Capítulo 8: Sangue Marcado pela Miséria e pela Liberdade

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Era uma vez, uma família mais ou menos feliz

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Era uma vez, uma família mais ou menos feliz. Tudo mudou com a notícia da chegada do quinto integrante: o pequeno Lucas. Os filhos estavam animados com o irmãozinho que ainda estaria por vir. Já os pais, nervosos. A mãe se encontrava em um quadro frágil, e a gravidez teve várias complicações com o passar do tempo.

O pai tentava de todas as formas trabalhar duro para pagar as despesas e os tratamentos. Enquanto isso, a mãe, uma bela costureira, repousava em seu leito, sendo cuidada pelo filho mais velho, de apenas 10 anos.

Apesar de seus esforços, a fama de charlatão do homem como vendedor imobiliário não ajudava a situação financeira do casal. Em vez de recorrer a um médico especialista, ele oferecia coisas para sua esposa beber, a fim de "aliviar sua dor", mas ela nunca o cedia. Depositava todas as esperanças na saúde de seu filho. Cria que ele conseguiria nascer saudável, como os outros dois. Afinal, sua segunda gestação havia sido turbulenta, mesmo assim, sua filha era tão sadia quanto qualquer outra menina.

E então, as discussões, a falta de razão e os gritos se tornaram cada vez mais constantes naquele lar. Marido e mulher já não se entendiam mais. Ele não queria perdê-la, e ela não queria perder o neném. As pobres crianças, infelizmente, presenciavam a tudo, ficando à mercê daquela tensa corda bamba.

Enquanto o homem saía para afogar as mágoas na taverna mais próxima, a gestante repousava, debilitada em sua cama, orando para Leonora pelo bem de seus filhos. Os chutes fortes do bebê só acrescentavam mais fervor a suas incontáveis preces.

Por ironia do destino, sua fé acabou se tornando sua ruína. Lucas e sua mãe, juntos, conheceram a pálida e impiedosa face da morte. O velório foi quase vazio; o marido ciumento não gostava que a falecida saísse muito. Suas cinzas e seus ossos foram jogados no mar Brasiliano, que ela tanto amava.

Os membros restantes da família ficaram devastados. O pai afundou-se ainda mais nas bebidas. As crianças não conseguiam mais brincar ou sorrir; apenas sonhavam com os tempos em que tinham o regaço materno tão acolhedor.

Dias quietos se passavam com o mesmo ar estagnado. Não havia um pio pela casa. A mulher delicada e sonhadora, que veio da Terra Nova até Caarã, havia os deixado para sempre.

No vermelho e sem expectativas, o viúvo deixava seus filhos sozinhos em casa por horas. Bebia sem controle. Às vezes, aparecia só no dia seguinte. Ele não aguentava mais as crianças, e elas não aguentavam mais ele, principalmente o mais velho.

Os primeiros resquícios da fome batiam na porta do quarto das crianças. Seus estômagos roncavam tão alto quanto a velha madeira do piso rangia. O pior era que não havia compaixão vinda do povo da cidade. Ninguém sabia o que acontecia dentro daquele sobrado. Se sabia, não se importava.

De repente, tudo piorou: chamas ardentes engoliam as paredes da casa na calada da noite. O desespero e a adrenalina finalmente despertaram o menino da indignação e do luto. Sem pensar duas vezes, seus instintos o guiaram até sua irmã mais nova, desmaiada ao seu lado, com um enorme colar no pescoço.

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