Capítulo 30

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Fiquei feliz ao ver Fellix após um bom tempo. Me sentia mal ao lembrar que eu não estive com ele nos dias de seu luto pela morte de seu pai, embora eu realmente estivesse triste com a partida de Ryut. Hoje, vejo que ele está bem, mas não sorri tanto quanto antes, não sei dizer se é pelas complicações pela mansão Ryut ou pelo luto mesmo.

– Vi que Wagner está procurando meus pais adotivos além de mim. – Comentei enquanto andávamos até o jardim de trás da cabana. A cabana de férias é um lugar cercado de arvores grandes e verdes, digamos que é super tranquilo viver aqui.

– Devo confessar que não sei o que Wagner tem com Lillian e Mory. – Disse Fellix enquanto nós sentávamos no banco que dava uma visão para as grandes arvores. O vento que soprava as faziam balançar de um lado para o outro. Era bonito de se observar.

– Acha que meus pais fizeram algo de grave para a corte ao ponto de Wagner os procurar? – Fellix olhou para mim.

– Não tenho certeza, mas se Wagner está atrás deles, é bem provável. – Me pergunto o que poderia ser. Se meus pais realmente tivessem traído a coroa, seria um dos motivos para virar herdeira e evitar que eles sejam mandados para a forca.

– E como foi na mansão? – perguntei mudando de assunto.

– Wagner tomou o controle de todo o meu exército. A mansão ainda é minha propriedade, mas sem o controle do exército, sinto que as coisas podem ficar mais difíceis. - Parte do exercito de Midgard ficava sob comando de Ryut. Me pergunto o que Wagner fará com a posse de todo o exercito.

– Tem ideia dos próximos passos de Wagner?

– Wagner desde pequeno sempre foi indecifrável. – Fellix colocou a mão na frente de meus olhos fazendo sombra em meu rosto. O sol naquela tarde estava um pouco forte. – Você já tem ideia do que fazer com a coroa? – Fiz um breve silêncio.

– Se eu tomar a coroa, você se tornaria rei? – ele me encarou.

– Ao seu lado? Como rainha? – neguei, ele realmente estava propondo que a gente se casasse? 

– Apenas você. Encontre uma rainha depois. – Ele ri.

– E se fosse você? – mordi a bochecha.

– Não... – ele segura minhas duas mãos. Diferente das minhas, suas mãos estavam calorosas.

– Você deveria tentar. – Disse retirando uma mecha de cabelo de meu rosto. – Pelo menos, até gostar. – Aconselhou.

– Como eu vou gostar disso? Fellix, eu nasci como uma pessoa comum, não em um palácio como herdeira. 

– Você pode aprender. – Suspirei. Parecia uma tarefa fácil para a maioria das pessoas.

– Você vai voltar para a mansão? – perguntei. Não queria que ele fosse embora.

– Sim. Você ficará bem? – dei de ombros.

– Quero que apareça mais vezes. – Pedi. Fellix tinha o poder de me confortar, sua paz e calma é realmente contagiante. Ele me abraçou assim, se despedindo. Após isso voltei para a cabana pegando uma capa com capuz enquanto fazia um coque alto na cabeça.

– Diga que não vai ao palácio. – pediu Callen se encostando na parede. Ele me encarava com uma expressão séria no rosto.

– Não vou ao palácio. – Menti enquanto colocava a adaga na coxa.

– Você vai. – Confirmou ele com a voz arrastada.

– Você disse para eu não dizer que vou ao palácio. – Ele fez uma careta para mim.

– Você não sabe com quem está lidando.

– Eu sei exatamente com quem estou lidando. – Olhei para Callen antes de abrir a porta. – Deixei de ter medo das coisas depois que perdi tudo.

