Cap.13 - Parte III

108 15 22
                                    

Nesse clima de paz passou-se mais umas semaninhas; Bakugo nos assumiu para seu pai (que chorou de emoção) e as provas, mais a parte acadêmica do Ensino Médio, enfim acabaram de vez. Restavam então os eventos cerimoniais de encerramento do colégio e chegarem as cartas de aceitação ou recusa das faculdades, o que aguardávamos ansiosamente.

Até que em uma tarde, a espera por fim se encerrou:

– Chegaram! – A Senhora Kirishima bradou exasperada, entrando na casa, assim que pegou de sua caixa de correio as temerosas correspondências. – Os três puseram o endereço daqui nas inscrições? – Estranhou.

– Sim, pra recebemos juntos! – Eijiro respondeu, tão agitado quanto sua progenitora, enquanto corríamos em direção a mulher.

– Isso explica porque vocês todos só têm estado aqui esses dias.

– Mãe! – O ruivo a reprovou, tomando de suas mãos os envelopes que ela já ia abrindo impaciente ao mesmo tempo em que falava conosco.

– Desculpa. – Dona Shima pediu, contendo sua expressão para não nos revelar o conteúdo dos documentos antes que víssemos por nós mesmos. E logo que cada um leu o seu, ela exclamou contente: – Meus parabéns!

— Graças a Deus me deram a bolsa. – Kiri estava aliviado.

– Eu sabia que meu garotão conseguiria, os olheiros nem precisaram assistir ao seu último jogo. – A mulher o elogiou orgulhosa.

E então, passado o êxtase com eles próprios (era mais que certo Bakugo entrar, com este ninguém ficou preocupado), os dois rapazes me olharam aflitos por eu ser obviamente o da corda bamba.

– Agradeçam a recomendação de Mic, porque eu também fui aceito! – Ostentei feliz minha carta de aprovação. – Ou a dislexia me ajudou em algo, na entrevista, afinal. Sabe, a história de desafios e superação por ter dificuldade em leitura e escrita, mas escolher seguir isso como profissão parece ser realmente comovente. – Eles sorriram pra mim, o sorriso enorme de Eiji e o mais aberto que já vi Katsu dar.

– Ai meu Deus, a gente vai mesmo morar junto! – O ruivo proclamou entusiasmado, como se o apartamento que já estava com a documentação toda pronta e certa para alugarmos só tivesse se tornado real naquele momento. – Quer dizer, eu não duvidava que conseguiríamos entrar na mesma Universidade... talvez um pouquinho, mas tipo, confesso que a remota possibilidade de ficarmos distantes me assustava.

– Tá mais animado com isso do que com a grande oportunidade que obteve passando em uma faculdade de prestígio? – A matriarca brincou rindo. – É o meio para o diploma de trabalho e bom salário do resto de sua vida.

– Nossa relação também é pro resto da vida. – Eijiro apontou entre mim e o outro loiro.

Não sei se ele disse aquilo sem pensar direito ou se foi intencionalmente seu modo de indicar à mãe a verdadeira natureza de seu relacionamento conosco. De qualquer forma, na hora eu não fui capaz de decidir se encarava meticulosamente a reação da mulher ou se lançava um olhar bobo para o filho dela por conta de seus longos planos com a gente. E acabei não fazendo nenhum dos dois.

– Sim, é um ótimo bônus poderem continuar juntos, é tão linda essa sua amiza... – Dona Kirishima só reparou no subtexto da frase dele quando o próprio contorceu o rosto para a palavra que ela usou inacabadamente. – Vocês? Finalmente? – A expressão de Eiji respondeu tudo e a mulher apenas o abraçou amorosamente, sendo sensitiva e compreensiva como o esperado almejado. – Nesse caso essa mudança já é um passo de casamento hein. – Descontraiu nos arrancando risinhos no meio daquele instante emotivo.

– Eu sempre quis te contar, mãe. – O ruivo, sensibilizado, praticamente se sentiu obrigado em justificar seu "atraso" de se assumir a ela. – Só não sabia como.

– Tudo bem meu amor, eu entendo. – De repente, a Senhora Shima enrijeceu a postura e seu semblante adotou uma feição de tentando tomar coragem: – Eu mesma enrolei também por, não sei, apreensão das coisas mudarem? – Não sei os outros, mas eu fiquei bem confuso quanto aquilo. Seria enrolar de o questionar? E, como ninguém disse nada, ela prosseguiu acanhada: – Vocês não são os únicos LGBTs da casa... – Dessa vez, eu tive sim uma ideia do que minha sogrinha queria dizer. Porém, assim como meus namos, fiquei paralisado por um tempo com aquela informação. – Jura que não suspeitaram nem um pouquinho dos meus "chás" com a vizinha? Que heteronormativos vocês são. Ou estavam muito absortos em suas próprias questões pra notarem?

– A vizinha dos gatos! – Gritamos em uníssono a deixando ainda mais vermelha.

Bom, eu gritei "solteirona" no lugar de "vizinha". Mas imediatamente corrigi: – Que tá longe de ser solteirona, pelo visto.

– Eu vou ter outra mãe? – Kiri indagou mais emocionado do que quando eu me declarei retribuindo os sentimentos dele.

– Sim, acho que já é hora de introduzí-la devidamente a essa família. – A mulher sorriu e daí se sucedeu uma extensa conversa de como aquele romance aconteceu.

Naquela noite, tivemos um jantar de apresentação da namorada ao seu enteado. E dessa maneira Eijiro adquiriu mais uma parentela: uma madrasta, daquelas boazinhas.

As coisas não poderiam estar indo melhor. Cruzando os dedos para não ser o prenúncio de tudo degringolar. Já passamos por essa parte, não?

E no fim daquela semana, para fechar com chave de ouro, teríamos no sábado o nosso baile de formatura e no domingo o último jogo colegial para os formandos do time de futebol americano da escola.

Por Que Três É Demais?Onde histórias criam vida. Descubra agora