Capítulo 01

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Abri a janela de meu quarto que dava uma perfeita vista para o Bosque das Fadas Douradas. Talvez eu ainda consiga me lembrar das fadas que habitavam essas florestas.
Fiz um breve silêncio e fechei os olhos a fim de recordar essas memorias perdidas na mente.
Midgard tinha tantas histórias a serem descobertas, mas a mais cruel delas, sem dúvidas, foi a perseguição contra os seres da magia. Sei que não era um bom momento para me questionar sobre o que acontecera com a magia de Midgard. Nesta época, eu havia acabado de nascer. O rei ordenou por motivos ainda misteriosos a caça e o banimento de tudo o que fosse relacionado a magia. Isso significava que os livros que continham esses conhecimentos fossem todos queimados para que ninguém tivesse acesso a nenhum tipo de entendimento, nem sobre a história de Midgard e nem sobre os seres que habitavam nossas terras.
Foram anos de caçadas até chegar aonde chegamos: um reino sem magia.

Após observar por mais alguns minutos a floresta, desci as escadas e vi minha mãe -Lillian- arrumando a sala de estar.
Seus cabelos pretos estavam presos em um coque frouxo baixo. Seus olhos pousaram em mim. Mamãe raramente dava detalhes de como foi a caçada dos seres místicos. Talvez seja doloroso para ela também, mas não somente pelo derramamento de sangue na época, mas por seu passado em si.

- Animada? - perguntou ela com um sorriso no rosto. Hoje seria o meu primeiro dia de aula na escola de guerra. Eu estaria realmente animada, mas o fato de que há somente pessoas de classe superior à minha -como os nobres- me deixava apreensiva. Sei que parece besteira, mas eu não me dou muito bem com pessoas ricas.
Plebeus como eu morreriam e matariam para estar no meu lugar. Não porquê terão aula em uma das melhores escola de guerra e sim porque adoram bajular pessoas nobres.
Consegui entrar para a escola pelas minhas habilidades com espadas, arcos e adagas, por influência de meu pai.

- Acho que sim. - Peguei uma maçã em cima da mesa e mordi enquanto encarava a cadeira vazia. - E papai? - ela mordeu os lábios. Ela sempre fazia isso quando algo incômodo estava acontecendo com alguém da família.

- Ele saiu, mas deve voltar. - Guardei a adaga no suspensório de couro em minha coxa.

- Estarei de volta em algumas horas. - Avisei abrindo a porta, tentando ignorar o fato de que eu sabia que algo estava errado. Ela apenas sorriu e eu retribui.
Cortei caminho até a escola por uma trilha em meio a floresta, não ficava longe de casa então eu não me importava em ir a pé.

Parei na frente das grandes escadas da escola. É um lugar bastante grande só não maior que o palácio real, é claro!

No meio, onde fica a entrada, há uma escada de mármore e, dos dois lados, uma estátua de um guerreiro segurando uma espada repousada no chão.
Toquei delicadamente a estátua com os dedos sentindo a superfície gelada do ouro que a banhava. Quando pequena, sempre olhava para as estátuas pensando o quão legal seria ser um guerreiro. Agora, não me parece tão surpreendente assim.

Subi as escadas, e na entrada, pude ver armários. No corredor havia um longo tapete vermelho com dourado, o que era típico da corte vermelha. No centro uma escada grande que dava, provavelmente para as salas teóricas e em baixo ficava o campo de treinamento prático, além do campo de arco e flecha. Como eu sei disso? Já visitei a escola com meu pai.

Já havida dado o horário e fui o mais rápido possível procurar minha sala.
203, escada, direita, última porta. Bingo! Fácil de achar com as instruções certas.
Algumas carteiras já estavam ocupadas. Os alunos mal repararam em minha presença quando me sentei ao fundo da sala perto das janelas.
As carteiras eram de madeira onde os alunos se sentavam em duplas.
Mais alguns minutos e a sala havia enchido de pessoas murmurando.
O suposto professor entrou na sala, eu o conhecia. Era Rihards, um dos mais antigos guerreiros que serviu a corte até seus 50 anos. Ele carregava uma espada presa a cintura e tinha uma barba grisalha. Posso acreditar que ele já fora o terror das mulheres, em um bom sentido.
Todos fizeram silêncio imediatamente quando ele se posicionou atrás da mesa.

- Como alguns já devem me conhecer, me chamo Rihards. Serei o professor de vocês durante esse ano. - A atenção de todos foi desviada para um aluno que entrou na sala. Quando o vi, percebi que tive a infeliz sorte de cair na mesma sala que o príncipe Callen.
O professor o esperou sentar-se para continuar. Quando achei que não poderia piorar, ele se sentou ao meu lado. Me segurei para não demonstrar nenhum tipo de desconforto. Pois era isso que ele queria.

- Você não vai durar nem dois dias aqui. - Sussurrou ele. Tentei conter um sorriso em meus lábios. Faziam mais ou menos dois ou três anos que não via Callen. Ouvir sua voz me fez lembrar dos tempos em que estive no castelo.

- Vamos ver então. - Não era de hoje meu péssimo histórico com o príncipe, na verdade com a corte vermelha especificamente.
Meu pai servia a corte -nunca soube bem o que ele fazia-, então frequentei bastante o palácio, mas somente lugares que era permitido eu ficar, como no jardim do castelo ou no salão. Isso me permitiu também sempre ter contato com os príncipes e as princesas. Então, é daí que surge minha intolerância com pessoas nobres.
Nas minhas idas ao palácio quando pequena, Callen sempre tentara me fazer ser inferior, apenas porque sou plebeia.

Na hora do intervalo, aproveitei para respirar.
A maioria dos alunos estavam nos jardins conversando, raramente ficavam nos corredores principais da escola. Seria divertido ficar em locais abertos como o jardim que havia arvores com flores de várias cores, mas apenas se eu tivesse companhia. Sem tantas opções, subi novamente as escadas onde pude ver Eric e Callen.
Sem me importar passei pelos dois os ignorando.
Ao passar ao lado de Eric, ele segurou meu pulso. Institivamente eu o retirei com mais agressividade do que desejava. Quando me virei o vi tentando se equilibrar e segurar no corrimão, mas ele rolou escada abaixo até chegar ao final. Ao olhar para o príncipe ele sorriu.
- Você está bastante encrencada.

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Notas da autora

Primeiramente queria pedir para que me sigam no Instagram para ficarem informados sobre novos capítulos: @vermelho_e_chamas
Quero agradecer a Giovanna Manreza que foi a revisora dos capítulos.

Peço que votem e curtam os capítulos, isso me ajuda bastante a continuar com as postagens e no reconhecimento de minha obra.

Obrigada!

Quarto em Vermelho e ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora