Capítulo 39

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Victoria bateu na minha porta pela manhã e sem nenhum pretexto se jogou na minha cama. Os lençóis que antes já estavam bagunçados, ficaram ainda mais.

- Você vai á reunião agora? - perguntou ela. Os olhos azuis como o mar me acompanhando pelo cômodo.

- Irei daqui algumas horas. Por que? - ela se ajeitou na cama com as penas em formato borboleta.

- Mynna havia me falado sobre a reunião que fez com Arthur. Acho que você ainda não entendeu o do porque Wagner foi para Muspelheim. - Eu a encarei.

- Ele quer criar um exercito de gigantes de fogo para conquistar o tono de Asgard. Não? - ela deu de ombros.

- Talvez, mas ele poderia fazer isso ainda ao trono sem tê-lo dado a você. - Me aproximei dela me sentando na cama. 

- Isso é verdade. É disso que quer falar? - ela afirma. Victoria poderia as vezes ser a mais nova da família, mas tinha uma incrível habilidade de pensar fora da caixa.

- Ele realmente acha que seus pais adotivos estão envolvidos com a morte de nossa mãe. O enforcamento foi anunciado para que eles viessem até você, mas não deu certo. Então pensei na última jogada de Wagner: Conceder o trono onde Lillian e Mory terão mais segurança para voltar e viverem em paz, sem as ameaças de Wagner. - Explicou Vic. 

- Eu já deveria ter desconfiado. - Ela se levantou.

- Boa sorte na reunião de hoje. - Disse logo após sair do quarto.

♛♚

Todos que estavam na reunião estavam cientes dos últimos acontecimentos. A sugestão de viajar até Asgard foi rejeitada por todos menos por Callen. Coloquei a mão sobre a mesa encarando o mapa de Midgard.

- Posso pegar a ponte do corte. Chegarei rápido em Asgard. - Fellix molhou os lábios.

- Não sei se devia ir. Pode ser perda de tempo. - Callen se inclinou na mesa, apoiando sua cabeça na mão. Ele parecia entediado. Me pergunto porque ele aceitou vir.

- Tany está certa. Se enviarmos guardas corremos o risco de Cristian morrer e o filho dele também. - Mynna ergueu as sobrancelhas. 

- Ele tem filhos? - Callen afirmou com a cabeça. 

- Como se passou alguns dias, temo que Wagner possa estar mais perto de chegar até Asgard. - Comentei. Olhei para Gian. - O que acha?

- Vou mandar preparar o cavalo. - Informou. Callen ergueu a mão, os dedos cheio de anéis.

- Os cavalos. - Corrigiu. - Irei também. - Fellix deu uma risada secamente. 

- Você não. É melhor ela ir acompanhada de alguns guardas. - Sugeriu ele. 

- Callen é mais confiável a ir com Tany. - Opinou Gian enquanto dava de ombros. Fellix apenas suspirou. Não saberia dizer se viajar com Callen era bom ou ruim.

- Tudo bem, mas qualquer incomodo seu Callen, eu o faço voltar. - Ele apenas sorriu em deboche para mim. Eu retribui revirando os olhos.

♛♚ 

Acariciei o focinho de Zeus, um cavalo grande e branco. Suas crinas eram perfeitamente macias e bem escovadas. É notoriamente um macho. Gian que escovava os finos pelos do animal colocou a escova de lado e se aproximou. - O que acha dele? - perguntou o acariciando. O cavalo relinchou.

- Me parece dócil. - Gian sorriu.

- E é! Sua habilidade é a corrida e a coragem. - Callen se aproximou segurando as rédeas de um cavalo um pouco agitado. - Porque a escolheu? - perguntou Gian a Callen.

- Lil me parece ser resistente para enfrentar uma longa caminhada. - Justificou enquanto tentava acalmar a fêmea por meio de uma maça. 

- Entendi, só não a estresse. Lil é muito propensa a fugir quando em situações de estresse. - Informou o arqueiro. Sem muito pretextos eu montei em Zeus. 

- Partiremos agora - Olhei para Gian. - Confio em você e Fellix para tomarem conta do castelo e de Midgard. - Ele fez uma reverência. 

- Nos envie cartas. - pediu antes de Callen e eu partirmos. 

Cavalgamos até a ponte do corte. Os guardas nos liberaram imediatamente ao nos ver. Ao cruzar a ponte, me dei conta de que estava em terras de Svartal. Confesso que jamais havia saído de Midgard e estar em terras próximas das quais sempre ouvi falar era realmente impressionante. Callen seguiu a viagem em silêncio, provavelmente apreciando a paisagem assim como eu. 

Seguimos a estrada de pedra onde alguns mercadores iam de um lado para o outro com coisas pesadas nas mãos. Ao nosso lado, um pouco mais distante, pude ver Cocal do Sul. O castelo de Mynna e de Arthur. Ele não era tão grande quanto eu pensava. Havia uma torre que estava enfeitada de fitas coloridas, era isso que caracterizava Svartal: ruas mais coloridas, crianças nas ruas brincando e locais frequentados por mercadores sorridentes e simpáticos. Mesmo de longe, pude notar as montanhas de Muspelheim. 

- Acha que Wagner possa morrer lá? - perguntou Callen olhando para as montanhas que se distanciavam a cada passo que dávamos com os cavalos.

- Depende, como estamos em época de primavera, não terá tantos perigos. Wagner deveria se preocupar em voltar antes do inverno. - Callen olha para mim.

- É difícil entender os planos de Wagner. - Dei de ombros.

- Eu não me importo se ele morrer congelado nas montanhas. - Ele franziu o cenho.

- Que cruel... - Percorremos mais alguns metros em silêncio até sair da trilha de pedras e pegar a de terra em meio a uma floresta. O sol que antes estava em seu maior topo, agora estava pela metade. 
Ao encontrar um rio, paramos os cavalos na beira para descansarem. Enquanto Zeus bebia água do riacho, desenrolei o mapa que Gian havia me dado mais cedo.

- Acho que chegamos em menos de 2 dias. - Comentei. Callen lavou o rosto enquanto molhava os cabelos no rio. Peguei meu cantil me aproximando para encher de água. 

Callen segurou meu braço quando me agachei para que eu não caísse. Senti a água gelada percorrerem meus dedos. Retirei o cantil da água após as bolhas de ar pararem de subir.
- Acho que deveria encher o seu também. - Recomendei. 

Callen se levantou indo até Lil. Uma movimentação estranha em uma das arvores chamou minha atenção. Retirei minha adaga olhando atentamente ao redor. Um assovio de flecha sendo disparada e voando em minha direção. Eu me joguei para o lado fazendo a flecha cravar no chão perto de Lil, que com o susto, havia se agitado. Me levantei indo até ela, mas escorreguei caindo na água. 

Callen tentava novamente tomar as rédeas de Lil que corria de um lado para o outro. O garoto que atirou a flecha apontava para mim. Como ele havia chegado tão rápido até a borda da água? Eu o puxei pelo pé o fazendo cair. Ele começou a me chutar para que eu o soltasse. Estávamos afundando cada vez mais na água. 

Quando o menino abriu os olhos, ele me encarou. Definitivamente ele não era um ser humano. Foi quando nossos rostos ficaram perto um do outro que eu percebi que ele tinha orelhas pontudas. Eu o soltei com o choque e imediatamente o garoto voltou para a superfície e correu deixando seu arco e suas flechas. Callen segurou minha mão me puxando de volta. Olhei ao redor. O menino supostamente feérico havia fugido.

Quarto em Vermelho e ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora