Cap.5 - Parte II

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Acabei dormindo muito mal e fui acordado ao som de incessantes notificações. Espreguicei a contra gosto e olhei meu celular me deparando com inúmeras mensagens de Bakugo e Kirishima, tanto no grupo quanto no privado, me perguntando se eu ia com eles ou não. Aparentemente desliguei meu despertador, porque já estava em cima da hora. Como ainda tinha que me arrumar, os avisei que eu pegaria o transporte escolar e eles poderiam ir antes sem mim.

Me aprontei às pressas e cheguei na escola no exato instante em que o sinal do início das aulas tocou. As primeiras passaram normalmente, sem ter muito a minha devida atenção (até aí nada de novo). E, quando o intervalo veio, puxei Mina novamente para falarmos a sós >leia-se longe do resto de nosso grupo< dessa vez, para não levantar suspeitas, na fila do lanche mesmo.

– Tava pensando da gente sair esse final de semana. – Murmurei meio acanhado.

– Para tudo. – Ashido se virou em choque pra mim. – Vão me deixar levar vocês pra boate?!

– Digamos que Kacchan e Eiji não precisam saber. – Mais porque eles são o maior motivo desse meu desejo, mas ainda bem que a garota pareceu associar apenas a parte deles serem contra esse tipo de rolê. – Eu sempre fiquei curioso pra conhecer essa tal balada que você toda hora faz propaganda e... tava querendo experimentar uns licores.

– Meus stories só pra amigos te alcançaram afinal. – Ela fez uma careta safada, contente com a conquista, e sem tardar começou a programar entusiasmada: – Procurou a pessoa certa, pode deixar que eu cuido de tudo. Vou ver com Hanta logo o esquema do passaporte – devia ser um código pra identidade falsa – e as passagens de ônibus – a casa noturna era na capital e não tinha como irmos de carro já que possivelmente nenhum de nós (capaz de Sero ir também) teria condições de dirigir na volta –, aí é só darmos um perdido nos dois caretas.

Se Kirishima e Bakugo descobrissem sobre esses nossos planos eles com certeza encheriam o nosso saco de que isso é errado e tentariam me convencer a mudar de ideia, mas o bom é que em hipótese alguma seria o contrário, deles querendo ir, o que me deixava mais calmo. Eu poderia dar perda total, por causa dos dois, sem ter eles presenciando a cena.

– Tô tão feliz que você finalmente se rendeu ao lado sombrio! Eu contava com isso na verdade, porque assim, dá pra sentir sua vibe festeira, que combina bem com a minha inclusive, mas algo te impedia de usufruí-la... – A rosada continuou a tagarelar até pegarmos nossa comida e nos juntarmos aos outros.

Durante o restante dos dias "úteis" daquela semana, fugi como um foragido de Katsu e Kiri. Não conseguiria os encarar e fingir que nada mudou, pelo menos não até ter o meu momento de espairecer daquilo (com muita bebida). Passei a perder a hora de propósito pra seguir indo com a topique pública pro colégio, invés de ir com eles, e na volta pegava carona com Sero.

Nas aulas ficava na frente; o recreio na biblioteca; as tardes e noites passava sozinho na minha casa, tudo com a desculpa de que abracei o conselho de Aizawa: precisava estudar e ia levar a sério dessa vez. Enquanto isso, Mina viveu nos céus por tanta animação com a preparação de nossa saída.

E então, sábado chegou enfim.

– Vai ser incrível! Cê vai amar o lugar. – No decorrer da longa viagem, uma ansiosa Ashido não parou de falar um segundo. – Te falei que é uma balada latina, né?

– Não. Tá explicado agora porque vocês dois gostam tanto dessa boate, a ponto de preferirem ir até a capital só por ela ao invés de simplesmente frequentarem uma na nossa cidade. – Refleti.

– Não notou as músicas no fundo de minhas postagens em vídeos? – A rosada me questionou julgadora.

– Pensei que você só gravasse quando botavam essas músicas, não que só tivesse essas músicas. – Me defendi. – Eu vou me sentir um peixe fora d'água? – Acabei soltando minha preocupação em voz alta.

– Que nada. – Hanta entrou na conversa, pra fazer a sua contribuição de crítica social do dia: – E se sentir vai saber como a gente se sente no dia a dia. Sabe, os imigrantes.

– Não era pra ser só dos latinos originalmente, mas uma coisa levou a outra. – Mina tratou de contar a história do estabelecimento: – É que os donos são brasileiros aí, desde que abriram, colocavam algumas músicas br pra tocar, nisso atraiu os hispânicos, que começaram a pedir sons em espanhol, e num piscar de olhos a comunidade tomou conta, não que outras etnias não possam frequentar... – A garota prosseguiu com o falatório até chegarmos lá.

A entrada foi fácil (fiquei nervoso por nada), pelo visto os contatos do colombiano para documentação falsa eram realmente bons. E olha, o espaço por dentro era que nem nos filmes. Já fui a festas baladeiras dos atletas de nossa escola, graças a Eijiro, que tinham bebidas contrabandeadas e tudo, mas elas nem se comparam com isso aqui. Se uma boate comum é assim, imagina uma casa de strip tease.

Tirando as luzes piscantes da pista de dança e a iluminação em leds neon na área do bar, o local era um breu. No centro do ambiente havia um amontoado de corpos se esfregando ao som do batidão. Os hits em espanhol só reconheci os do Daddy Yankee e as músicas em português Ashido disse que eram o que os brasileiros chamavam de funk. E mesmo mais afastado do DJ ainda era meio difícil de se ter um bate-papo.

Tendo nos estabelecido ao achar uma mesa vaga, Sero ficou guardando nossos lugares nela e Mina rapidamente me arrastou pra dançar. Ela de fato irradiava alegria por me ter ali, acho que a rosada aguardava por uma nova companhia pra tal a um tempo. Parecia desejar ser a madrinha de alguém pra essas coisas e, ao que tudo indica, eu era o melhor candidato a aprendiz dela já que a garota não conseguia convencer Hanta a fazer todas as suas doideiras. Acredite ou não, ele é o mais sensato de nosso squad, seria Eiji se o ruivo não fosse ingênuo demais e consequentemente fácil de manipular.

Com apenas alguns minutos de dança, me senti um lixo em comparação com os outros na pista. E isso porque até a pouco me considerava decente em remexer (devo ser só no nível branco, nesse parâmetro eles eram profissionais).

– Vou te ensinar a fazer quadradinho! – Ashido praticamente gritou no meu ouvido ao passo que ajustava sua roupa curta e apertada para me mostrar o movimento brasileiro.

– Talvez eu precise de uma bebida primeiro pra me aventurar a isso. – Atestei ao ver como se executava o twerk matemático.

– Sim, volte aqui quando estiver mais solto! Estarei te esperando. – Nem sei como ela me entendeu no meio de tanto barulho, mas contendo sua licença a deixei no bailado e me dirigi para o open bar (que era o que queria desde o início).

No balcão do bartender, sabendo que não sairia dali tão cedo, colei minha bunda em um dos banquinhos e fui experimentando todos os tipos alcoólicos disponíveis no estoque da casa. Tenho orgulho de dizer que sou forte pra bebida, mas bebi tanto como nunca antes que fiquei tão bêbado a ponto de começar a perder a memória.

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