– Denki! – Kiri cessou meu devaneio ao abrir a porta da frente de sua casa, que eu nem havia notado ter tocado a campainha, me recebendo com um sorriso enorme de alegria. – Você voltou! – Sem se conter, ele me puxou para um abraço apertado que eu retribuí de imediato com a mesma força (dentro dos meus limites, é claro). Ao estar em seus braços, me senti enfim de volta ao lar. – Veio mais cedo? – Ele perguntou me soltando e eu neguei confuso. – Ah, sabe que sou péssimo com datas, nem notei que já tinha dado o dia. Por que não nos avisou que tava chegando e pediu pra irmos te buscar na rodoviária?
– ... Acredita que nem pensei nisso? – Ri de minha clássica idiotice. – Tava tão ansioso para os ver que foquei só em chegar e esqueci dessa possibilidade. Mas até que foi melhor porque meu pai acabou me buscando, aí logo que chegamos aqui o deixei com as malas e vim direto. – O ruivo abriu espaço para entrarmos em sua casa enquanto eu explicava.
– Que bom então que seu pai pôde ir te pegar. – Esse era um assunto meio delicado e como o outro sabia disso nem me deu tempo de responder antes de trocá-lo: – Mas e aí, como foi a viagem?
– Reencontrar os familiares, da minha mãe morta, que só vejo de vez em nunca? Nossa, incrível. – Fui irônico, o que não era muito de meu feitio. Eijiro apenas me olhou envergonhado sem saber o que dizer diante de minha resposta. Também, por que foi falar daquilo? O importante é que retornei. – Melhor agora que voltei. Vamo chamar o Kats, é festa de reunião!
– Ele já tá aqui. – Apontou pro seu quarto.
– Ah, claro. – É óbvio que Bakugo estaria lá, não sei por que fiquei surpreso que eles continuariam inseparáveis mesmo sem mim. Talvez seja porque Katsuki não veio me cumprimentar, mas eu já devia esperar por isso também.
Tomando a liberdade de ir na frente, segui o caminho mais do que familiar até o quarto do ruivo. Kirishima veio atrás no meu cangote.
– Imaginei que fosse você, Sparks. – Bakugo disse tranquilo quando entrei no quarto e o encontrei relaxadamente sentado na cama, mexendo em seu celular como se fosse um dia qualquer.
– E nem veio me receber, Blasty? – Retruquei usando o apelido que lhe dei por ser explosivo, como resposta ao apelido que o outro loiro me presenteou por eu ser serelepe >segundo ele<.
Somos desses que adoram distribuir apelidos criativos. Eiji é mais do tipo clássico que apenas abrevia os nomes próprios (é bondoso demais pra zoar mesmo que de maneira amigável, no máximo coloca um "mano" no meio).
– Tava aproveitando os últimos momentos calmantes sem você. – Katsu sorriu maldoso.
– Seu mentirosinho, sei que estavam morrendo de saudade! – Não me deixei abalar, acostumado com seu jeito, e fui até ele com os braços abertos e um sorriso tão safado quanto. Bakugo emburrou a cara, na mesma hora que não conseguiu escapar de mim, e eu o apertei em um abraço enquanto ele se contorcia de leve. Katsuki dizia odiar contato físico de todos, mas suas tentativas de se desvincular eram muito fracas pra de fato não gostar (pelo menos os das pessoas certas). – Aposto que foi uma chatice aqui sem mim. Claro, eu sou a própria diversão de vocês.
– Na verdade... – Interrompi Kiri antes que ouvisse algo que não queria.
– Se curtiram, como ousam? – Brinquei, talvez com um fundo de verdade, largando Katsu de minhas mãos. – Não me contem, prefiro não saber o que perdi. Enfim, vamos esquecer esse verão e ir pro que interessa: nos preparar nesse último fim de semana das férias que aí vem terceirão! – Animei com as expectativas. – Esse ano promete, vai ser incrível, vamo dar o foda-se e enlouquecer, ter finalmente o momento de nossas vidas, que todos dizem ser no Ensino Médio, mas até agora nada, então essa é nossa última oportunidade, eu tenho metas.
– Ainda com a nóia de ter que perder a virgindade antes da faculdade? – Sentando conosco em sua cama de solteiro Eijiro me questionou descontente sem se importar com minha tagarelice típica, mas com o conteúdo em si do que queria dizer.
– Ninguém se importa com isso idiota, desencana. – Bakugo o seguiu me desaprovando. Sendo ímpares, é péssimo quando dois se juntam contra um (não quando eu tô no lado do duo, óbvio). – Quantas vezes temos que te dizer que a vida não é o American Pie? E ainda bem, porque essa franquia é a escória do cinema!
– Tá bom, senhor cult. – Zombei sarcástico.
– Mas Kats tá certo, Den. – Kiri o defendeu. – Eu não diria que esses filmes envelheceram bem.
– A gente mora em uma cidadezinha do interior de Indiana, ainda é um lugar onde pensamentos como os de American Pie importam. – Os recordei.
– Nem me fale. – O ruivo lamentou. – Por isso temos que passar numa faculdade longe daqui, não vejo a hora de nos mudar.
– Sim e tem que ser a mesma Universidade pra nós três, se concentre nisso. – Katsuki completou, me advertindo.
– Podia baixar um pouco o nível pra isso, né? – Resmunguei já sentindo um biquinho se formar em meus lábios. – Não precisa ser uma Stanford da vida.
– Agora eu tenho que concordar com o Denks, Bakubro. – Eijiro sabiamente sendo o juiz entre nós. – Se quer ir pra mesma facul que eu e Kami tem que ser realista pras poucas opções que possivelmente vamos ser aceitos.
– Você ainda tem chance de bolsa pelo esporte, eu realmente sou um caso perdido. – Lembrei a Kirishima. – Quer dizer, eu iria pra onde quer que vocês fossem, se só os dois passassem, e arranjaria um emprego qualquer. – Eu não sou um total despreocupado, já tenho um plano B programado. – Não faria muita diferença, nem sei o que quero fazer mesmo.
– Nada disso! – Katsuki estourou com a gente. – Vocês dois tem potencial de entrar pelas notas tanto quanto eu, só precisam se dedicar de verdade igual a mim.
– Ah não, seus planos pro último ano é passar todos os dias no nosso pé pra estudar?! – Reclamei em protesto, jogando meu tronco pra trás na cama até me deitar dramaticamente. E nisso se deu uma discussão que não acabaria tão cedo (Bakugo nunca sabe ceder).
As horas logo passaram em meio a várias conversas que pomos em dia e, assim, rapidamente a noite caiu.
– Vocês vão dormir aqui? – Kiri nos perguntou, provavelmente já pensando em arrumar as coisas pra gente. Eu apenas o olhei em confirmação, porque aquela indagação devia ser retórica pela resposta óbvia.
Aparentemente eu era o único que ainda não tava com sono. Irônico, já que era eu quem tinha acabado de chegar de uma viagem e viagens geralmente são cansativas. Por mim a gente virava a noite matando mais a saudade, mas não insisti naquilo.
No momento eu precisava descansar mesmo, ainda teria muito tempo pra desfrutar da companhia deles, afinal aquele seria um grande ano, eu podia sentir.
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Por Que Três É Demais?
FanfictionQuem disse que mostarda, ketchup e maionese não combinam tudo junto? É a primária tríplice aliança, o equilíbrio perfeito de uma tiqueta. Digo, triqueta... tiquetra? Aquela desgraça do símbolo da trindade! É disso que tô falando, eu quero um poli e...