Cap.3 - Parte II

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– PIKACHU, Ei-chan, Suki! – No mesmo instante em que o sinal do início das aulas soou e os corredores começaram a esvaziar, com os alunos se dirigindo à suas respectivas salas, Mina apareceu gritando, escandalosamente alegre como é de seu feitio, fazendo Bakugo fechar a cara em desgosto pelo uso de seu segundo apelido mais odiado. No meu caso ser comparado ao melhor e mais fofo pokémon é um elogio.

– Chegando em cima da hora no primeiro dia? – Zoei de brincadeira já abrindo um sorriso de orelha a orelha e indo até ela para um abraço de reencontro.

– Saudades de você também! – Foi tão dramática que faltou chorar enquanto me sufocava em seus braços.

– Cadê o Sero? – Perguntei ao me desvincular dela.

– Foi direto pra sala. – A rosada respondeu como se aquilo não fosse nada demais.

– Cretino, não veio nem falar comigo primeiro! – Me fiz de indignado, mas magoou um pouco sim (sou sensível mesmo).

– Ele disse que te vê no intervalo.

– Só até lá? – Fiquei real chateado agora. – Não temos nenhuma aula junto antes?

– Acho que não, eu pego o Aizawa com vocês. – A latina informou, me fazendo lembrar que eu não sabia ainda minhas turmas desse ano.

– Nem vimos nossa grade.

– Correção: você não viu. – Sempre prevenido, Bakugo se meteu me exibindo uma folha com nossos horários impressos.

– Meu herói. – O agraciei e... tô vendo coisas ou o senhor rabugento ruborizou levemente? Ai que fofo, foi só eu ficar longe pro amolecer o coração.

– Vamos logo também pra nossa sala, gente. Não seria nada másculo chegar atrasado e tomar falta já na primeira aula do ano. – Preocupado, Kirishima se fez presente novamente nos advertindo. Eiji e sua mania de usar a palavra "másculo" como sinônimo pra tudo que ele julga como bom, não faço ideia da onde o ruivo tirou aquilo (deve ter sido por convivência com os héteros top do time).

– Qual é o professor agora de vocês? – Ashido questionou.

– Mic. – Afirmei ao olhar o papel de Katsuki. Como tem espírito de velho, pra que imprimir uma coisa dessas que dá para facilmente só ter em digital?

– Ah, tá de boa então, ele nem faz chamada. – A garota nos tranquilizou. – Eu que preciso ir já correndo que tenho Midnight, nos vemos em história! – Se despediu ao passo que se apressava para sua turma.

Também aceleramos pro lado oposto do dela, seguindo nosso caminho para a aula de inglês. Começamos bem, essa é uma das poucas matérias que não costumo ficar de recuperação e o prof. Mic é super gente fina. Ele tem aquele humor de tiozão que todos os alunos acham vergonhoso, mas que me faz rir de tão ruim que suas tiradas são.

Chegando na sala só deu tempo de sentar em nossos lugares habituais. Eu sempre quis ser da turma do fundão, porém Bakugo, sendo o cdf que é, gosta de ficar na frente. Então, desde o oitavo ano, entramos em um consenso de optar pelo meio termo, que é literalmente as cadeiras do meio. A aula, que foi basicamente só conversa sobre o verão de cada um (tava certo do meu ser o pior), passou rapidamente e em seguida fomos pra infernal de matemática.

Claro que a prof Mt.Lady nem sequer ligou de ser o primeiro dia, e nem sua beleza me espaireceu, já que ela logo iniciou tacando conteúdo que aparentemente tem ligação com a matéria do sexto. Fala sério, colé dessas acumulativas? Cada vez mais só dá pra entender e resolver os problemas tendo a base dos outros anos. Gente, meus divertidamente fazem repaginada do que vão reter e excluir todo mês e eles sempre priorizam conhecimentos inúteis em detrimento dos acadêmicos. Mas como sempre dá pra piorar, a terceira aula conseguiu superar no sofrimento graças ao Aizawa.

Tinha me animado temporariamente por reencontrar com Mina, até guardei um lugar para ela próximo da gente, mas o Senhor Shota fez questão de eliminar todo o meu reabastecimento de energia. O que aconteceu foi: enquanto ele não começava a aula, eu >e mais vários< continuei com conversa paralela. Normal, porém o professor decidiu já me dar bronca. E seletivamente só pra mim, mesmo que outros estivessem falando até mais alto do que eu.

– Kaminari, pode vir sentar aqui na frente. – Foi a primeiríssima coisa que Aizawa disse desde que entrou na sala. Cara eu não tenho nada contra ele, mas isso só pode ser marcação.

– Precisa não profe, eu vou ficar quietinho. – Depois do choque inicial da puxada de orelha, fui capaz de enunciar em minha defesa com um sorriso seguro tentando o persuadir a reconsiderar.

– Vou ter que pedir de novo? – Mas claro que ele permaneceu impassível.

Meu brilho sumiu à medida que ouvia os outros ao redor dando risinhos mal contidos pela minha desgraça. Isso é tão humilhante, não se faz mais mapa de sala no último ano por uma razão, como Aizawa pode continuar me tratando como se eu ainda estivesse no ensino fundamental?

Mesmo puto, fiz o que ele ordenou porque não queria arriscar ser mandado pra diretoria. Juntei minhas coisas, envergonhado demais para dar uma olhada em qualquer um de meus colegas; fui até a carteira indicada pelo professor, que era bem de cara com ele inclusive; me sentei expondo uma feição amarrada pro mais velho, que apenas acenou para mim em troca (seja lá o que aquele gesto significava); e enfim, Aizawa iniciou sua lição de alguma parte chata da história americana.

No decorrer da aula, que fiquei a maior parte brincando com minha caneta, fui chamado a atenção de novo (dessa vez por meio só de um assovio) quando juntei coragem e virei o rosto pra trás de fininho dando uma espiada em meus amigos. Logo tive que voltar o olhar para o quadro ao ser pego no flagra, mas a bisbilhotada foi por tempo o suficiente pra pegar ambos, Bakugo e Kirishima, com a cabeça e mãos abaixadas, ou seja, estavam mexendo no celular, muito provavelmente mandando mensagens um pro outro. A concepção daquele >suposto< fato, mais nenhuma vibração de notificação em meu próprio celular, foi como levar uma facada.

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