Eu estava num canto da cela minúscula que fica na sede da Polícia Militar em Santa Cruz. O lugar era frio e escuro e eu nem me dei ao trabalho de sentar na cama armada junto à parede, porque era só olhar pra coisa pra saber que ela desmontaria com metade do meu peso. Meu nariz ainda pingava sangue e os nós dos meus dedos ardiam pelos machucados.Era o fundo do poço, pra dizer o mínimo.
Mas pelo menos o cara a duas celas de distância da minha estava pior que eu.
Sorri quando ouvi uma tosse seca seguida por um gemido baixo.
Eu podia apostar que, pelo menos pelos próximos dias, Henrique se arrependeria de ter nascido.
— Isso não vai ficar assim, seu desgraçado — o ouvi dizer. Ele tinha repetido variantes da mesma frase pela última meia hora.
Apoiei a cabeça na parede.
— Sabe, Henrique, da próxima vez vou acertar a sua mandíbula com mais força — falei. — Assim quem sabe você fica com a merda da boca fechada por mais tempo.
Ele murmurou algo que eu não consegui distinguir.
Bom, talvez eu tivesse acertado com força o suficiente...
Eu não me arrependia do que tinha feito. Não até precisar ligar pra Bianca para ela me tirar dali, pelo menos.
Tentei falar com o Pedro primeiro, mas a chamada caiu direto na caixa postal. Fábio, o policial que estava comigo, resmungou que só me daria mais uma tentativa.
A Bia era a opção mais segura.
Na chamada, ela pareceu assustada demais para falar qualquer coisa que não fosse um apressado "tô indo", mas eu sabia que teria que ouvir mais que isso depois.
E eu merecia ouvir, por tê-la envolvido naquilo. Mas, de novo, não me arrependia.
Eu tinha encontrado Henrique em um dos bares da cidade. Seu vício em bebida parecia aumentar de semana em semana, um fato interessante o suficiente para as senhoras que viviam sentadas nas calçadas de casa começarem a comentar.
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Caça Tesouros e Amores
RomanceBianca levava uma vida confortável com a família na capital mineira: ela tinha amigos, estava certa que passaria na faculdade dos seus sonhos e não se preocupava nem por um momento que tudo pudesse ruir de repente. Até que aconteceu. Depois...