Cap.9 - Parte I

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No dia do date nos encontramos no local marcado, um novo café temático geek com karaokê em nossa cidade. Quando eu cheguei Yuga já estava lá (ele devia ter se adiantado de tanta ansiedade), mas os nossos acompanhantes ainda não estavam presentes.

– Finalmente! – O francês exclamou no momento em que me viu. – Ai Denki, não tinha nenhuma roupa melhorzinha não? – Questionou com uma careta julgadora. – Você vai pro colégio com esse look. – Reclamou do meu visu simples de camisa larga de banda e calça jeans folgada com corrente solta na lateral (hoje fui inspirado pelo armário de Bakugo).

– Sim e eu vou bem vestido pra escola, obrigado. – Respondi ultrajado e me sentei no assento em sua frente da mesa encostada na janela que meu amigo havia escolhido.

– Mas em um encontro você deveria ir mais que bem vestido, principalmente no primeiro. – De fato o loiro perolado deve seguir essa mentalidade, considerando a make pesada de casamento que ele usava e sua veste que parecia ter sido tacada em um tanque de glitter de tão brilhosa. Era um visual mais chamativo do que os seus de balada, ou talvez eu que nunca tivesse reparado na extravagância das vestimentas de noitadas dele por conta do escuro dos lugares que íamos. – A primeira impressão é tudo, mon amour. Disse que podia te emprestar alguma coisa minha já que se recusou a ir às compras comigo. – Fez questão de me lembrar mais uma vez de seu desapontamento por eu ter rejeitado seu convite para uma volta no Shopping, mas ele logo se distraiu em seu próprio senso de estilista fantasiando uma transformação minha em seus trajes: – Com certeza caberiam em você, se não se importar com roupa justa. Eu até tenho alguns pares de conjuntos iguais só que de cores diferentes – que burguês –, imagina como seria fabuloso a gente vir combinando!

– Nem sonha, nós que pareceríamos o casal se viéssemos assim. – O retornei à realidade.

– Que nada, isso é coisa de irmão. – O sorriso dele permaneceu. – Aposto que nos confundiriam com gêmeos.

– Ok, mas acho melhor como tá. – Continuei sustentando meu look senão daqui a pouco o loiro de olhos claros nos faria dar uma passada na casa dele para eu trocar de roupa. – O seu estilo é bastante diferente do meu e eu não gostaria de fingir ser outra pessoa justo no primeiro encontro.

– Como assim? Isso é o básico pra se conquistar alguém. – Não sei se ele tava brincando ou falando sério, o conhecendo tinha chance de ser qualquer um dos dois. – Enfim, o que quero dizer é que você poderia ao menos se esforçar: nem repintar essas suas unhas desbotadas você fez e bem que podia variar um pouco nas cores dos esmaltes, né.

– Talvez se eu soubesse com quem vou ter esse encontro e já tivesse interesse nele eu me dedicaria mais. – Tirei minhas mãos das dele que o intercambista havia pego para conferir de perto minhas unhas deixadas por fazer.

– Se esqueceu do terceiro e último passo do nosso método de superação? Cê já tá pronto pra avançar pra essa etapa. – E quando pensei que Aoyama estivesse mais nessa por si mesmo ele volta a seu papel de mentor. Ou quem sabe o francês só usou aquilo como justificativa para me manter ali o ajudando com seu date. – Veio a hora de você, pra seguir em frente de verdade, ter uma conexão emocionalmente mais profunda com outra pessoa, do que casos de uma noite, e esse encontro é uma grande oportunidade pra tu tentar isso. – Antes que eu conseguisse rebater, os dois, que estávamos aguardando, por fim chegaram. – São eles! – Yuga proclamou eufórico, os vendo entrar juntos no estabelecimento. – 8 minutos atrasados, mas antes tarde do que nunca. – Comentou ao dar uma olhada no relógio de ponteiro da parede do lugar (que inveja dele ainda saber fazer essa conta dos ponteiros), enquanto eu verificava nossos acompanhantes.

– Espera, aquele é o Sato? Sabe, o cara que fez parte do meu grupo no ano passado, mas aí reprovou e optou por mudar de escola. – Era estranho revê-lo naquele contexto, mas pelo menos isso significava que nossos pares eram de nossa idade. – Perdemos o contato desde então.

– Pois é, ele mesmo. – Seu suspiro me indicou que (para o meu alívio) Rikido seria o date de Aoyama. – Eu era praticamente stalker dele, porque né, atende ao meu tipo como você bem sabe. – Me fofocava discretamente ao passo que fazia gestos para atrair a atenção dos dois e os chamar para nossa mesa. – Fiquei tão deprimido por ele ter trocado de colégio antes de eu dar em cima, mas graças as redes consegui me conectar com o homão.

Quando eles se aproximaram nós todos nos apresentamos e nos cumprimentamos, aquela coisa toda de saudações e tal. Nisso, o mistério foi cessado de vez e eu enfim fui introduzido ao meu par: Ojiro, era o nome do rapaz. Sobrenome, na verdade. Outro "jiro" e loiro em minha vida (mas esse era loiro mel, se isso faz alguma diferença).

Após um tempo, com nós quatro juntos numa mesma mesa, Yuga "sugeriu" >demandou< que cada dupla ficasse em uma mesa, para termos nossos momentos a sós de casais sem que as conversas se colidissem. Isso porque eu estava desviando muito a atenção de Sato para as memórias dele no Baku Squad.

A partir daí o encontro se transformou em uma entrevista, com direito a listagem de coisas favoritas como cor e essas trivialidades. O que me intrigou foi seu animal preferido ser o canguru, apesar dele nem ter nenhum parentesco australiano.

E, com a abertura da clássica pergunta do "me conte mais sobre você", praticamente só falei de meus melhores amigos já que os dois estavam presentes na maior parte de minha vida. Mau sinal passar um date apenas dissertando sobre outros caras, né?

Mas o que podia fazer se a cada instante do encontro eu me distraía pensando em Katsuki e Kirishima, que eles iam adorar aquele café e eu tinha que os levar lá um dia. Ojiro ainda deu uma de psicólogo pra cima de mim, partindo desse meu falatório, e me questionou se a minha codependência com meus vizinhos era um reflexo da ausência de meu pai, que como os dois eram só o que eu tinha durante meu crescimento acabei me agarrando muito a eles.

Depois desse baque de meu daddy issues ser trazido à tona de repente e imprudentemente, o loiro mel percebeu ter cruzado uma linha talvez um cadinho rápido e longe demais. Então, tentando quebrar a tensão que se instaurou no clima, foi a vez dele de discursar sobre si. Escolha inteligente já que eu não voltaria a abrir a boca tão cedo depois daquela (vey, o cara conseguiu fechar a minha matraca).

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