Cap.2 - Parte I

243 31 41
                                    

O fim de semana passou mais rápido do que normalmente e, pela primeira vez, não achei aquilo tão ruim por estar animado para voltar à escola (meu Deus, o que eu me tornei?).

No sábado, passamos o dia todo fora curtindo. Passeamos no Shopping, só pra bater perna mesmo; jogamos no fliperama, até nosso dinheiro acabar; demos uma passada em um skatepark, pro Bakugo se exibir; e por fim lanchamos no meu restaurante favorito, o Mc Donald's.

No domingo, caseiro como esse dia é, não saímos da casa de Kirishima. Desde que só há a Senhora Mitsuki na casa do loiro acinzentado, Katsu não gosta de irmos muito lá. E eu até ofereci irmos pra minha, já que meu pai mal fica em casa, mas os outros dois acharam mais simples continuarmos na casa do ruivo, por já termos nos estabelecido lá desde sexta quando voltei.

Passamos o dia apenas relaxando e maratonando as temporadas, que saíram nas férias, das séries que acompanhamos juntos. Eu diria que esse final de semana foi maravilhoso, principalmente por enfim ter um tempo prolongado com eles depois de meses separados, mas não foi perfeito porque os senti meio distantes, como se estivessem se monitorando ao meu redor pra não deixarem escapar algo que eu... não deveria saber? Sei lá, muito provável que seja só paranoia minha.

E quando a tão aguardada segunda chegou, iniciamos aquela manhã acordando com o despertador. Quer dizer, Bakugo já devia tá levantado como sempre; Eijiro foi depois de pedir ao aparelho umas duas sonecas de 5 minutos e eu, como normalmente, tive que ser chacoalhado pelos dois. Então, vestimos as roupas que tínhamos ali e aprontamos nossas mochilas.

Nós três vivíamos quase em uma comunidade comunista: os quartos um dos outros já eram nossos quartos em geral; só sabíamos que roupa era de cada, originalmente, pelo tamanho; etc. Resumindo, não precisávamos ficar buscando e levando nossas coisas pra casa um do outro, em cada residência já havia um armário inteiro dedicado a cada um.

Aí, retornando ao presente, eu escovei meus dentes antes do café porque era desses (Kiri é um econômico também que só escova após comer e Bakugo é o maníaco que escova antes e depois).

E, a julgar pelos cabelos molhados, eles devem ter tomado banho enquanto eu ainda estava no mundo dos sonhos. Se não quisesse chegar atrasado, não daria tempo de eu tomar um também. Sim, sou daqueles que não consegue levar menos de 20 minutos nem se não for lavar a cabeça. Mas dane-se, tinha preguiça mesmo de ter todo esse trabalho só para ir pra escola, nada que um perfume não resolva.

– Bom dia, meninos! – A mãe de Eiji nos cumprimentou sorridente quando a encontramos na cozinha.

Ela estava nos preparando um clássico café da manhã americano: repleto de ovos e bacon, para quem era mais de salgado; e panquecas e waffles, banhados no mel, pra quem era dos doces.

– Ah, tia! – Minha barriga roncou na hora, ao mesmo tempo que meu coração se apertou pela dedicação dela. – Não precisava, isso tá melhor do que tive na viagem toda.

– Seu estômago diz o contrário, querido. Eu imaginei que ainda estivessem aqui e tinha que no mínimo alimentá-los bem para o grande dia. – Essa mulher é um amor, já disse de quem Kiri puxou o jeitinho carinhoso de ser? E pensar que acho que tive um crush nela naqueles tempos confusos de afloramento...

– A gente já é crescidinho mãe, podemos preparar nossa própria comida. – O ruivo retrucou a matriarca. Quem que se intitula crescido e fala "crescidinho"? Só Eijiro mesmo.

– Ainda que eles já sejam da casa, não deixam de ser hóspedes e devem ser tratados como tal. – A mãe dele revidou, querendo ser uma boa anfitriã. – E se eu deixasse isso pra você, teria os feito aquelas vitaminas horríveis de crossfiteiros.

– Confesso que senti saudade desse clima familiar. – Não pude deixar de rir da patada e careta da mulher aos hábitos alimentares do filho. – E da sua comida, Dona Kirishima.

– Deixa de formalidades garoto, vem cá! Nem te recebi direito desde que chegou. – Ela me puxou para um abraço afetuoso igual ao do ruivo, aquecendo ainda mais meu coração. – Todos aqui sentimos muito a sua falta, esses dois te disseram isso?

– A senhora não conseguiu falar com ele direito antes porque tem chegado tarde todos esses dias, né. – Eijiro alfinetou desviando da pergunta da mãe.

Às vezes ele era protetor até demais, tá aí outro motivo dos homens nem se aproximarem da mulher quando Kiri está por perto. Desde que ele começou a malhar e ganhar músculos se tornou bem intimidante pra quem não o conhece.

– Voltei a ter noites das garotas, só isso, a vizinha que me chamou. – Usou a cartada da vizinha para desarmar o ruivo.

Todos nós gostamos da solteirona dos gatos. Talvez só Katsu que não, porque ele não gosta de ninguém (tirando, é claro, seus melhores amigos). Ela é uma das únicas, se não única, do quarteirão que não nos acha uns "encrenqueiros" puramente por sermos adolescentes. Somos os únicos jovens que sobraram, os outros eram um pouco mais velhos que a gente e já tem um tempo que se mudaram pra faculdade, o que restou agora foram os idosos e casais com crianças ou bebês.

– Não é porque sou velha que não posso mais curtir, como vocês jovens dizem. – A Senhora Kirishima continuou listando seus pontos válidos. – Pensei que, como agora vocês são grandinhos e podem se cuidar, não teria problema.

– É, não posso argumentar contra isso. – Eijiro cedeu e sorriu amoroso quando sua mãe lhe deu um beijo na testa.

O ruivo se encaminhou então para a mesa. Eu fui atrás notando que Bakugo já estava sentado, desfrutando da comida e tomando o seu típico café amargo (Kiri é o que, se tomar, tem que ser com muito açúcar e eu sou o do café com leite, de preferência só o leite).

– Vocês avisaram seus pais que estão aqui? – A mãe de Eiji questionou preocupada para mim e Katsuki.

– Já podemos nos cuidar, como a senhora mesma disse, não precisamos mais ficar dando satisfações. – Ouvi a voz de Bakugo pela primeira vez no dia, ainda estava meio rouca de sono.

– Ainda são menores de idade. – A mulher contrapôs.

– Eu não. – O outro loiro lembrou dos nossos meses de diferença.

– Ah meu Deus é mesmo, você já fez dezoito Katsuki! – Ela arregalou os olhos, chocada ao recordar. Eu ainda não podia acreditar que perdi o aniversário dele nas férias (vídeo chamada não é a mesma coisa)... – Eu tô mesmo envelhecendo. – Lamentou e se virou para o filho com a cara toda manhosa. – Meu bebê é o próximo!

– Mãe! – Eijiro resmungou de boca cheia enquanto a mulher o agarrava.

– Mas Den Den, nosso caçulinha, seu pai sabe onde você está né? – A Sra. Kirishima se voltou novamente a mim ao soltar o ruivo.

– Isso importa? Ele só nota que eu não tô em casa depois de uns dois dias que eu já tô fora, aí ele assume que eu tô aqui ou na casa do Kats e nem checa pra ver se eu realmente tô ou, sei lá, fui sequestrado. – Assim, eu devia avisar, mas meu pai nem se deu o trabalho de me mandar uma mensagem perguntando meu paradeiro, então presumi que não era necessário.

– Eu disse para o adotarmos, Denks já devia ter se mudado permanentemente pra cá. – Eiji riu, claramente forçado, tentando amenizar o clima.

– Deixa que eu ligo pro Senhor Kaminari. – A mulher respondeu séria. – Tenham um bom primeiro dia, rapazes! – Ela nos desejou, retornando à sua áurea feliz, e sumiu para dentro da casa enquanto a agradecíamos.

Por Que Três É Demais?Onde histórias criam vida. Descubra agora