Capítulo 10: O Bater de Asas

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Lena dormia encolhida em seu canto do caixote

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Lena dormia encolhida em seu canto do caixote. Léo ainda não havia retornado. A menina se contorcia de tempos em tempos; não pelo ar fresco da noite nem pelas moscas irritantes. Estava tendo um sonho, o qual se parecia mais com um pesadelo.

***

A órfã via-se em um espaço aberto completamente branco e iluminado. Não havia absolutamente nada por lá; nem céu, nem terra; nem medo, nem esperança. Restava-lhe apenas a solidão.

— Olá~? — gritou na vaga esperança de que alguém a respondesse, porém, tudo o que recebera foi o retorno de sua voz esganiçada.

Sem muita opção, propôs-se a divagar pelo estranho ambiente. Não se sentia cansada nem triste; sentia nada, na verdade. Pela imensidão sem fim, caminhou pelo que pareciam ser horas. Até que algo realmente inusitado chamou sua atenção.

Um choro agudo e estridente começou a repercutir por entre as partículas até então adormecidas daquele enigmático mundo alvo. A origem? Um recém-nascido. Ela instantaneamente associou o som a seu pequeno irmão natimorto, Lucas.

Suas lágrimas escorriam pelas bochechas desnutridas. Lembrou-se de sua mãe. Seus sentimentos se tornaram uma mistura de alívio e vergonha. Queria revê-la, mas estava sem jeito por ter perdido o colar.

Impulsiva e confusa, correu em direção ao choro do neném. Só parou quando sentiu uma lufada de ar fresco bater em seu corpo. Avistou um berço que se balançava com o vento vindo de uma janela aberta, a única daquele lugar, suspensa em pleno ar. As cortinas diáfanas eram conduzidas a uma dança pela brisa gentil. Dentro do pequeno leito, um bebê chacoalhava com o ritmo carinhoso da ventania.

Assim que Lena deu as caras, o choro da criança cessou. Sentiu um forte apreço por aquele recém-nascido. Seu coração dizia que era ele mesmo, o pequeno Lucas.

Ainda perdida, a órfã não sabia muito bem o que fazer. Nunca havia lidado com um bebê antes. Queria abraçá-lo, pegá-lo no colo, mas tinha medo de derrubá-lo. Tudo o que conseguia fazer era balançar os dedos e ver os instintos dele acompanharem o movimento.

De repente, o vento parou. E então, uma forte luz brilhou às costas da miúda. Lena virou-se, surpresa. Deparou-se com um anjo ajoelhado com suas enormes asas resplandecentes cobrindo seu corpo.

— MAMÃE! — gritou a menina, correndo em direção a ela. Aos prantos, a jovem se jogou contra sua mãe, abraçando-a o mais forte que conseguia. — Mamãe... Me desculpa... Eu perdi o teu colar... Me perdoa...

Sem dizer uma palavra, o anjo apenas forçou suas asas a fim de abri-las. Sua filha se chocou com o que a plumagem divina escondia:

— LÉO?! — exclamou boquiaberta.

O ladrão estava inconsciente, deitado sobre o piso branco. Não respondia aos chamados da irmã. Ele estava com uma grande atadura na cabeça, manchada de sangue.

— E-ele se machucou?! O que aconteceu com ele?! — perguntou desesperada.

— Acalme-se, minha filha...

— Mamãe?! Ele vai ficar bem?!

— Ele ficará, sim. Foi só um arranhão. Ele já está se recuperando...

Lena continuava perplexa, calada e constrangida, absorvendo o que acontecera bem a sua frente. Não tinha coragem de iniciar uma conversa com sua mãe.

— Sei que está perdida, minha filha. Não tem ideia de como seguir em frente com tantos obstáculos, não é?

— Mamãe... Eu sou fraca...

— Que tipo de mãe seria eu se deixasse minha filha falando uma coisa dessas? Querida, você já aguentou tantas coisas ruins antes e nem sequer percebeu... Você sempre se manteve forte ao lado de Léo... Ah, Léo... — O anjo fez uma breve pausa e começou a acariciar os cabelos do larápio. — Ele está te esperando, sabia? Encontre-o seguindo seu coração. Juntos, vocês dois saberão o que fazer. Sempre foi assim, não foi?

A mulher alada se levantou, repousando delicadamente a cabeça de seu filho naquele chão ausente de qualquer sombra, caminhando em direção ao berço.

— M-mas, mamãe, e o teu colar?! Eu perdi ele! A senhora não tá brava comigo?!

Antes de responder qualquer coisa, o anjo pegou o recém-nascido no colo e, como sementes de dentes-de-leão contra o vento, sua imagem se esvaiu pela brisa suave da janela:

— Com ou sem colar, sempre estarei com vocês, meus amores. Sempre!

— Não vá embora! Eu preciso de ti aqui! Não me deixes só, mamãe, por favor! — implorou ajoelhada.

Seus apelos de pouco adiantaram. Com seu breve adeus, sua mãe levou consigo aquele estranho mundo níveo, e a garota, por fim, despertou de sua curiosa fantasia primaveril.

Apalpando as bochechas, viu os resquícios de suas lágrimas em suas palmas. Ela havia chorado enquanto dormia. Sonho ou realidade, não a importava. Sua clara missão era a de encontrar Léo e *quase* nada a faria voltar atrás.

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O RAPAZ e o monstro. Direção de Mamoru Hosoda. [S. l.]: Studio Chizu, 2015. Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/70/d3/ff/70d3ff4eb7385dbcef93c0a95db8920a.gif. Acesso em: 16 abr. 2023.

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