Cap.11 - Parte I

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Indo cada um para sua sala, me separei então dos três e me reencontrei com Kiri e Kats. Com eles, tive duas infernais aulas seguidas de biologia até ser salvo pela terceira de Educação Física do All Might. Não que ela também não seja uma tragédia pra mim, mas pelo menos pude ver os meus crushes >digo besties< suando, o que seria nojento se não fosse gostoso ver as gotículas deslizarem por seus corpos sarados ressaltando seus músculos definidos e colando suas regatas em seus abdomens trincados (limpa essa baba, Denki).

Quando, infelizmente, o espetáculo que assistia de camarote acabou junto da aula, eu me recuperei e segui com os rapazes da turma para o vestiário masculino. Espero não ter dado muito na cara a minha conferida neles, o que me tranquilizou foi o fato de não termos constrangidamente cruzado olhares.

Depois de um banho de gato tomado e roupas limpas vestidas, fiquei no ginásio aguardando meus amigos terminarem de se arrumar para irmos juntos para o recreio. Nisso a quadra foi se esvaziando, à medida que éramos uns dos últimos a finalizarem suas higienes, e eis que me aparece o Shinso vindo, de outra matéria, em minha direção. Já teria a resolução daquele mistério? Comecei a me animar na expectativa daquilo.

– Sua tutoria não tinha acabado? – Notando a aproximação do arroxeado, Katsu rapidamente se pôs ao meu lado.

– Sim, mas eu queria dizer uma coisa pro Denki. – Hitoshi o respondeu antes de mim.

– Pode falar. – Após uns segundos de silêncio, incentivei Shinso a continuar. – Não liga pra eles. – Sorri em encorajamento vendo que os olhos dele iam inquietos de Bakugo a Kirishima. Talvez aquilo fosse um pedido para ficarmos a sós, mas que não aderi justamente por ter uma ideia diferente do que se sucederia a partir dali.

– Ok, então. – Suspirou em um ato de reunir calma. – Isso é constrangedor, mas meu presente pra você são meus sentimentos. – Ele revelou um cartão de aniversário personalizado que manteve, durante esse tempo, escondido em uma de suas mãos atrás de suas costas e em seguida o deu para mim.

Ingenuamente contente, eu peguei e abri o cartão me deparando com estrofes de frases rimadas no que aparentavam ser uma serenata de amor... Puta merda, era isso a surpresa?! Meu sorriso faleceu conforme o temor tomava o seu lugar em meu rosto (e peito).

– É a letra de uma música. – O arroxeado me confirmou ao perceber que eu não reconheci a canção. – Como diz os versos, eu não sei muito bem como verbalizar isso então meu planejamento inicial era fazer algo no estilo da clássica cena de "Diga O Que Quiserem", mas com esse hit do "When In Rome" invés da que usam no filme, porém pensei que seria brega demais com uma caixa de som aí achei melhor escrito do que cantado.

– Mas você... – Comecei desnorteado e ainda em negação que estava recebendo uma declaração. De quem não queria receber.

– Se quer um rótulo devo ser demisexual, sei lá, dar um nome pra isso não é essencial pra mim. – Soou ensaiado. – O que importa é que... – Não fala! – Tô apaixonado por você. – Com esforço Hitoshi expressou com todas as letras e nós dois engolimos em seco quanto aquilo.

– Desculpa. – Visto que eu fiquei sem reação, Eijiro se pronunciou risonho enquanto Bakugo bufava em deboche. – Mas cara, você podia ter evitado deixar todos nós aqui sem graça se simplesmente soubesse o básico do mano que você diz gostar.

– Eu sei, me admira vocês não saberem. – Inabalado, Shinso revidou no mesmo instante.

– O que quer dizer com isso? – Katsuki se colocou de volta na conversa, já irritado com a insinuação.

Dessa vez, o arroxeado teve a decência de me olhar primeiro antes de me entregar. Ele parecia buscar a minha aprovação para me explanar mais, o que novamente não obteve de mim, mas como eu estava paralisado por toda aquela situação, mesmo que incrédulo com o que Hitoshi estava prestes a delatar, não consegui impedí-lo. Ou talvez ponderei que era mais fácil permití-lo arrancar logo aquele band-aid.

