Bianca levava uma vida confortável com a família na capital mineira: ela tinha amigos, estava certa que passaria na faculdade dos seus sonhos e não se preocupava nem por um momento que tudo pudesse ruir de repente. Até que aconteceu.
Depois...
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Eu tinha avisado.
Mas Bianca me ouviu?
É claro que não.
Eu sinceramente não me importava em ficar mais algumas horas no trânsito, contanto que a gente chegasse em casa sãos e salvos em algum momento. Mas a Bia não funcionava desse jeito. Quando algo surge para atrapalhar seus planos, ela toma qualquer decisão impulsiva que aparece primeiro para tentar chegar ao mesmo resultado sem maiores danos.
Agora o meu carro estava com danos.
E nenhum de nós dois estava nem são, nem salvo.
— Eu disse que pegar uma estrada de terra com essa chuva não ia dar certo — resmunguei, tirando o cinto de segurança com raiva.
— Não estava chovendo tanto assim quando eu peguei a estrada! — ela rebateu. — Eu só queria agilizar a viagem.
— E agora nós estamos no meio do nada, atolados e no escuro.
— Samuel, a gente vai dar um jeito.
— É mesmo? Se o seu jeito for me chutar daqui e me fazer empurrar o carro, pode esquecer.
Bia cruzou os braços.
— Não é uma ideia tão ruim.
Eu soltei uma risada que era mais um bufo do que qualquer outra coisa.
— Para você, só se for.
Ficamos ali, em silêncio. Ela desligou o motor e a luz dos faróis foi embora. Pela janela, eu não conseguia ver nada mais do que um pedaço de estrada de terra e o mato denso do outro lado.
Eu disse que o melhor era esperar a chuva passar um pouco, então podíamos tentar voltar para o asfalto. Bia estava encolhida no seu banco, o rosto voltado para a janela do motorista.
Suspirei.
— Bia? Eu sei que você não queria que isso acontecesse. Desculpa por...
— Eu tô vendo alguma coisa.
Parei de falar na mesma hora e cheguei perto dela, quase a amassando contra o banco.
— O quê? Onde?
— Ali. — Ela colocou o dedo no vidro da janela. — Tá vendo? São luzes. Pode ser uma casa.
— Ou pode ser a Luz da Chapada.
— Luz da Chapada?
Eu assenti.
— Você nunca ouviu falar? É uma lenda regional.
Bianca me olhou como se eu tivesse batido a cabeça.
— Você vai mesmo falar de lendas numa hora dessas?
— É um globo de luz que corre a uma velocidade impressionante. Sempre aparece nas estradas e matos do interior. Costuma surgir e queimar quem duvida dela.
