Devolver a chave de Samuel foi mais fácil do que pegá-la emprestada pela primeira vez. Isso porque no dia seguinte à extração (me recuso a usar a palavra roubo, por mais que seja assim que a minha consciência moralista insista em chamar o ato) fui até o chaveiro e consegui uma cópia menos de uma hora depois.Fácil assim, eu tinha uma passagem direta para dentro da casa dos Dutra. E pretendia aproveitá-la.
Quando coloquei a chave de volta no molho no próximo dia de trabalho, fiquei aliviada ao constatar que durante aquele tempo Samuel nem tinha sentido a falta dela. Ele não devia ir até a casa do avô com frequência, a não ser quando precisava saquear eletrodomésticos, é claro.
- Que milagre te fez levantar tão cedo hoje? - minha mãe perguntou no meu primeiro dia de invasão. Quer dizer, excursão.
- Vou comprar mais baldes - disse, o que não era necessariamente mentira. Tinha chovido a noite toda e outra goteira apareceu no corredor.
Minha mãe soltou um suspiro pesado e se sentou à mesa da cozinha.
- Será que demora muito mais para a época de chuva passar?
Dei de ombros.
- Quem sabe a gente não consegue arrumar o telhado antes disso?
Minha mãe sorriu, desanimada.
- Só se for um milagre.
Sorri e peguei um pão de queijo quentinho do tabuleiro que ela tinha acabado de tirar do forno.
- Milagres acontecem, mãe. - Principalmente quando você coloca as mãos em certas joias. - Até mais tarde.
- Leva um guarda-chuva!
Eu saí de casa e levantei meu capuz. Nos bolsos do meu moletom, a carta da minha avó e a chave para a mansão estavam bem escondidas.
Estava na hora de certa caça ao tesouro.
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Caça Tesouros e Amores
RomanceBianca levava uma vida confortável com a família na capital mineira: ela tinha amigos, estava certa que passaria na faculdade dos seus sonhos e não se preocupava nem por um momento que tudo pudesse ruir de repente. Até que aconteceu. Depois...