– Pra onde acham que Aoyama o leva nos sábados? – Shinso deixou subentendido e, quase como em um reflexo de autoproteção, os outros dois deram uns passos para trás se afastando de nós.

Pude ouvir o mundo deles desabando naquele silêncio ensurdecedor que se decorreu, no que pareceu horas torturantes, até Bakugo nos virar as costas e ir embora.

– Nesse caso, vou lhes dar privacidade. – Kiri se "despediu" antes de partir junto do loiro acinzentado.

– Foi mal, não sinto o mesmo por você, mas espero continuarmos amigos. – Enfim saí da inércia dando minha resposta a Hitoshi que me olhou mais como se me pedisse perdão também, talvez pelo clima que criou com meus melhores amigos, do que com tristeza da rejeição. – Espera! – Por fim, devolvi o cartão a Shinso e corri apressadamente atrás dos meus vizinhos.

Os alcancei no caminho para o estacionamento que, para minha sorte, estava vazio. Eles estavam mesmo pensando em ir para casa?

– Não vão me abandonar no meu aniversário, né? – Manifestei ignorando o olhar de aviso que Eijiro me exibiu indicando que era melhor eu os deixar um tempo sozinhos até possivelmente Katsu se acalmar.

– Foda-se você e o seu aniversário! – O tal explodiu comigo.

– Bakugo. – O ruivo o repreendeu.

– O quê? Ele mentiu pra gente esse tempo todo! – Katsuki bradou furioso. – E aparentemente pessoas que ele acabou de fazer amizade o conhecem mais do que aqueles que ele intitula como seus melhores amigos.

– Eu não menti! – Me defendi com firmeza, mas logo fiquei vacilante e diminuí o tom: – Só omiti.

– Ah, é? E o que exatamente você omitiu? – O loiro me perguntou cheio de cinismo. – Anda, eu quero ouvir você falar.

– Que também me atraio por garotos. – Confessei acanhado perante o seu requerimento. – Sou bissexual.

– E que tinha mesmo algo rolando entre você e o Cara de Insônia. – Ele afirmou utilizando com desdém seu apelido para Shinso. – Ou era com o Yuga? – Questionou petulante assim que eu neguei com a cabeça sua alegação anterior.

– Não! Os dois são só meus amigos, senão eu não teria o deixado agora pra tá aqui tendo essa discussão com você. – O calei com esse lógico argumento.

– Desde quando você sabe que é? – Eiji fez sua primeira pergunta acerca de algo, a princípio, mais ameno. – Que se descobriu e tal?

– Desde o ano retrasado... – Murmurei envergonhado, porque realmente tive muito tempo para os contar.

– E toda aquela história de que compartilhamos tudo um com outro? Você não era o maior a favor dessa causa? Então, quando pretendia nos falar sobre isso? – O ruivo foi apontando minha hipocrisia. – Estamos chateados principalmente por você ter ouvido da gente, mas não ter sido sincero sobre você também.

– Tava esperando o melhor momento? – Respondi incerto. – Sei lá, não achei que cabia em nenhuma outra conversa.

– Qual é? Seu crush teve que nos dizer por você! – Estressado, Bakugo persistiu na tecla do Hitoshi. – Qual outro momento ideal você teria pra isso do que quando a gente literalmente se assumiu pra você? Não foi incentivo o bastante?

– Não sei! – Eu sabia sim, mas não queria admitir que foram os meus sentimentos, além da amizade, por eles que me impediram de ser verdadeiro quanto aquilo. – Acho que não quis tirar o foco de vocês naquele dia, aquele era o momento de vocês.

– Ia nos deixar mais relaxados se soubéssemos que você também tava nessa. – Kirishima reforçou.

– Mas eu não tava pronto ainda pra sair dessa! – Apelei para a sensação que também lhes era familiar.

Por Que Três É Demais?Onde histórias criam vida. Descubra agora