— Tu queres ir pro manguezal?! Tu é doido, é?! — questionou Lena, indignada.
— Ninguém quis se juntar ao Seu Zacarias, mana — respondeu Léo. — E aposto que se eu der o meu jeitinho, consigo até chamar o Mar pra ir comigo também. Não vai ser perigoso.
— Mas aquele cara não morreu lá? O aventureiro?
— Mais gente morre em Guaiatuba do que no manguezal, Lena. Por acaso, tu tens medo daqui?
— Não muito...
— Viu só? Fica de boa. O Seu Zacarias só quer ver o que aconteceu por lá; maldição ou sei lá o quê. Além do mais, se o Mar for junto, não tem porquê ter medo.
— Mas esqueceste que ele tá bravo contigo?
— Claro que não! Mas eu tenho um plano...
Sob aquele domingo ensolarado que raiava pelo vilarejo, Léo contou o que havia planejado a sua irmã. Desta vez, eles seriam os anfitriões, e Marini, o convidado.
O ladrão pediu para que sua cúmplice fosse buscar a visita. Assim que ela saiu, toda animada, ele se encarregou da refeição e da arrumação de mesa.
A verdade era que o rapaz não sabia por onde recomeçar. Havia parado de roubar túmulos e já tinha recuperado o colar. Viu uma espécie de solução quando Zacarias o contou que estava organizando com o prefeito uma expedição para o manguezal em busca de respostas para os acontecimentos recentes.
Contudo, ninguém se voluntariou. As guildas caarenses eram muito supersticiosas; assim que se falava de maldições, fugiam na mesma hora. Os cidadãos, por sua vez, ignoravam cada palavra do coveiro. Culpavam-no por sustentar a doença.
Outro assunto que o fáter havia comentado sobre era a respeito dos estandartes, os membros da guilda que, agora, vigiava Guaiatuba 26 horas por dia. Não foram contratados pela prefeitura guaiatubana, mas, sim, pela de Argilosa. A quarentena foi decretada como forma de embargo em decorrência à ucidíase. A metrópole não queria ser infectada.
Com a mesa já arrumada, o larápio ensaiava mais uma vez o que diria a seu amigo. Tinha pelo menos dois dias para convencê-lo a se juntar à causa. Torcia para que tudo desse certo desta vez.
***
— Esse tempo todo que a gente se conhece e vocês nunca me chamaram para comer na casa de vocês — Marini pensava alto ao lado de Lena. — Qual o motivo, hein?
— É segredo, grandalhão! — Ela mostrou a língua.
Ao todo, foram quase quatro semanas sem se verem. A menina pensou que seria tempo suficiente para seu amigo esfriar a cabeça — ele pertencia ao mar afinal. Até se gabava de que suas crises de enxaqueca se esvaiam quando estava em alto-mar.
Os dois caminhavam pelas ruelas e escadarias em direção ao almoço providenciado pelo rapaz. O marujo não tocou no assunto daquele outro dia nem perguntou nada sobre Léo. Estava aproveitando a calmaria do momento:
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Ladrões de Túmulos
FantasyAs noites de lua cheia têm um significado bem único para os irmãos Léo e Lena: invadir o cemitério e roubar dos mortos que recentemente reviraram a terra. Correr do coveiro e vender as joias adquiridas tornou-se parte da rotina dos órfãos, que lutam...