Tirei duas latas de cerveja do meu freezer e ofereci uma para Pedro. O relógio de ponteiro pendurado em cima da geladeira marcava mais de meia-noite. Eu estava exausto pelo trabalho no bar, mas satisfeito pelo modo como minhas mesas vermelhas e amarelas tinham ocupado boa parte da praça e um pedaço da calçada. Precisei ligar para o Pedro lá pelas tantas para ajudar Bianca com os pedidos. Ele apareceu menos de meia hora depois.- Eu teria enlouquecido se você não fosse você, cara - falei, me jogando no sofá da sala enquanto Pedro se esparramava na poltrona, abrindo a lata de cerveja. - Valeu demais.
- Era o mínimo que eu podia fazer depois de tanta bebida de graça e as noites que você me acolheu quando a Ju me botou pra fora - ele disse satisfeito. - Mas, só para você saber, a Bianca parecia estar dando conta. Ela é ótima com os clientes e muito rápida.
Sorri por sobre minha cerveja.
- Ela fica mais eficiente quando o trabalho acumula. Quando o movimento tá fraco é que eu custo a aguentar a falação dela.
Pedro ergueu as sobrancelhas para mim.
- Não parece que ela é um peso para você.
- Ela é, sim.
- Para de ser do contra, Samuel. Vocês se implicam como se se conhecessem a vida toda.
- E isso é bom?
- Não? Talvez? - Ele deu de ombros. - Ela é uma garota legal. Eu gosto dela.
Não comentei nada. O único som era aquele que vinha dos ponteiros do relógio.
Pedro tamborilou os dedos no braço da poltrona até, finalmente, falar o que parecia estar segurando desde que tinha começado aquela conversa:
- E ela é linda também.
Engasguei com a cerveja.
Tossi tanto que me curvei pra frente, buscando por ar.
- Opa, tudo bem aí?
Me recuperei e encarei Pedro por um longo momento até dizer:
- Você estava reparando nela? - perguntei.
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Caça Tesouros e Amores
RomanceBianca levava uma vida confortável com a família na capital mineira: ela tinha amigos, estava certa que passaria na faculdade dos seus sonhos e não se preocupava nem por um momento que tudo pudesse ruir de repente. Até que aconteceu. Depois...