Capítulo 4: Questionamentos que Vêm e Vão com as Marés

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Kopal Marini era um marinheiro de vinte e poucos anos que pertencia ao Clã das Marés e trabalhava no porto de Guaiatuba há quase três anos

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Kopal Marini era um marinheiro de vinte e poucos anos que pertencia ao Clã das Marés e trabalhava no porto de Guaiatuba há quase três anos. A coloração alaranjada de sua pele indicava que ele viera dos próprios mares quentes caarenses, mas ele pouco sabia sobre seu passado. Sua aparência peculiar fora o suficiente para ser desprezado por grande parte da população, pelos seus colegas de trabalho e, principalmente, pelo seu chefe. Entretanto, foi este exato fator que uniu osjovens ladrões a ele: o desprezo.

Certo dia, o marinho corria de lá para cá à procura das chaves do depósito, roubadas por ninguém menos que um pequeno arruaceiro a quem já conhecemos. Marini levou uma bronca ardida e seria demitido se não trancasse o local até o fim do expediente. Por fim, o trombadinha resolveu devolver as chaves. Foi a primeira e a última vez que sentira peso na consciência por ter roubado algo. Aquele carregador de caixas de aparência gozada era o único amigo que conseguira fazer enquanto órfão.

Não eram raras as visitas do larápio a seu irmão de outra mãe durante o serviço. Tinham o regrado costume de almoçarem juntos aos domingos. Léo sempre levava Lena para a casa de seu camarada escamoso e passavam as tardes rindo e jogando cartas. Não era à toa que domingo era o dia favorito deles.

Camuflando-se em meio aos trabalhadores ocupados que descarregavam os navios cargueiros, o menino procurava seu amigo, tendo a barbatana no topo da cabeça dele como referência. Obviamente, não seria difícil avistá-lo; o sujeito tinha dois metros e dez, escamas laranjas e roxas, e coberto de músculos. Quando Léo o encontrou, ao longe, fez questão de pregar-lhe uma peça.

Marini estava colocando os caixotes de uma das embarcações no píer, certificando-se de que não seriam pesados demais para a madeira velha do piso, quando, de repente, o jovem gatuno deu o bote:

— Adivinha quem é! — Cutucou seu amigo em um dos flancos, fazendo-o pular de susto.

— L-Leozinho?! Como você chegou aqui assim?! — cumprimentou Marini, surpreso.

— É segredo. — Sentou-se em uma caixa que tinha quase o seu tamanho.

— Como é que você tá, pirralhinho?

— Ê, mano! Eu já falei pra tu parar de me chamar assim! Fiz 17 esses dias!

— Pra mim, você sempre terá 15 — brincou o brutamontes. Para o moleque inseguro, isso era mais uma piada sobre sua estatura baixa; estava praticamente rosnando. — Calma, tô só zoando! Mas enfim, me conta, o que veio fazer aqui, hein? Sentiu saudades, é?

— Hum, tá! Até parece!

— Ah, Leozinho, deixa disso, vai! Vê se *cresce*!

Rindo do próprio trocadilho, Marini, percebendo que seus colegas estavam o encarando, voltou ao trabalho. O ladino, por sua vez, relevando seu mau humor, admirava o mar em cima de seu trono quadrado de madeira. Do nada, o marinheiro jogou um tópico estranhamente familiar à mesa:

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