Os dois dias seguintes se passaram num piscar de olhos. Os ladrões, desta vez, finalmente reunidos, esforçavam-se para se manter na linha.
Léo decidiu pôr um fim a seu reinado de terror no cemitério. Refletiu que seria melhor não incomodar Zacarias novamente. No entanto, resolveu não contar sobre o caráter piedoso do clérigo para sua irmã. Queria ter certeza de que ele realmente era confiável. Por ora, tinham um acordo imparcial de paz.
Lena também tinha seu segredo. Passou os últimos dias presa na ansiedade de não conseguir contar para seu parceiro de crime sobre a discussão que tivera com Marini. Não teve outra escolha a não ser criar coragem quando Léo considerou ir dar um oi ao homem-peixe:
— Er, mano... Tenho uma coisa pra te contar sobre o Mari...
— Fala — disse desconfiado.
— Eu meio que contei pra ele que a gente tava roubando túmulo...
— VOCÊ O QUÊ?!
— Foi sem querer! Eu juro!
O moleque fechou os olhos, pôs a mão no rosto e respirou fundo. Não gritou nem xingou; tentou ser paciente:
— Ele ficou muito bravo?
— Ficou... Ele te chamou de vagabundo; disse que tu não tomava jeito... Foi tudo culpa minha... Por favor, Léo, me perdoa... — implorou, segurando o choro.
Ele encarou o céu branco daquela manhã e suspirou:
— Lá vem sermão...
— Me desculpa...
— Tá bom, Lena! Já entendi! Tô pensando!
Andando de um canto para o outro do beco, o ladrão planejava o discurso que aliviaria sua pena. Não era bom em ser educado ou em admitir seus erros, mas não se importava em pôr o rabo entre as pernas em prol de sua amizade.
— Vamo — disse ele, chamando sua irmã.
— Pra onde?!
— Pedir desculpa.
— E desde quando tu pedes desculpa, mano?!
— Ele disse que eu não tomava jeito, né? Vou mostrar pra ele... — abriu o jogo. — Bora logo! A gente tem uma amizade pra salvar!
***
Bateram o código na porta de ferro da casa de Marini e nada. Destrancaram o portão com a chave reserva. O marinheiro não estava em casa, mas tudo parecia em seu devido lugar.
Lena olhou para o peixinho dourado de estimação do marujo, solitário em seu aquário. Deu-o ração, como sempre o fazia quando seu dono viajava. Tiveram receio de que o barco dele já houvesse zarpado. E pior: sem ao menos avisá-los.
***
Já nas docas, Léo e Lena procuraram o brutamontes pela movimentação tranquila de meio de semana. Não o encontraram, tampouco o navio de sua guilda. Avistaram um homem bigodudo contando moedas. O rapaz, por mais que não gostasse de conversar com estranhos, o abordou:
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Ladrões de Túmulos
FantasyAs noites de lua cheia têm um significado bem único para os irmãos Léo e Lena: invadir o cemitério e roubar dos mortos que recentemente reviraram a terra. Correr do coveiro e vender as joias adquiridas tornou-se parte da rotina dos órfãos, que lutam...