Quarto em Vermelho e Chamas

Capítulo 57

Algumas semanas se passaram e não havia tido nenhum sinal de Wagner. Me pergunto porque ele desaparecera tão repentinamente.

Andei até o comitê de guerra onde Mynna e Victoria preparavam alguns convites para o meu casamento. 
Ao olha-las, não pude deixar de pensar na situação na qual estou. A Tany mais nova se preocupava em não se encontrar com Callen e seu grupo de amigos e também se preocupava em estudar e ser uma boa guerreira, ou talvez encontrar um grande amor e viver colhendo trigo em Asgard.
Agora, me ver em um castelo, com minhas irmãs, preste a me casar, era bastante confuso e também um pouco radical.

- Espero que não estejam pensando em convidar tudo isso. - Desejei olhando para a pilha de cartas seladas com cera.

- Pare de reclamar e tente ajudar em alguma coisa. - Resmungou Mynna em um tom de brincadeira. Ela não conseguia ser rude nem se quisesse. Me sentei ao seu lado.
- Fellix está empenhado nos preparativos do casamento. - Revelou ela. O que não era mentira. Fellix embora tenha suas obrigações com a mansão, economia e o exército de Midgard, ele arrumava um tempo para ver e decidir a decoração do castelo.

- O que querem que eu faça? Quanto antes tudo ficar pronto melhor será. - Ela me entregou um carimbo com selagem de flor.

- Coloque cera e vá carimbando os convites. - Disse. Imediatamente comecei o trabalho. Pude perceber as horas se passando, até me levantar para sair da sala e tomar um pouco de ar no jardim. 

Mory sorriu ao me ver. Me pergunto as vezes o que ele faz com tantas horas livres. Afinal, ele não tem nenhuma obrigação ou trabalho depois que fora preso. 

Ele me abraçou e poucos segundos depois me observou. 

- Não parece feliz com o casamento. - Disse. Com os acontecimentos de minha vida, talvez eu tenha perdido minhas verdadeiras emoções. O que eu sentia em relação a me casar com Fellix não era alegria, mas também não era tristeza. 

Fellix é um ótimo homem, um ótimo amigo para mim, mas não tive a oportunidade de me apaixonar realmente por ele.

- Você parece... Acha que foi uma boa escolha? - Ele sorriu.

- Acredito que sim, querida. - Ele olhou para os lados como se não quisesse que ninguém escutasse a conversa. - Sei que pretende tirar Wagner da jogada. Quero que saiba que pode contar comigo. - Eu sorri. Mory as vezes encarava a situação como se fosse tudo um jogo estratégico, e era, mas... eu queria que tudo fosse real, sem ser pela corte.

- Obrigada. - Ele acariciou minha mão.

- Sobre sua mãe... - Tomei distancia no mesmo instante. Não havia conversado com Lillian desde o ocorrido. Eu não a odiava, mas me sentia estranha com ela. Como se eu não a reconhecesse mais. 

- Eu não quero falar sobre isso. Lillian fez algo grave e imperdoável, você sabe disso.

- Eu entendo, mas tente a perdoar algum dia. - concordei com a cabeça. Mory beijou minha testa antes de se retirar. 

- Então você pretende matar seu irmão? - pulei de susto ao ver Callen.

- Sim, antes que ele me mate primeiro. - E mate Lillian também.

- Você teria tanto sangue frio, Tany? - Eu me aproximei dele. Callen não iria brincar comigo.

- O que você acha? - ele deu de ombros.

- Acredito que ele aparecera no dia do casamento. Conheço Wagner. 

- Estou certa no que faço. Não estou? - Callen riu. 

- Há sentido em suas escolhas, mas ao mesmo tempo, sei que se sente caminhando no escuro. - Encarei minhas mãos.

- Você colocou a coroa em minha cabeça, não só você me queria ao trono como também minhas irmãs, Ryut e Fellix. - Callen cruza os braços encarando o chão. Talvez ele esteja pensando em uma resposta.

- Por que você foge disso? - perguntou. Nem eu ao certo sabia a resposta, mas havia uma na ponta de minha língua.

- Eu não sou o suficiente. - Fiz uma pausa o encarando. - Eu não sou rainha e sempre serei aquela plebeia que você quase matou congelada no lago.

- Tany... Não é bem assim. - Eu me aproximei dele.

- Espero que algum dia eu possa mostra-los que estavam certos, mas por enquanto, não dá. - Por mais que minha relação com Callen seja uma corda bamba, eu gostava dele. Tantos dias no palácio, seja como Tany plebeia ou Tany herdeira, aos seus olhos eu tinha certeza de que sempre fui a mesma.

Ele me fazia lembrar quem eu era e quem eu sou.

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Pouco a pouco o palácio era decorado com contrastes branco e amarelo. Mynna e Vic provavelmente escolheram a maior parte da decoração. 

Quase tudo estava pronto: decoração do salão principal, convites, cerimonia... O que o povo de Midgard deve pensar desse casamento? Talvez eles não saibam nem metade do que acontece no palácio. 

Ninguém foi contra, mas também ninguém foi a favor quando subi ao trono. Eu não deveria pensar neles, já que minha permanência não será duradoura, parece que tudo que eu faço é por beneficio próprio e as vezes me vejo me chamando de egoísta por isso, mas o que eu poderia fazer? Fui colocada em um lugar sem ao menos escolher se queria. O fato de todos quererem que eu fique é estranho, mas ao mesmo tempo, se eu sair o que eu serei? 

- Eu não encomendei nenhum vestido. - Olhei para trás. Fellix sorriu quando o encarei. 

- De casamento? Eu não pensei em nada disso... - Ele se aproximou pegando minha mão. Achar um vestido de casamento talvez devesse ser o mínimo que eu deveria ter feito.

- Eu imaginei que queira usar um vestido casual... Sei que não está se casando porque me ama. 

- Fellix... - ele beijou minha testa. Ele realmente gostava de mim?

- Ficarei feliz em vê-la se casar comigo. Tenho certeza que, com o passar do tempo, podemos... Nos conhecer melhor. - Eu sorri. Fellix estava otimista. Talvez o estresse de minha posição não me ajuda muito em questão de sentir interesse por ele ou por qualquer outra pessoa. 

- Não está fazendo isso á pedido de seu pai, não é? 

- Posso beija-la? 

- O que? - Fellix me puxou pela cintura delicadamente colando nossos corpos. Sua mão subiu até meu rosto de forma a inclinar meu rosto. Ele me beijou. Um beijo doce e delicado. Pude jurar que seu gosto era de flores de primavera.

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- Soube que queria conversar comigo. - Disse Lillian entrando no jardim e se sentando á minha frente. Ela esfregava as mãos no vestido, parecia nervosa.

- Quero que arrume suas coisas e vá embora. - ela me encarou, os olhos incrédulos e sem brilho. Eu não a via como antes e ela também não me via como a antiga Tany, embora ela ainda habitasse em mim. 

- O que? - balbuciou. As olheiras sob seus olhos pareciam mais evidentes a cada dia.

- Temo que Wagner saiba que você matou Bella e a mate. - Lillian suspirou e antes que desse sua opinião eu opus: - é o melhor a se fazer. Gian á levara para um lugar seguro em Asgard á cavalo, antes do casamento acontecer. - Ela tentou segurar minha mão sobre a mesa, mas eu dispensei.

- Querida... Mas e você e Mory?

- Mory decidiu ficar. Assim que eu matar Wagner, você pode voltar. - Eu me levantei. 

- Quando a poeira abaixar, vamos decidir o que fazer.