♛♚

 Escalei os muros de pedras do castelo com mais facilidade do que da última vez. Revirei os olhos ao ver as sentinelas jogando conversa fora um pouco longe de onde deveriam estar de vigia. Tudo bem que é raro pessoas invadirem o castelo escalando os grandes muros, mas poderia acontecer. Não sei como Haru sobreviveu com uma proteção tão capenga. Sem pensar muito nisso, entrei pela porta da cozinha que sempre ficava aberta. Ninguém mal notou minha presença. Os cozinheiros corriam de um lado para o outro com pratos e panelas ferventes. Discretamente, subi as escadas que deu para o corredor dos quartos dos nobres. A essa hora, ou estavam jantando ou dormindo. Senti alguém colocar levemente a mão em meu ombro. Rapidamente puxei a adaga, colocando a poucos centímetros da vítima. Olhei aqueles olhos que ganhavam destaque pelos cabelos loiros. 

– Victoria. – Murmurei guardando a adaga. Por pouco eu não esfaqueio minha suposta irmã.

– Tany, você não deveria estar aqui. – Victoria, diferente de mim, parecia verdadeiramente uma princesa padrão. Cabelos sempre perfeitos, passos e gestos leves e sempre usava vestidos longos de seda.

– Vai me dedurar? – ela negou.

– Não concordo com as decisões de meu irmão... Nosso irmão.

– Seu irmão. – ela limpa a garganta.

– Que seja... Soube que Callen ainda está com você. Ele está bem? – um guarda passa por nós nos encarando. Vic faz um aceno com a cabeça e ele passa reto sem questionar.

– Sim, ele está bem. – Ela parecia nervosa. Me virei para seguir meu caminho. Se eu permanecesse ali, Victoria provavelmente me convidaria para tomar um chá.

– Embora... – começou Vic hesitante. Eu me virei novamente de forma a encará-la.
– Não tenhamos um passado agradável, quero que saiba que me arrependo.

– Tudo bem. – Disse com um meio sorriso. Tudo isso era tão estranho.

– Diga a Callen que eu ainda o considero um irmão. – Vic limpou o vestido de uma sujeira imaginaria. – E tome cuidado com Wagner. – Ela voltou para o quarto e após isso segui meu caminho até o escritório de Haru que agora, seria de Wagner. Olhei pela fresta da porta que estava entreaberta e entrei ao ver que não havia ninguém. O escritório estava uma bagunça, tanto que nem sabia por onde começar.

– Que bagunça! – pulei de susto. Não havia notado que Laura estava comigo.

– Droga! Por que você veio? – ela deu de ombros.

– Estava entediada e eu quero mantê-la longe de encrencas. – Revirei os olhos.

– Ok, procure algo útil por aqui. – Dou uma olhada nos livros em cima de um cômodo. Um está aberto em uma página.

"A pedra do coração de dragão"

Tirei os olhos do livro ao ouvir a porta abrir. Laura se escondeu atrás de uma pilha de livros.
– Minha querida irmã. – Wagner entrou no escritório, o sorriso nos lábios.

– O que é tudo isso? - Perguntei me referindo aos livros, pergaminhos, mapas e alguns frascos de líquidos estranhos espalhados pelo cômodo. 

– Pesquisas... – Ele retirou a adaga do suspensório. – Dê-me um motivo para a manter viva. – Pediu enquanto se aproximava. Eu ri.

– Nenhum. – Ele colocou a adaga em meu pescoço enquanto segurava minha nuca com força.

– Onde seus pais estão? - Essa é sua primeira pergunta? 

– O que quer com eles? – perguntei.

– Diga-me onde estão! – Mandou, a fúria em seus olhos.

– Se eu soubesse acha que estaria aqui? – Wagner rio.

– Acredito que veio até aqui a mando de seu pai para recuperar a coroa. – Supôs Wagner enquanto me soltará.

– O que? Não. Nem eu e nem meu pai queremos isso. – Ele andou pelo cômodo.

– Volte para o buraco de onde veio Tany e traga seus pais novamente para cá. – Eu ri secamente.

– O que quer com eles? – ele me encarou.

– Pergunte a eles quando os achar. Garanto que um dos dois é o culpado e sabem muito bem o que fizeram. 

Quarto em Vermelho e ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora