A boate gay de nossa cidade >devia ser a única desse tipo aqui< não era muito diferente da latina na capital, tirando que essa tinha uma área de cabines vips dentro do próprio estabelecimento para os clientes fazerem Deus sabe o que em privado. Até entendo a demanda já que não havia nenhum motel por perto dessa como na outra. As músicas eram majoritariamente em inglês ou coreano (aparentemente a comunidade LGBT é fechada com a Kpopper) e longe do DJ era mais silencioso, mas fora isso a estética das duas era basicamente a mesma.
Após uma meia hora no lugar, eu despistei Aoyama na pista de dança e fui para a área do bar. Mas só 5 minutos depois, quando o barman me entregou a bebida que eu lhe pedi, o loiro perolado me encontrou e tirou o coquetel de minhas mãos.
– Nada disso. – Soltei um som exasperado ao assistí-lo tomar de uma vez a minha Piña Colada. – O consentimento sóbrio conta mais. – Vendo que eu permaneci em choque, ele continuou: – Você já teve seu momento de bebedeira pós desilusão, agora o plano é seguir em frente com outro cara, tá lembrado? A missão pelo que viemos aqui? – Devo ter mostrado minha hesitação em meu rosto, porque Yuga logo adicionou em amparo: – Óbvio que você não tem que fazer nada que não queira, não precisa ser algo forçado, mas cê podia dar uma chance, acho que te faria bem.
– É só que... tô nervoso. – Confessei tímido. – Eu nunca fiquei com nenhum garoto antes. – Por isso a bebida, que infelizmente me foi arrancada.
– Mais um motivo pra você tirar o atraso. – Sua naturalidade insensível para o meu receio foi como um tapa. – Relaxa, não deve ser muito diferente de como é com garotas. Digo, na questão da paquera e beijo. – Isso ele presume né. – E estamos literalmente no local mais seguro pra tal, nenhum homem aqui vai se ofender, te humilhar e te bater se você der em cima dele. – Levou para o extremo, mas entendi seu ponto (o que funcionou em me acalmar um pouco). – Oh, aquele ali é perfeito, até lembra seus crushes. – Assumindo seu papel de wingman, o francês apontou para um moreno na outra ponta do balcão do bar.
– Não é pior que seja semelhante? – Lhe indaguei inocente ao ver o estranho que meu mais recente amigo indicou. – Vai me fazer pensar neles.
– É esse mesmo o objetivo do primeiro passo. – Algo me diz que foi o próprio Yuga quem inventou esse guia da superação que ele segue à tanta risca. – Só depois de pegar alguém parecido com sua paixão que você passa a ficar com pessoas completamente diferentes, como mulheres no seu caso. O processo de desvinculação acontece aos poucos e... – Aoyama parou de falar de repente, surpreso com algo atrás de mim que seus olhos claros captaram. – Oh mon Dieu, ele tá encarando a gente. – O tal moreno nos pegou o observando? – E agora tá vindo pra cá! – Na mesma hora desviei meu olhar do loiro para o lado oposto, subitamente espantado com aquela alegação. – Esse foi rápido, nem precisei arranjar pra você. – De fato não era uma pegadinha do intercambista, o homem realmente estava caminhando em nossa direção. – Ok, essa é minha deixa pra cair fora.
– O quê? Não! – Me desesperei agarrando o braço de Yuga antes que ele escapasse. – Vai me deixar aqui sozinho? Nem sabe se ele se interessou em você invés de mim.
– Por isso tenho que sumir logo pra ele não ter opção e sim, daqui em diante é só com você. – Que belo boa sorte. – Não sou da sua praia pra aceitar um ménage, então byeee! – E assim o outro loiro rapidamente se desprendeu de mim e desapareceu no meio da multidão na pista.
– Olá, gracinha. – O desconhecido anunciou ao me alcançar, logo em seguida da partida de Aoyama que ele nem demonstrou se importar. – É sua primeira vez aqui?
– Minha inexperiência tá tão óbvia assim? – Ri sem graça.
– Não, é que eu definitivamente me lembraria do seu rosto se já o tivesse visto. – Respondeu galante, pelo visto eu era o de seu interesse desde o início. Ou talvez ele só quisesse qualquer um. – Prazer, Yo Shindo.
– Denki Kaminari. – Com um ânimo menor, me apresentei também (deveria dar meu nome real? Bom, agora já foi) e estendi uma das mãos para o cumprimentar. Porém o rapaz, invés de apertá-la, a levou aos lábios depositando um beijo em meus dedos em um ato que internamente julguei como cringe, mas por fora lhe exibi um sorriso meigo pela atitude.
Daí, conversa foi e conversa veio. Dessa vez foi bom recordar de como foi nossas interações dialogadas e o que eu expus de mim, mas não teve nada marcante que mereça um detalhamento meu pra vocês. Trocamos apenas falas básicas de flerte e introduções pessoais para conhecer superficialmente um ao outro.
– Quer ir pra outro lugar? – Shindo propôs depois que o assunto morreu entre nós após uns vinte minutos de papo. – Minha casa ou sua?
Merda, se ele queria um local mais reservado do que as cabines dali era porque estava almejando mais do que beijos. Ou então era uma armadilha pra me sequestrar e vender para o mercado negro.
– Sua. – Acabei lhe dando esse voto de confiança por motivos de que, primeiro: se o moreno fizesse algo de mau, Yuga tava de testemunha que Yo foi a última pessoa a ser vista comigo; segundo: a depressão bateu e me disse que ser morto nem seria tão ruim, portanto o risco valia a pena; terceiro: perder o cabaço ainda era minha meta desse ano; e quarto: talvez o francês tivesse razão, eu só saberia se testasse os métodos do intercambista. – Pra não esbarrar com indesejados.
– Como assim? – Ele me perguntou genuinamente curioso. – Mora perto do ex?
– É, mais ou menos isso. – Era porque Eijiro e Katsuki, como meus vizinhos, poderiam nos ver (o que eu morreria se acontecesse) e também porque se Shindo visse o meu quarto ele provavelmente suspeitaria da minha idade.
– Que barra, decidido a minha então. – Antes de irmos, o moreno tratou de avisar: – Assim, eu moro numa república da faculdade então deve haver outros caras em casa, mas não se preocupe que meu quarto tem tranca, paredes grossas e será todo nosso. – Finalizou me lançando um sorriso malicioso.
– Beleza, na verdade ter outras pessoas na casa me deixa mais seguro de que você não é um psicopata. – Eu falei sério, mas essa minha declaração arrancou risadas de Yo.
– Não tenha tanta certeza, nada impede de sermos uma seita. – Ah, o humor dele é mórbido... Pelo jeito Shindo só se assemelha na aparência com meus melhores amigos.
Forcei um riso pra piada e enquanto o outro chamava um Uber, mandei uma mensagem para Aoyama o informando de que eu iria embora com o tal moço. Quando o carro chegou, recebi apenas um "divirta-se!", junto do emoji de diabinho, do loiro perolado.
Então é isso, que eu não broxe dessa vez.
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Por Que Três É Demais?
FanficQuem disse que mostarda, ketchup e maionese não combinam tudo junto? É a primária tríplice aliança, o equilíbrio perfeito de uma tiqueta. Digo, triqueta... tiquetra? Aquela desgraça do símbolo da trindade! É disso que tô falando, eu quero um poli e...