Outro Lado

Algo não bate nessa história

O banheiro limpo era assustador, só que aquilo não era algo tão importante de se apontar, o importante era a ligação.

Hyunjin estava sentado sobre a pia do banheiro, torcendo que nenhum trabalhador tivesse um piriri repentinamente e precisasse usar o sanitário.
Seu telefone tocava incontáveis vezes a chamada em andamento, pois para fazer Felix antender um telefonema seu era sempre uma luta, quinze chamadas eram sempre perdidas e a última ele desligava, para depois retornar a ligação.

Foi o caso de agora, como todo o outro, um sacrifício, quando finalmente Felix antendeu a ligação, ao invés de desligar, o que já era um milagre, mas Hyunjin não iria zombar disso agora, estava preocupado demais.

– Felix, tem algo errado... Seu pai... O Lino estava chorando. – Hyunjin disse na hora que ouviu a voz do Lee mais novo pelo telefone, recebendo uma exclamação surpresa do ruivo – Não sei o motivo, mas aparentemente o meu pai e o seu não se resolveram.

– Mas não faz sentido! O Tio Jisung está sorrindo desde que chegou na confeitaria, nunca vi ele tão feliz. – Felix contou, recebendo um grunido do Hwang – Acha mesmo que era isso? Não era sei lá... Uma masturbação?

– Ele estava chorando, Lixie! Eu tô falando! – o Hwang exclamou, incrédulo com o que ouviu – Porra, Felix! É teu pai! Não está preocupado?

– Hyunjin, meu pai já é bem grandinho para eu me preocupar com o que ele faz ou deixa de fazer. – Felix zombou, porém Hyunjin não gostou do que ouviu, não sabia que o irmão postiço pensava assim.

Talvez ele estivesse desde o início sabendo que Minho não estava bem e simplesmente fingia não ver.
Ou talvez realmente não soubesse antes e passou a não se importar depois.
Em ambas as hipóteses, Hyunjin se sentia péssimo, pois queria ter um pai como Minho, pois o seu pai, particularmente dizendo, era um grande filho da puta, pelo que percebeu.

– Me arrependi de te ligar, vai se foder. – o Hwang não esperou nenhuma resposta, até por saber que não receberia nenhuma, simplesmente desligou na cara do Lee, rosnando quando relembrou das palavras do sardento. – Como pode falar algo assim?

Hyunjin suspirou, levando as mãos aos fios longos antes de bagunça-los, ficou nervoso demais depois dessa conversa sem frutos.

– Se acalma, Hwang... Algo nisso tudo não bate e você vai descobrir o quê é. – sussurrou para si mesmo, antes de saltar do apoio da pia e lavar as próprias mãos e rosto, buscando se acalmar com a água gelada em contato com a pele – Vai dar tudo certo. Você consegue.

– O que aconteceu? – a voz preocupada soou e Hyunjin travou olhando com cara de quem viu um fantasma através do espelho.

Minho estava ali, com o rosto inchado pelo choro recente, mas uma feição preocupada pelo estado nervoso do afilhado.
Hyunjin quis chorar, como um homem tão gentil tinha uma família tão filha da puta assim?