prólogo

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Depois de se livrar de milhares de reais em joias incrustadas por pedras que Amália, com toda sinceridade, nem sabia dizer o nome, ela se levantou, apertou o casaco em volta do pescoço e ergueu sua mala

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Depois de se livrar de milhares de reais em joias incrustadas por pedras que Amália, com toda sinceridade, nem sabia dizer o nome, ela se levantou, apertou o casaco em volta do pescoço e ergueu sua mala.

Era melhor ir agora. Porque se ele a visse partir, sabia que o confronto seria inevitável. E talvez ela não conseguisse reunir forças para deixar aquele lugar outra vez.

Então ela andou por aqueles cômodos amplos daquela casa grande demais, quase como se desse um último adeus às coisas que tinha vivido ali. Sentia como um espectro vindo do outro lado, perambulando por um mundo que costumava ser seu, mas que já tinha deixado para trás. Quando viu seu reflexo na parede espelhada de uma das salas de estar, teve um daqueles momentos de epifania ao perceber o quão velha estava. O quanto já tinha vivido.

Talvez ela fosse mesmo um espectro. Ou talvez estivesse prestes a se tornar um.

Amália girou o anel dourado que levava no dedo anelar, distraída. Era a única coisa daquele tesouro escondido que não deixaria para trás. Ela se permitiu aquela fraqueza. Além do mais, olhando para o lado prático da coisa, o anel mal faria diferença no montante de dinheiro que as outras joias renderiam depois que as pessoas que realmente precisassem delas viessem buscá-las.

Então a senhora caminhou até o jardim da frente, cruzou o caminho de pedra que serpenteava e abriu o portão, arriscando um último olhar para a casa de dois andares que se agigantava como uma sombra escura e solitária em meio ao terreno ao redor.

Era aquilo, então. Tinha tentado. Tinha lutado. Mas não é porque estava velha - e, francamente, mais para lá do que para cá - que se contentaria com pequenas alegrias e grandes infelicidades.

Não. Ela tinha alguma dignidade, apesar de tudo. E estava indo embora.

Amália saiu pela calçada e fechou o portão atrás dela com um baque.

Ela tinha coisas a fazer. Muitas coisas.

Mas, primeiro, precisava escrever uma carta.

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