na água. Ele me deixou ali até meu fôlego acabar. Dei uma tossida o que provocou bolhas e então senti a água invadir meu pulmão. Me dei conta de que Eric havia me soltado após ver Callen o ameaçando para que fosse embora. Não entendi o que estava acontecendo, pois a cada tossida que dava, mais água parecia que havia em meus pulmões. Observei Callen empurrar o amigo. Os dois pareciam discutir, até que ele, Diana e Vic foram embora juntos. 

Ainda sem entender, saí da água me deitando no chão.

- Porque não me deixou morrer? - perguntei. Ele deu de ombros.

- Não sou uma pessoa ruim. - Ele se aproximou de mim se agachando. - Mas você ,Tany... Você é fraca. - Engoli em seco. Ele não precisava me lembrar disso. Ele pegou minha mão com a palma virada para cima, logo depois, retirou a adaga de seu suspensório e a colocou em minha mão. 

- Sabe o que é isso? - perguntou ele, a voz calma. 

- Uma adaga. - Disse. Ele posicionou a lâmina em seu pescoço.

- Sabe o que ela faz se cortar minha garganta ao meio? - perguntou. Eu fiquei em silêncio. - Me responda!

- Você morre. - Respondi o encarando. Callen empurrou minha cabeça para trás e se levantou.

- Seu pai sabe manusear armas. Se não quer morrer e ser uma plebeia inútil e medrosa pelo resto de sua vida, tente pelo menos saber como segurar uma lâmina. -" 

Pensei em devolver sua adaga, mas ele nunca havia me pedido de volta. 

Eu aprendi a manusear armas desde pequena por causa de meu pai, mas até aquele momento, eu tive mais interesse em auto defesa. Mory passou a me ensinar tudo o que ele sabia em seus momentos livres. Como matar alguém, como usar uma espada, como se esconder, como escalar... Prometi a ele que nunca usaria esses conhecimentos para machucar alguém e é por isso que não havia me vingado de Eric, de Diana e nem de Callen. Eu não era uma assassina, mas passei a ser após sujar minhas mãos com o sangue de Eric. 

Me pergunto quantas pessoas Mory havia assassinado a mando do rei e se ele se sentia culpado, independente do crime da pessoa. 

Aquela adaga sempre em meu suspensório, me lembrava do quão vulnerável eu era. Assim como a cicatriz em baixo de meu suspensório feita por Eric. Coincidentemente, Callen estava lá como um antagonista. Testando o quão terrível eu poderia ser quando crescesse. Talvez ele tenha visto isso ao matar Eric, mas eu ainda não considero isso um de meus atos mais terríveis. Acredito que posso ser pior que todos eles, mesmo me esforçando para me manter neutra diante de tudo o que está acontecendo.

Quarto em Vermelho e ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora