Cap.4 - Parte III

168 27 40
                                    

– Tem mais uma coisa, na verdade. – Eijiro anunciou voltando a ficar ansioso.

– É sério que quer expor até isso? – Por fim se sentando, ao lado do ruivo, Bakugo o indagou evidentemente indignado.

– Kami nos falaria se fosse com ele. – Já é a quarta vez no dia que os dois trocam esses diálogos como se eu não estivesse presente ali também, mas quem tá contando não é mesmo? – É algo que se comenta com os amigos íntimos e eu preciso que ele saiba senão vou me sentir mal por estar escondendo isso dele.

– Faça as honras então. – Kats cedeu diante do apelo do ruivo, mas não deixou de debochar: – É capaz dessa vez?

– Nós dormimos juntos. – Firmemente, Kiri informou de imediato.

– Que belo jeito de dizer que trepamos. – Bakugo zombou, possivelmente para encobrir sua timidez a julgar por suas bochechas levemente coradas.

– Pera, vocês perderam a virgindade um com o outro?! – Bradei em choque me sentindo traído outra vez, agora pela descrença deles terem feito antes de mim e por não ter sido comigo.

– Eu sim, ele não. – Eiji entregou sem pudor.

– Eu sabia! – Acusei o loiro acinzentado. – A sua foi na viagem do verão passado, não foi?

Quando Bakugo retornou de suas únicas férias longe da gente, ele agiu esquisito por umas três semanas e meu instinto me dizia que o comportamento estranho dele tinha alguma coisa a ver com sexo. De certa maneira não contrariava a minha teoria do assexual já que alguns aces também transam de vez em quando (sim, eu pesquisei a respeito para aprimorar minhas suspeitas). Talvez fosse minha mente poluída que me levou pra essa lógica, mas cara, ele foi para uma pousada de cabaninhas na frente de um lago e com cachoeiras pela região, todo mundo sabe o quanto esse cenário é sensual.

– Com uma tal de Camie, ou seja, uma mulher. – Amargo, Katsuki proferiu pausadamente. – Preciso dizer o quanto foi horrível? Sei que é difícil ter uma primeira vez decente, mas aquilo foi tão ruim que fez minha ficha despencar de uma vez por todas pra minha sexualidade. Vocês têm noção que eu tive que ir até a última base com uma garota pra aceitar esse fato? Eu surtei tanto que consegui obrigar a minha mãe pra voltarmos mais cedo daquela viagem.

– Ser cabeça dura dá nisso. – Ri fraco tentando descontrair.

Diferente de mim Kirishima sabia consolar e desse modo apenas passou uma de suas mãos nas costas de Bakugo, em um carinho de conforto e compreensão.

– Entãooo, vocês tão tipo... juntos agora? – Ver o desenrolar daquela cena me fez chegar em tal conclusão, mas que torcia que fosse mais uma de minhas más interpretações.

– Se estivéssemos o Cabelo de Merda diria dessa forma, invés de confessar que trepamos. – Essa frase de Katsuki deu o pontapé para uma D.R.

– Dá pra parar de usar essa palavra? – Eijiro pediu em aborrecimento com a feição se ruborizando de vergonha. – Não era você quem era contra se expor?

– Que diferença faz agora? Já fomos mais do que expostos, graças a você! – Kats o rebateu. – Quem tá na chuva é pra se molhar.

– Não sei se acredito. – Os interrompi, não convencido da resposta de Bakugo. – Isso me parece o jeito de vocês dizerem que estão juntos porque, sei lá, acham que assumir um romantismo entre vocês seria mais constrangedor do que confessar uma transa. – Afinal um namoro modificaria muito mais nossa dinâmica do que uma foda.

– Gays não se apaixonam por todo e qualquer outro gay, a gente só experimentou junto. – Eiji certificou. – De maneira estritamente casual. – Quando ele exagera assim geralmente é um sinal de fraude.

– E uma amizade colorida, tá rolando? – Ainda cismado, continuei com o interrogatório. – Ou foi algo único e exclusivo das férias?

– Não vamos te falar isso! Eu retiro o ditado que mencionei, Kirishima tá certo de já termos exposto o suficiente. – Katsuki se intrometeu antes que o ruivo pudesse responder. – Até porque sempre foi bizarro você detalhando pra gente cada fantasia hétero sua. E cê tem que entender que isso é um bagulho desconfortante independentemente das nossas sexualidades, não é porque somos melhores amigos que temos que compartilhar tudo! – Essa doeu. – Precisamos de privacidade também.

– Não temos, mas eu gosto e não acho estranho compartilhar essas coisas. – Murmurei ressentido. Se isso os incomodava tanto, por que eles nunca se queixaram disso comigo?

– Então você não se importaria se te contássemos como foi essa nossa experiência? – O ruivo me perguntou, meio acanhado.

– Bom, aí seria um pouco esquisito sim... – Receosamente fui sincero.

– Por ser uma relação gay? – Kiri questionou injuriado.

– Não! Por ser vocês dois juntos. – "Sem mim", queria dizer. – Tipo, eu ouviria de boa se fosse vocês com outros caras. – "Com muito ciúmes, mas ainda seria mais suportável", minha consciência teve decência de omitir essa parte.

– Nesse caso, não entre mais nos nossos quartos sem avisar se não quiser ter uma surpresa desagradável e embaraçosa. – Bakugo me advertiu em escárnio. Pelo visto era melhor devolver minhas chaves das residências deles.

– Acabou de confessar que estão mesmo tendo uma amizade colorida. – Retruquei no mesmo tom de desdém dele.

– De qualquer forma. – Eijiro interveio, prevenindo que eu e Katsuki criássemos uma desavença ainda maior. – Isso não muda nada entre a gente, tá? – Me assegurou, olhando bem em meus olhos. Ele tá de brincadeira? Isso muda tudo!

– Só não espalha, não assumimos nem pros nossos pais ainda. – Kats avisou sério.

– Óbvio, não cabe a mim dizer pros outros, eu jamais faria isso. – Garanti.

– Ótimo, tamo em paz então? – Kiri sorriu aliviado, já antecedendo que as coisas estavam esclarecidas e consequentemente resolvidas.

– Claro, tudo certo. – Confirmei sorrindo de volta forçadamente.

E assim, pelo restante da tarde, regressamos à nossa velha rotina costumeira. Os dois pareciam realizados por terem tirado aqueles pesos dos ombros. Por fora eu os acompanhei no mesmo ânimo, mas por dentro eu estava tendo uma crise com a sensação daqueles pesos sendo passados para as minhas costas.

Por Que Três É Demais?Onde histórias criam vida. Descubra agora