Capítulo 21: O que Restou das Cinzas

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Subiram os degraus da escadaria do cemitério com pressa

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Subiram os degraus da escadaria do cemitério com pressa. Todo o caminho estava encardido de fuligem. Ninguém se atreveu a limpá-lo.

Assim que atingiram o topo, o cheiro de madeira queimada tomara conta. Abutres aglomeravam-se sobre o grande arco de entrada do santuário, observando algo.

Léo passou pelos portões arrombados e correu em direção à cabana do fáter. Lena foi atrás. Ao longe, conseguia-se ver o estrago do manifesto de ontem. A casinha do clérigo fora reduzida a tábuas de carvão.

Encontraram Zacarias ao lado dos destroços, quieto e pleno, em uma cadeira de balanço poupada pelas chamas. Ele estava orando com os olhos fechados, concentrado, completamente sujo de cinzas, com um gatinho listrado descansando em seu colo. A miúda escondeu-se atrás de seu irmão, quem tomou iniciativa:

— Seu Zacarias...? — chamou, meio sem jeito. — O senhor tá bem?

— Léo? — O coveiro abriu os olhos. — O que você está fazendo aqui? Vejo que trouxe a menina também.

— Eu queria saber se o senhor tava bem... Quero dizer, com toda aquela fumaça... Eu achei que-

— Poupe suas palavras, garoto — interrompeu. — Se alguma coisa acontecesse comigo, outro fáter me substituiria. Não é como se o cemitério fosse ficar vazio para vocês fazerem a festa!

Gargalhando do próprio senso de humor, o senhor colocou o gato no chão e se levantou da cadeira. Seu braço ainda estava engessado, e os dedos, roxos, como se seu sangue não circulasse mais por eles. Parecia o início de uma necrose.

— Eita, porra! O teu braço, Seu Zacarias! — avisou Léo, assustado. — Não tá doendo?! Olha só pra cor dos teus dedos!

— Não é como se eu pudesse ir me tratar no hospital, não é, garoto? Ah, é! — Revirou os bolsos, lembrando-se de algo. Com seu braço sadio, recolheu um objeto. — Isto é de vocês, não é? — Esticou a mão para Léo. Lá estava o pingente de sua amada mãe.

— O colar da mamãe! — exclamou Lena, tomando-o e colocando-o envolta do pescoço.

— Como é que...? — questionou o ladrão.

— Em uma noite de lua cheia — explicou o velho —, alguém bateu em minha porta. Fui atender, mas não vi ninguém; só esse medalhão pela soleira. Ou pelo menos, era o que parecia...

— O que aconteceu depois?!

— Ouvi a voz nada gentil de uma moça. Me pediu para que eu fizesse um ritual de purificação nela através do colar. Bati o olho nele e expliquei que não daria certo; que esse era um amuleto de proteção, e não de cura. E então, só vi uma força sendo aplicada sobre o colar, como se tivessem o pisoteado. — Encenou. — Nunca mais ouvi aquela voz e tomei o amuleto para mim desde então...

Havia uma amassadura no ferro que envolvia a joia leitosa do cordão. A garota estava tão contente em tê-lo de volta que nem percebera.

— Eu... — disse o larápio, confuso. — Eu nem sei por onde começar... Uma voz? Não tinha ninguém escondido, não?!

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