Como era de manhã, e eu precisava falar com Callen, havia o convidado para tomar café comigo no salão de refeições. Nós nos sentamos em uma mesa perto da sacada. Estava um pouco frio, mas o sol esquentava levemente a minha pele, o que me fazia esquecer do ar gelado que me incomodava.
— O que tem feito ultimamente? — perguntei colocando o pano de seda em meu colo.— Uso a maior parte do meu tempo desenhando e pintando quadros. — Respondeu enquanto cortava com a faca um pedaço de panqueca. Me pergunto se em todas as refeições do castelo, eles ofereciam panquecas.
— Sabe que pode fazer mais coisas ao meu lado, não? — ele deixou a faca de lado e me encarou. Confesso que seus olhos pretos sobre mim me deixaram nervosa.
— Isso é um pedido para que eu passe mais tempo com você? — mordi os lábios.
— N-Não... Só quero dizer para você se sentir confortável em socializar comigo, Fellix e minhas irmãs. — Ele levou um pedaço de panqueca espetada no garfo até a boca. Após a coroação, sinto que Callen se afastou de seus afazeres como príncipe. Não que ele fizesse algo enquanto era um... Eu apenas queria que ele soubesse que, mesmo não sendo propriamente da realeza, ele ainda pode sustentar e usar seu nome como Príncipe Callen de Midgard.
— Entendi, mas eu estou bem. — Fiz um leve aceno de cabeça ficando em silêncio. Eu o chamei com o intuito de perguntar o que Wagner disse a ele ontem, mas tirar essa informação seria difícil.
Callen largou os talheres que segurava emitindo um som agudo no porcelanato.
— Eu sei que quer saber sobre minha conversa com Wagner ontem.— O que ele disse para você a final?
— O que nós dois já sabíamos. — Franzi o cenho.
— Está falando sobre sua maldição? — ele afirmou. — Acredito que Wagner tenha descoberto algo. Você está estranho ultimamente. - Embora tenhamos passado pouco tempo juntos, eu conhecia Callen. Ele não pedia ajuda e nem conversava com ninguém sobre seus problemas, nem mesmo com suas irmãs. Eu nunca tirarei a razão de Callen por ser assim ao olhar para a forma que foi tratado por sua família adotiva.
— E se for, Tany? Eu não deveria te contar. Até porque você não tem nada a ver comigo. — Disse um pouco ríspido.
— Achei que fossemos amigos.
— Somos, mas não significa que tenho que lhe contar tudo. — Dei uma risada seca.
— Por que está sendo grosso comigo?
— Porque você é irritante. — Fiquei em silêncio o encarando, e sem falar nada me levantei.
— Aonde vai? — perguntou.
— Não é da sua conta. — Respondi.
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Fellix e eu andávamos pelo palácio, observando serventes e criados enfeitarem o castelo para a coroação. Era estranho o fato de todos ali trabalharem exclusivamente para mim. Essas pessoas gostavam disso? Elas gostam de mim?
— Você não parece presente. — Comentou Fellix. Seus olhos passearam pelas minha feições lentamente enquanto caminhávamos.— Discuti com Callen hoje mais cedo, mas não vamos falar sobre isso... — Ele desviou o olhar para uma criada que pendurava uma bandeira no alto de um pilar. — Você tem vocação para liderar um povo? — perguntei. Notei que estávamos na sala do trono. Raramente eu venho para esse local. O ambiente desse lugar não me agradava muito.
– Sei onde quer chegar. Eu não tenho nenhum interesse em ser rei. – Soltei uma risada enquanto nos aproximávamos do trono acolchoado em tons de vermelho com preto. Fellix segurou minha mão para que eu subisse os três pequenos degraus até chegar próxima do trono.
É estranho estar aqui e olhar para essa sala e o que está adiante de mim. Tany... Você pode ter tantas coisas ao seu dispor, mas nenhuma delas é o que você quer.
- Porque não quer esse posto? - questionei, o encarando mais séria que o normal. Nossos olhos se cruzaram e não se desviaram nem por um segundo. - Seu pai ficaria feliz... Digo, Ryut e eu sabemos do seu potencial. Seria... Perfeito. - Ele delicadamente segurou minha mão esquerda e a levou até o encosto do trono. Meus pelos se arrepiaram ao sentir a superfície gelada do ouro que cobria o entorno. Como se eu pudesse sentir o poder de Haru ali.
- Porque ele é seu. - Engoli em seco.
- Vocês estão errados sobre mim. - Fellix segurou meu rosto com as duas mãos e com um sorriso amigável disse:
- Quem sabe um dia estaremos certos. - Ele as retirou após respirar fundo. - Notei a presença de Wagner esses dias no palácio. - Comentou. - Você está de acordo com isso?
- Obviamente não, mas quero que ele fique no castelo mais alguns dias. Quero saber o que ele descobriu na viagem á Musphelheim.
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Fechei a porta do quarto. Havia uma carta em cima de minha cama. Provavelmente alguma criada a colocou aqui. Olhei o remetente e era de Nicolas. Me sentei na escrivaninha e a abri.
"Majestade, quero primeiramente agradece-la pela honra de seu convite para a sua coroação oficial, mas infelizmente não comparecerei devido as minhas obrigações no castelo.
Devo informa-la também do desaparecimento de Lorenzo. Cristal está um pouco abalada com esse acontecimento, por isso não pode comparecer, já que está organizando buscas pelo menino feérico. Peço que entenda. [...]"
Lorenzo sumiu? Espero que ele apenas esteja se aventurando por terras e não tenha sido capturado por nenhuma bruxa. De qualquer forma, devo escrever uma carta, quero me manter informada sobre isso.
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Quarto em Vermelho e Chamas
FantasyTrilogia: Vermelho e Chamas Vol. 01: Quarto em Vermelho e Chamas Sinopse: Tany cresceu como uma plebeia, mas desde pequena frequentava o palácio por causa do trabalho de seu pai, tendo contato com príncipes e princesas o que a fez ser odiada não ape...