As noites de lua cheia têm um significado bem único para os irmãos Léo e Lena: invadir o cemitério e roubar dos mortos que recentemente reviraram a terra. Correr do coveiro e vender as joias adquiridas tornou-se parte da rotina dos órfãos, que lutam...
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Lena & Léo:
Enquanto caminhava, o larápio percebeu que vários tufos de palha caíam da mochila de sua irmã. De forma invasiva, porém sorrateira, abriu a bolsa dela e encontrou uma pelúcia decapitada ocupando quase todo seu interior:
— Trouxeste o Biscoito, Lena?
— Xiu! Só truxe por precaução! — cochichou com vergonha.
— Deixa eu ver?
Pararam de andar por um instante. Lena retirou o brinquedo da mochila e o entregou a seu irmão. Este o observou bem, todo estropiado e cheio de remendos.
— Me dá um dó de te ver, assim, com uma coisa feia dessas... — lamentou ele. — Já sei! Quando a gente sair daqui te compro um novinho! O que achas?
— Mas eu gosto dele assim...
— Nem se for um amiguinho pra ele? Ou, quem sabe, até um irmãozinho?
— Bom, mano, agora que tu falaste... Na verdade, eu sempre quis ter um daqueles coelhinhos branquinhos, de olhos vermelhos, sabe? Não um de pelúcia; um de verdade. Eu sei que a gente tem os ratos, mas é que coelhos são tão fofinhos!
— Quando a gente sair daqui, podes ter certeza de que eu vou te dar um. Teu aniversário tá chegando e tu até que te comportaste bem este ano. Tô orgulhoso de ti, Lena.
Um sorriso largo e oportunista brotou na cara da pirralha. Léo sabia que o destino era incerto. Talvez encontrariam algo que não deveriam, ou até pior. Por isso, manteve Lena esperançosa. Vê-la feliz fazia-o pensar que tudo aquilo valeria a pena.
Marini & Zacarias:
— E agora para a direita... — orientou o coveiro.
— Sabe para onde estamos indo, né?
— O mapa diz que o apicum é aqui perto.
— Er... Fáter, posso te fazer uma pergunta?
— Faça.
— Hipoteticamente falando...
— Lá vem.
— Digamos que alguém usou um negócio chamado "tábua espírita". O que acontece com a pessoa?
— Essa "pessoa" se sente desmotivada? Como se as coisas não dessem mais certo para ela?
— Uhum.
— Ela tem tido pesadelos? Daqueles que se acorda todo suado?
— Uhum! — exclamou com muita ênfase.
— Sinto muito, jovem. Você devia ter me contado mais cedo... Prometo que sua cerimônia será linda — Fez o sinal da benção universalista.
