Capítulo 32: O Chamado

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Lena abriu os olhos de repente

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Lena abriu os olhos de repente. Não fazia ideia de que horas da madrugada eram. Não sabia se levantava ou se revirava até encontrar uma posição melhor para voltar a dormir.

E foi assim por incontáveis minutos: encarando o teto de palha, vendo tudo em cinza. Bem baixinho, escutava música ao longe. Uma melodia misteriosa, a qual mais se parecia com uma reza, acompanhada de batuques e de vozes animalescas.

Curiosa, cutucou seu irmão. Queria se assegurar de que não estava ficando louca. Ele, porém, pouco se importou. Enfurnou-se ainda mais nos lençóis em meio a resmungos cansados.

Ela então se sentou e respirou o ar úmido e abafado da cabana. Assustou-se ao notar que havia alguém sentado à porta. Era uma senhora silhueta, perfeita em contraste com a luz das estrelas. Estava enrolada em uma manta, em silêncio, contemplando o véu da noite. Enquanto a garota se esforçava ao máximo para reconhecer quem era, fez, sem querer, contato visual. O que lhe chamou a atenção foram os olhos absurdamente arregalados.

A menina sentiu um frio percorrer sua espinha. Já havia ficado frente a frente com aquele olhar em seus piores pesadelos. Amarelos e esbugalhados, tão penetrantes que perfuravam a escuridão da noite. Era a viajante infectada pela ucidíase.

Ambas ficaram em um estado patético de quietude, encarando uma à outra, sem assunto. Lena percebeu que a melodia rítmica já havia acabado. E então, o som dominante tornara-se o de uma voz familiar a ela, vinda lá de fora:

— Lena... Lena...

— Mamãe?! — balbuciou, tirando o manto de cima do corpo.

— Espera... — disse a mulher à porta, com a voz fraca. — Não é... quem... pensas... que é...

Lena já estava de pé, praticamente correndo até a varanda quando sentiu a cabeça pesar e o pescoço fraquejar. Segurou o colar de sua mãe com força:

— Eu preciso ver ela! Me deixa passar! — pediu para a viajante que bloqueava seu caminho.

— Não... — negou, mal conseguindo se levantar. — Ninguém sai...

A pequena estava desesperada. Tinha certeza de que aquilo não era um mero sonho. Sua mãe era um anjo e veio visitá-la. Cansada, rendera-se ao chamado materno, ignorando qualquer fio de razão.

Com um movimento ousado, ameaçou empurrar a enferma a fim de forçar sua passagem. Mas, antes que conseguisse, houve-se a luz. Seu medalhão começou a brilhar por conta própria, tão forte quanto uma estrela numa noite sem lua. Lena então sentiu-se abraçada por um calor etéreo, como se estivesse sendo refugiada sob as asas de seu anjo da guarda. A sensação ruim se esvaiu.

Suas lágrimas rolavam copiosamente pelas bochechas. Sua mãe estava consigo o tempo todo. Milagre ou anomalia, não a importava. Só sabia que aquilo lá fora a queria fazer mal.

Pondo a cabeça no lugar, o fulgor do colar se apagou, assim como o seco chamado do além vindo da mata. Lena desculpou-se com a moça, sem graça. Tudo aquilo, no entanto, era apenas um mau pressentimento perto do que estaria por vir.

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COWBOY bepop: o filme. Dirigido por Shinishiro Watanabe. [S. l.]: Bones, 2003. Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/64/f3/2e/64f32ef36209c10fea47d09767b92212.gif. Acesso em: 21 jul. 2024.

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