- Eu espero que o prefeito não apareça por aqui - Bianca resmungou enquanto colocava caixas de cerveja para gelar no freezer. - Ele é um incompetente! O cara só tem um trabalho e consegue falhar até nisso.
Continuei lavando meus copos em silêncio, eu sabia que qualquer palavra que saísse da minha boca poderia e seria usada contra mim.
Eu duvidava muito que o único trabalho do prefeito fosse agilizar o acendimento das luzes de Natal na praça da Igreja matriz, mas faltavam dez dias para 25 de dezembro e os funcionários da prefeitura ainda estavam terminando de colocar os piscas-piscas nas árvores. Bia era apaixonada pelo Natal. Fui descobrir isso logo no dia primeiro de novembro, quando ela me acordou cantando All I want for Christmas is you a plenos pulmões e depois apareceu com uma árvore de plástico gigante que colocou na minha sala de estar.
Nossa sala de estar. A casa já era praticamente dela também. Eu tinha planos de chamá-la para morar comigo oficialmente depois que a bagunça da construção do restaurante e as reformas na casa do meu avô terminassem. Eu esperava mesmo que ela aceitasse.
- Isso é um absurdo - Bia continuou, depois de atender uma mesa perto da porta e dar o pedido para Hélio na cozinha. - Fala sério, a cidade vizinha fez até uma festa para o acendimento oficial das luzes! Você viu as fotos? Tá lindo!
Decidi não comentar que, na minha humilde opinião, o prefeito da cidade vizinha tinha exagerado um pouco nas luzes. O lugar mais parecia vômito de rena do Papai Noel. Eram tantos piscas-piscas que eu não duvidava que alguém acabasse ficando cego.
- Samuel, você está me ouvindo?!
Levantei os olhos do prato que estava enxaguando.
- Tô, sim. Você tem toda razão, amor. O nosso prefeito é um incompetente.
Bia estreitou os olhos para mim e colocou as mãos na cintura. O cabelo cor-de-rosa dela estava brilhante, tão lindo que me perguntei se ela tinha ido ao salão recentemente ou algo assim. Talvez não. Se tivesse, teria me perturbado perguntando o que estava diferente nela até eu acertar ou morrer tentando.
Ela veio buscar algo atrás do balcão e eu aproveitei para secar minhas mãos em um pano de prato e beijar a lateral da cabeça dela. Era uma quarta-feira qualquer e o movimento no bar estava fraco, o que nos deixava mais tranquilos e tinha reduzido a quantidade de desentendimentos de 43 por noite para uns 10. Ela só tinha me chamado de brutamontes cabeça-dura duas vezes desde que tinha chegado.
Era uma vitória. E eu era um homem que gostava de celebrar as pequenas vitórias.
- Aposto que quando você menos esperar, o prefeito vai acender as luzes - eu disse para ela, a abraçando pela cintura. - E vai ser lindo.
- É bom mesmo. Se não, eu vou ter que dar uma palavrinha com ele.
Fiz uma careta ao imaginar Bia invadindo o gabinete da prefeitura, os olhos em brasa e o dedo enfiado no nariz do prefeito, dizendo que ele estava acabando com o Natal dela.
Era um cenário perturbadoramente provável.
- Quando você vai me dizer o que quer de Natal? - ela perguntou pela terceira vez naquela semana. - Você tem que falar logo, Samu!
- Eu já disse que não quero nada.
- Samuel, você é irritante. - Ela se virou para mim. - Por que não consegue facilitar a minha vida e dizer algo logo? É tão difícil pensar em um presente de Natal para você! Precisa ser original, criativo, talvez útil...
Eu a puxei de volta de novo.
- Você é bastante original. E criativa. - Cheguei perto dela e fiz uma cara pensativa. - Quanto a útil... Depende muito do dia. Se você atendesse as mesas na mesma velocidade com que briga comigo, talvez...
- Cala a boca.
Eu ri e a soltei, deixando que pisasse duro para longe de mim só para vê-la se debruçar sobre o outro lado do balcão, o rosto a centímetros do meu.
- Na verdade, eu tenho uma ideia de presente, sim - ela disse. - Só preciso trabalhar na logística da coisa.
- Era para eu estar ansioso? - falei. - Porque essa sua cara de quem tá tramando algo só me faz pensar em rapto e tráfico de órgãos. Os meus órgãos.
- Ei, você é super saudável. Seus órgãos valeriam uma grana no mercado ilegal.
Bianca fez uma cara pensativa, como se estivesse avaliando quanto conseguiria pelos meus rins.
- Você é doida - eu falei. - Por que eu namoro com você mesmo?
Bia sorriu de um jeito radiante.
- Porque eu sou linda, inteligente, charmosa e irresistível?
- Você se esqueceu de colocar "humilde".
- A humildade já resplandece na minha pessoa.
Ri baixinho e fui cuidar das minhas coisas. Bia podia ser a mulher mais difícil da face da terra, mas era a minha mulher mais difícil da face da terra. E mesmo quando estávamos brigando - talvez especialmente quando estávamos brigando - tudo que eu queria era expulsar os clientes do bar e fechar nós dois ali dentro.
E eu não fazia ideia do que Bia estava planejando me dar de presente de Natal, mas seja lá o que fosse, eu estava sendo sincero quando disse que o melhor presente sempre seria ela.
Mariah Carey sabia exatamente o que estava falando quando escreveu aquela música, no fim das contas.
______________________♥️__________________
Oii gente!!
Eu sei que Caça Tesouros e Amores foi finalizado recentemente, mas eu estava com TANTA saudade desse livro! O fato de eu ter voltado para a minha cidade para as férias e a visto toda enfeitada de Natal, inclusive o bar que serviu de inspiração para o do Samuel (já mencionei que o Lambari existe na vida real?) me fez querer escrever sobre Bia e Samu.
Então, teremos um especial de Natal que será postado até dia 25 de dezembro, se tudo der certo <3
Fiquem ligados nas notificações para não perder nadinha.
Um beijo e até a logo,
Ceci.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caça Tesouros e Amores
RomanceBianca levava uma vida confortável com a família na capital mineira: ela tinha amigos, estava certa que passaria na faculdade dos seus sonhos e não se preocupava nem por um momento que tudo pudesse ruir de repente. Até que aconteceu. Depois...