Cap.4 - Parte II

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– Não vai dizer nada? – Eijiro deu uma risada de nervoso antecipando meu retorno (e tinha isso ainda, droga). Os fiz esperar pelo feedback no que deve ter lhes parecido uma eternidade angustiante prum momento importante desses.

– É de boa! – Disparei em pânico, temendo a reação deles diante da minha. – Quer dizer, claro que não tenho problema com isso né, vocês cogitaram que eu teria? Por isso não se sentiram à vontade pra me contar? Tipo, desde quando sabem que são? – Eu queria deixar o meu apoio aparente o suficiente, mas nunca sabia ao certo como agir nessas ocasiões. Então, como toda vez que não sei o que dizer, minha boca se soltou sozinha em tagarelice sem o consentimento de meu cérebro (que lógica). – Na verdade, eu devia ter notado, faz todo sentido agora o porquê de vocês ficarem estranhos quando eu mencionava algo sexual, já que sempre envolvia garotas e tal, desculpa fazer vocês passarem por isso inclusive.

Contextualizando: digamos que na puberdade eu fiquei bastante libidinoso e na escola não tínhamos educação sexual pois justificavam que era algo de responsabilidade da família pra ensinar, mas como minha relação paternal é baseada na ausência de diálogos eu não poderia contar com meu pai pra ser a minha fonte para tal conhecimento, portanto acabei procurando na internet as parada como todo pré-adolescente deste século faria. E o que "aprendia" pelos sites impróprios contava entusiasmado para os meus melhores amigos, presumindo que eles tinham as tais conversas com os pais então entenderiam do que eu me referia.

Como já era costume nosso >meu< compartilhar tudo não via motivos pra isso ser diferente, mas toda vez que eu falava a respeito eles se calavam visivelmente desconcertados. Aliás, minha suposição da falta de excitação sexual por parte deles nasceu do episódio em que obtive uma playboy (não me perguntem como) e eles a deixaram toda pra mim dispensando minha humilde oferta de dividi-la. Além de que, pelo que eu saiba, os dois só perderam o bv. Tipo, beijaram apenas uma vez.

Demos nosso primeiro beijo aos treze anos na mesma festinha, graças a Ashido que mexeu todas as peças. No oitavo ano, Mina tava doida pra ficar com Eiji; sabia de minha queda por Jirou, a metaleira da nossa turma; e que Uraraka, a certinha da galera do Deku Squad (eles são tipo os Miyagi-Do e nós os Presas de Águia), tava afim do Bakugo. Aparentemente a morena estava em uma fase naquela época de ter crush nos garotos maus, ela desencanou dessa pouco tempo depois e começou a namorar justo o Midoriya. Desde então eles são conhecidos como o casal fofo do colégio, provando que nem todos os opostos se atraem afinal.

Aquele beijo foi o único que tive com Jirou, infelizmente ela não deu chance de termos um relacionamento duradouro como eu gostaria. Sua desculpa era que estava apaixonada por outra pessoa. Kyoka nunca me disse por quem, mas tinha a impressão que essa paixão era enrustida e direcionada à rica japonesa Yaoyorozu. Há boatos que a família dela é ligada a altos cargos de alguma empresa pika no Japão, eu aposto que é a Nintendo. Para o azar de minha antiga paquera, Momo optou em se envolver com gente do naipe dela e assim tá até hoje com Todoroki. Como todo casal em nossa escola recebe uma nomeação, o título deles é de mais cobiçado (principalmente por questões de grana).

E, enquanto Bakugo não repetiu a primeira dose com Uraraka porque a menina desencantou dele (não que eu ache que ele queria ter mais rounds, mas foi algo recíproco), Kiri que recusou Mina da segunda vez. A partir daí, Ashido não quis mais saber de romance e mergulhou de cabeça na vida da sacanagem. Atualmente ela se autodeclara uma vadia (no bom sentido, não me crucifiquem, são palavras dela) e seu lema é o "livre, leve e solta" que é uma expressão brasileira, segundo a rosada.

– Mas enfim, o que isso tem a ver com o verão? – Ao lembrar daquele detalhe, finalmente consegui parar de falar já que nenhum dos dois teve a disposição de me interromper.

– Vamos por partes. – Eijiro iniciou, parecendo mais calmo depois de minha resposta. – Primeiro, não precisa se desculpar, não tinha como você saber, nem a gente sabia. Assim, óbvio que tive minhas dúvidas ao perceber que nunca admirei nenhuma garota como sempre apreciei o masculino, mas só fui realmente ter certeza e admitir pra mim mesmo com quatorze. – Ao passo que confidenciava, o ruivo se sentou do meu lado na cama. – Foi mal não contar antes, o medo me impediu. Eu sabia que você seria tranquilo quanto a isso, mas mesmo assim não consegui evitar em ficar apreensivo com a possibilidade de você, sei lá, ter nojo de mim e deixar de ser meu amigo por isso?

– Se ele fosse esse tipo de "amigo" seria um livramento ele se afastar. – Bakugo resmungou em seu canto.

– E bem, há um tempo já que eu e o Kats tínhamos suspeitas um do outro de ser também, mas foi só nesse verão que tivemos a confirmação disso.

– Por quê? – Questionei cismado pelo "mas só nesse verão". A diferença dessas férias para as outras era a minha ausência, eu era a causa da demora então?

– Não sei. – Isso era uma mentira, dava pra ver pela forma como Kirishima coçou a nuca sem graça. – Acho que sem você aqui foi mais fácil conversar sobre isso entre nós dois, por conta da probabilidade de ambos sermos, entende? – Como eu temia, eu era o responsável por eles não terem formado mais cedo essa irmandade gay um com outro. – Mas também porque não queríamos te deixar desconfortável, por isso não puxamos o assunto com você no meio. – O ruivo se adiantou em inventar uma desculpa que fizesse me sentir melhor.

– Desconfortável o cacete! - Sorte minha que Katsuki estava ali para o contradizer. – Ele não tem o direito de se sentir assim, se for ficar de mimimi preconceituoso eu mesmo corto os nossos laços. – Por fora Kats exaltava confiança com seus gestos e bocas, mas eu o conhecia o bastante para saber que todo esse ataque e pose era só seu modo de se proteger.

– Sim, eu entendo e o Baku tem razão, não vou ser esse escroto. – Afirmei convicto. – E assim, era isso o tal segredo? Se for, vocês que têm a moral agora de tarem putos comigo pelo meu escândalo, porque esse tipo de coisa tem bons motivos pra se guardar, quer dizer, não deveria precisar ser algo velado, em um mundo ideal, mas na prática de nossa realidade né. – Meu Deus, só cala a boca Denki!

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