Capítulo 3: A Rotina de um Malandro

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A juventude nunca se mantém parada

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A juventude nunca se mantém parada. Enquanto Lena vendia os anéis roubados, Léo ajeitava seus cabelos cacheados com pressa. Amarrou sua confiável bandana vermelha sobre a testa, decidido de que daria uma bela volta pela cidade. Talvez ouviria novos boatos por aí, ou até mesmo encontraria alguém interessante pelo caminho. Tudo o que ele sabia é que não ficaria parado naquele beco sem graça até sua irmã voltar.

Sempre teve esse seu lado solitário. Mesmo adorando a ilustre presença de sua cúmplice, apreciava a própria companhia mais do que tudo. Era o que o ajudava a manter a cabeça no lugar. Afinal, apesar de o furto de ontem ter sido um sucesso, cometeu vários deslizes no processo. Sabia que aquela lápide quebrada voltaria em algum momento para assombrá-lo. Aquilo, diferentemente de cobrir uma cova com terra, não tinha como disfarçar. Acreditava, ainda, que o coveiro só estava esperando o momento certo para emboscá-lo e apreendê-lo no ato. Na realidade, Léo se cobrava demais. Trapaceiros e ladrões tinham de sobra em Guaiatuba. Ele só era mais um.

Sem chamar muita atenção, o jovem xeretava os arredores, avistando coisas comuns, como meninos jogando bola na Praça da Coragem, e feirantes grelhando peixes e fritando pastéis ao ar livre.

Apesar do roncar de seu estômago, ele contornou as barracas de comida à procura de pessoas conversando para poder bisbilhotá-las ao longe. As velhotas eram minas de ouro neste quesito: sabiam de tudo e de todos, mais até que a própria polícia. Eram como uma espécie de oráculo da mais alta hierarquia.

Seus ouvidos o levaram a duas senhoras colocando o papo em dia pelo portão de uma casinha, do outro lado da rua. Reconheceu uma delas, Dona Gertrudes, uma mocreia que se sustentava de fofocas. Religiosíssima e hipócrita, era a fonte perfeita de rumores da região. Lá estava ela, conversando com uma amiga, a qual pertencia à casta mais baixa do Clã da Floresta:

— Dona Nolina, viste que pararam de vender caranguejo na feira?

— Já tava na hora! — indagou a outra. — Não importava onde eu comprasse, tinha sempre gosto de podre!

Na praça, Léo sentou-se no banco mais próximo, como quem não queria nada. Atentamente, ouvia a cada palavra delas.

— Só pode ter acontecido alguma coisa muito ruim no manguezal... — continuou Dona Gertrudes. — E agora, os caranguejos sumiram tudo! Não sobrou nem unzinho!

— S-sumiram? Eu achei que só tivessem parado de vender, mas eles sumiram?! Tem coisa ruim aí, mulher, certeza!

— Bom... — Gertrudes encolheu os ombros. — Eu não queria te dizer isso — tentou falar baixo, mas velha surda sempre grita —, mas deve ser coisa do Azar. Pronto, falei! Senhor Mirael, por favor, me perdoa!

"Sempre é culpa dos demônios para essas desmioladas", pensou o rapaz. Apesar das línguas supersticiosas das senhoras, o cético declarado viu-se interessado no assunto. O que exatamente estava acontecendo no manguezal ainda era um mistério. E essa era a graça para ele, é claro. Já poderia exercitar a cabeça com algumas teorias.

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