– Posso confiar esse sigilo a você, né? Vai deixar só entre nós minha sexualidade e por quem tô a fim? – Voltei a apreensão ao me tocar que essa minha explanação era um prato cheio para fofocas e boatos.
– Claro, abafa. – A palavra dele não me significava muito. Não estou o chamando de mentiroso, mas éramos apenas conhecidos então vai saber. Aparentando ler minha mente, Aoyama me deu um motivo mais argumentativo para me sossegar: – Pode ficar tranquilo que sou do tipo que gosta de ficar sabendo dos babados, não espalhá-los. E eu queria te ajudar. Assim, não posso fazer nada quanto a seus problemas com seus amigos, mas de uma coisa eu sei: se tá querendo superar um cara só dá pra fazê-lo com outro cara. E acho que isso serve pra bissexuais também, eu posso imaginar porque não deu certo com a tal garota. – Me lançou um olhar de entendedor, pelo visto minha síntese do ocorrido foi bem clara para o loiro perolado.
– Ajudar como? – Meu processador de segundas intenções teve um delay, mas quando veio fiquei pasmo: – Calma, você tá... se oferecendo?
– Credo, não! – Eu não gostaria mesmo que ele estivesse, mas o modo como falou aquilo me deixou até ofendido. – Você é gato e tudo, mas eu sou mais os Ursos. — É gíria gay para caras velhos, grandes e peludos (essa eu sei por conta de Drag Race). – Acho que esse é seu tipo também, porque eu super consigo ver o bad boy irritadinho e o doce astro do esporte se tornando bears no futuro. – Yuga mordeu os lábios quase chegando a babar com o pensamento nos meus melhores amigos.
– Tirando a parte dos pelos, incluindo barba, eu entendo sim o apelo que se tem nos altos e, sabe, de grande porte. – Consegui o responder, controlando meu ciúmes que me dizia pra lhe dar um soco por imaginá-los de uma maneira sexual. – No limite pro bombado né, que aí já é exagero. E claro, me é preferível que o alto seja condizente com a minha própria altura. – Complementei.
– Pera aí. – Ele de repente ficou muito sério. Putz, eu falei merda? – Ok não curtir bombados e altos ao extremo, não ser fã de pelos até vai também, ainda mais com essa nova tendência metrossexual que os cara tão depilando tudo, mas ser anti-barba é o seu lado hétero falando. – Ata, eu devia esperar que esse era um tópico "polêmico".
– Vale pra mim mesmo também, me considero super sortudo que meus pelos são todos ralos e não conseguiria ter uma barba nem se tentasse. Porém realmente, eu não achar atraente em outras pessoas pode ser algo provocado pelo meu eu hétero. – Ponderei. – Mas vey, pinica.
Como eu tinha agonia nas raras vezes em que meu pai me abraçava, encostando nossas bochechas, quando ele esquecia de raspar seus pelos faciais. Não podia nem conceber a ideia de beijar uma boca com tais cabelos na fuça. Mas, eu poderia mudar de opinião dependendo da pessoa que deixasse a barbicha crescer.
– Dá pra se acostumar. – Com um sorriso, Yuga retornou ao seu jeito descontraído e me recordou de meu questionamento inicial: – Enfim, o lance do ajudar era ser seu cupido de transa. Porque assim, falando por experiência própria, você tem que primeiro tirar a fantasia dos seus crushes do caminho – ele queria que eu fingisse que o cara com quem eu iria perder a virgindade fosse Bakugo e Kirishima? – depois seguir na curtição pra explorar a sua sexualidade – acho que era sexo que ele queria dizer com "sexualidade" – e só aí se abrir pra achar outro ou outros que te façam querer um romance.
– E onde que você vai me encontrar alguém pra isso? Não me diga que vai me criar um perfil no Grindr. – Nada contra apps de namoro, mas me dá nervoso conhecer pessoas só por fotos (a chance de se decepcionar quando ver pessoalmente é grande) e flertar por mensagens (o texto não passar o tom da fala é um problema real).
– Vou te levar pra uma boate gay. – O sorriso dele aumentou de orelha a orelha, até me lembrou o do gato de Cheshire do quanto parecia maníaco. – Combinado? – O sinal de retomada das aulas tocou antes que eu pudesse negar. – Eu pego o seu número depois pra te mandar o endereço do lugar, podemos ir já nesse sábado. – Por ausência de uma resposta minha, Aoyama alegremente deu nossa saída como certa.
Guardei então o livro na estante e fomos juntos até as nossas salas que coincidentemente, apesar de não ser a mesma, eram uma do lado da outra naquele horário.
Após o término do dia escolar, Shinso me encurralou no portão do colégio para falar de sua tutoria. Eu lhe disse que ele não precisava fazer o que o pai dele mandava, mas Hitoshi insistiu que queria porque aquilo serve pra pôr nas inscrições para as faculdades. Logo acabei cedendo e assim marcamos os estudos para toda segunda, quarta e sexta ao fim das aulas na sala do próprio Aizawa (ter o filho de um professor da sua escola como tutor tem suas vantagens afinal).
Nos dias seguintes, confirmando minhas suspeitas de que Yuga não tinha feito amigos no colégio nesse um ano que esteve aqui, o loiro perolado continuou como minha companhia na biblioteca durante o recreio (não se preocupem que eu passei a trazer meus lanches de casa). Foi bem legal, não só ter alguém pra conversar, mas o francês provou ser gente boa e bastante divertido quando o conhece melhor e entende seu humor.
A melhor parte foi poder discutir sobre garotos com outro menino, a maioria de nossas conversas foram sobre isso. Como, "qual o seu crush homem famoso atual e de sua infância?"; "já teve alguma tara por algum personagem masculino 2D ou ainda tem?"; essas coisas. Gayzisses que eu até então não tinha notado o quanto me fez falta expressar esse meu lado. E no sábado não tive coragem pra lhe dar um bolo, portanto me vi mais uma vez em uma balada em um intervalo de tempo de apenas uma semana.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por Que Três É Demais?
FanfictionQuem disse que mostarda, ketchup e maionese não combinam tudo junto? É a primária tríplice aliança, o equilíbrio perfeito de uma tiqueta. Digo, triqueta... tiquetra? Aquela desgraça do símbolo da trindade! É disso que tô falando, eu quero um poli e...