Capítulo 24: Os Miseráveis e o Manguezal

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As hélices dos barcos cortavam o mar à certa distância da praia, deixando um vasto rastro de espuma

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As hélices dos barcos cortavam o mar à certa distância da praia, deixando um vasto rastro de espuma. Estavam passando em frente à colônia dos pescadores, feita de barracos abraçados à mesma colina do cemitério. De vez em quando, encontravam membros dessa comunidade em suas canoas, trabalhando sob a vista afiada dos homens de vermelho.

Zacarias era o único que tentava tomar a frente na conversa. O resto da equipe seguia calado, desconfortável, como se suas vozes houvessem sido censuradas por aqueles soldados de farda e couro carmesim.

Nem Léo, nem Lena sabiam como era o caminho. Encantaram-se com o tranquilo resplendor azul da foz do rio Castel se casando com o mar. Mas faltava algo. Faltava vida.

À medida que avançavam, as árvores de mangue apareciam, e a fauna se esvaía. As garças, por exemplo, pararam de dar as caras após certo ponto — sinal de desgraça para pescadores. Mesmo assim, comentaram nada. Só se ouvia os gritos ensurdecedores dos motores dos botes.

Chegaram no ponto de desembarque depois de dez longos minutos. A folhagem salgada do manguezal reservava uma sombra agradável e levantava seu característico cheiro de enxofre. O berço do cabuloso mistério, enfim, os recebia de braços cruzados, por entre águas lamacentas e raízes retorcidas.

— Não vamos nos responsabilizar por nada que acontecer com vocês daqui para frente — disse um dos guardas.

Seu comparsa então entregou a Zacarias um papel que tirara do bolso. Aquela era a garantia de que o grupo havia chegado ao local e de que estavam cientes do perigo. O velho usou as costas de Léo como apoio para assinar.

— Voltaremos neste ponto pelos próximos três dias, às 12h e às 18h, com uma tolerância de meia-hora. — avisou um dos mercenários, retornando ao bote. — Se não voltarem dentro do prazo, o resgate de vocês fica a critério do prefeito.

— Não acham que seria mais vantajoso se viessem conosco? — perguntou o fáter.

— Ah, tá! Como se isso fosse problema nosso!

Completamente apáticos à situação daqueles miseráveis, os sentinelas foram embora com os barcos, largando os pobres coitados à mercê da boa vontade do manguezal.

— Grossos... — murmurou o velho para si mesmo e, depois, dirigiu-se ao grupo. — Estão prontos?

— Por onde a gente começa? — questionou o ladrão.

— Bem, o corpo do aventureiro foi encontrado um tanto longe daqui.

— Mais longe ainda?!

— A julgar pelo tamanho destas árvores, bem mais longe. Nossa, as raízes estão enormes! Está nem um pouco parecido com o mapa e as fotos que me deram!

Não havia trilha ou passagem. O mangue vermelho, grande e retorcido, tomara conta de tudo. Suas raízes invasivas, enrolavam-se entre si de maneira grotesca. Aquilo era uma autêntica fortaleza natural; uma anomalia.

— Ei, você! — Zacarias chamou a atenção de Marini. — Abra o caminho para nós, por favor. — Entregou a ele a espada que carregava nas costas.

O marujo tomou o facão e começou a cortar as duras raízes a fim de liberar o caminho. Funcionava? Sim. Era rápido? Não. José Romeo, por sua vez, lá no fim da fila, achou curioso o silêncio do ambiente:

— Engraçado... Achei que seria bem mais cheio de vida... Não vi nem ouvi pássaro algum até agora...

— Tem alguma coisa muito errada aqui — acrescentou o marinheiro. — Minha barbatana tá coçando!

— Mar — retrucou Léo —, tu não tens sexto sentido só por causa disso!

— Errado ele não está, garoto — argumentou Zacarias. — Os caranguejos sumiram há quase cinquenta dias. Não é à toa que algumas coisas mudaram por aqui! Eles cavoucam a areia, deixando o solo mais leve e rico em nutrientes, o que atrai muitos outros animais.

— Acho que isso já explica um pouco — concluiu o repórter. — Mas por que os caranguejos desapareceriam, afinal?

— É por isso que estamos aqui: para descobrir. — Observou, então, o marinho trabalhando. — Isso vai demorar... Tomara que cheguemos ao apicum antes do entardecer. Teremos que acampar por lá, se necessário.

Com a criação lenta da trilha, mantiveram uma formação, com ordem e função. Marini ia na frente, abrindo o caminho com o machete. O velho, logo atrás, indicando as direções com o auxílio de seu mapa. O restante da equipe estava atento a qualquer sinal de perigo ou anomalia que encontrassem.

Perdendo-se em meio às águas escuras e lamacentas que lhes batiam nas canelas, nossos voluntários se distraiam com curiosas conversas paralelas.

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AUTORIA DESCONHECIDA. Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/d4/70/a2/d470a2d010a4fe25dc8885f6d0b1ec0f.gif. Acesso em: 16 abr. 2023.

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