O dia seguinte logo amanheceu com o varrer das cinzas pelas ruas do vilarejo. Toda a comunidade exercia a limpeza entre risos e xingos.
Léo estava preocupado com Zacarias. Queria visitá-lo no cemitério e, depois, iria a alguma igreja local. Se o Pesadelo ou seu contratante realmente fosse um extremista religioso, estava certo de que encontraria alguma pista. A teoria de José Romeo poderia parecer um absurdo, mas o que é pouco para quem tem nada?
— Vai pra onde? — Lena interceptou o ladrão na saída do beco.
— Andar um pouco.
— Eu vou contigo. Tenho nada melhor pra fazer...
— Ué? Não tens que trabalhar?
— Hoje não. O restaurante tá fechando. Meu chefe foi levar a mãe dele no médico lá em Argilosa. — Caminhou até seu irmão. — Além disso, vou poder ficar de olho em ti.
O moleque inspirou bem fundo e soltou todo ar pela boca. Sabia que, no fundo, a menina mais o atrapalharia que ajudaria. Mesmo assim, não negaria a presença dela tão fácil assim:
— Tá bom, Lena... Só não vai ficar no caminho, hein?
— Oba! Fechado! Bora vadiar!
— Ih! Eu não vou vadiar, não, tchonga! Eu vou... Er... — Lembrou-se de que ela tinha medo do coveiro. Decidiu mudar o roteiro. — Eu vou procurar o colar da mãe, ora!
— Ah~! E onde a gente vai procurar, então?
— Tenho uma ideia de onde. Só preciso passar em um lugar primeiro...
Como não sabia perfeitamente a localização de nenhum templo universalista, o larápio resolveu ir perguntar para José Romeo, um dos poucos homens de fé daquela cidade. Foram procurá-lo na sede do jornal.
Não havia ninguém na recepção. Lena até pensou em tocar a campainha, mas Léo, paranoico do jeito que era, a desencorajou. Seja lá qual fosse o paradeiro do homem de chapéu pork pie, teriam que esperar.
Sentados na sarjeta do outro lado da rua, o jovem queria testar os limites de sua paciência. Tirou seu ioiô do bolso, entediado.
— Eita, mano~! Que doidice é essa?! — perguntou sua irmã, encantada. — Posso brincar? — Estendeu a mão.
— Desculpa, maninha! — debochou. — Comprei isso com meu dinheiro sujo! Acho que a senhorita certinha não vai querer, né?
Ela franziu o cenho:
— Onde compraste isso, então? Vou lá agorinha mesmo!
O ladrão, com um sorriso malandro, apontou com o beiço para a banca no fim do quarteirão. A garota, toda bravinha, foi até lá desviando das poças remanescentes da limpeza. Estava começando a nutrir seu próprio orgulho; nem chegou a olhar para trás. Retornou somente três minutos depois — e nenhum sinal de vida de José.
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Ladrões de Túmulos
FantasíaAs noites de lua cheia têm um significado bem único para os irmãos Léo e Lena: invadir o cemitério e roubar dos mortos que recentemente reviraram a terra. Correr do coveiro e vender as joias adquiridas tornou-se parte da rotina dos órfãos, que lutam...