Capítulo 30: O Vazio que Acompanha a Noite

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Com Léo e José Romeo já acordados e juntos à mesa, todos os convidados esperavam pelo jantar

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Com Léo e José Romeo já acordados e juntos à mesa, todos os convidados esperavam pelo jantar. Ainda havia muitos assuntos a serem tocados. Jericob, entretanto, não lia as entrelinhas. Não se importava com outra pessoa a não ser Zacarias. Afinal, passaram-se vinte e quatro anos.

Ele era um senhor magro, mas definido. Louco, porém, destemido. Tão tagarela que facilmente se percebia o quão solitário era naquele fim de mundo lamacento. O fáter queria arrancá-lo informações de maneira sutil, sem causar-lhe incômodo:

— Jericob, eu agradeço mesmo por ter nos recebido, amigo.

— Ara, pare! — disse ele, com um sorriso bobo no rosto. — É o mínimo que eu poderia fazer pr'ocês!

— Mas há uma coisa que eu ainda não entendi... Como você veio parar aqui?

— Quem? Eu?

— Sim, você.

Silêncio.

— Qual foi a pergunta mesmo?

— ...Sente-se bem?

— Eu tô ótimo! E 'ocê?

— É inútil! — reclamou o ladrão. — Desiste logo e vamo mudar de assunto! Tá dando agonia só de ver!

— Concordo — acrescentou o jornalista. — Temos questões mais importantes a resolver. A bota, por exemplo. O que vocês fizeram com ela?

O fáter olhou para Marini como se empurrasse a resposta para ele, que, indignado, protestou:

— Queriam que eu trouxesse aquele pé podre pra cá?! É ruim, hein?!

— Deixaste na clareira, então? — inquiriu José. — Querendo ou não, era uma evidência importante.

— Bom, se o senhor não tivesse trazido tantas malas, talvez eu conseguiria tê-lo trazido para cá!

— Ei, ei, calma! Só estou perguntando!

— Ah, foi mal... — Abaixou o rosto, desanimado. — Minha cabeça tá doendo tanto... Devo estar desidratado...

— Sabia que enxaquecas são como radares para anomalias? — Zacarias puxou assunto. — Pessoas que sofrem de constantes dores de cabeça detectam as mínimas mudanças na balança.

— Balança? Que balança?

— Digo, a balança do mundo; o equilíbrio. Pense comigo, todo conceito tem seu completo oposto, não? Vida e morte, saúde e doença, alegria e tristeza, amor e medo... Se existe o caos, existe a harmonia. E é por essa harmonia que eu luto. Deu para entender um pouco agora?

— Deu sim, fáter. Então, será que as minhas dores de cabeça estão ficando mais constantes com o crescimento das anomalias aqui no manguezal?

— É bem capaz. Descanse bem hoje, viu? Amanhã vamos precisar bastante de você...

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