Quando o sinal tocou anunciando o intervalo eu aproveitei para andar um pouco. Tranquei minha sala e fui caminhando pelos corredores, observando os alunos. Me encostei em uma parede de frente para o refeitório e fiquei pensando em quantas histórias haviam naquele lugar. Logo meus pensamentos foram interrompidos por uma professora que eu ainda não havia visto.
- Sra. Lopes, né? Oi, sou a Paola, professora de História. - Me cumprimentou e se encostou ao meu lado.
- Oi, prazer em te conhecer. Trabalha aqui há muito tempo? - Questionei puxando assunto.
- Mais do que eu gostaria. - Deu um risada sincera. - Dou aula aqui faz 6 anos, era pra ser só uma forma de conseguir um dinheiro pra me mudar, mas... Acabei me apegando. - Olhei para ela desconfiada.
- Deixe-me adivinhar, não foi pelos alunos, né? - Perguntei rindo.
- Ah, por Deus, se fosse por eles eu teria ido embora na primeira semana. - Revirou os olhos. - Vamos dizer que a vizinhança me conquistou. - Lançou uma piscada de cumplicidade.
- Deve ser bom ter alguém aqui, espero chegar nessa fase. - Menti.
- Não se faça de boba, mocinha, todo mundo sabe como, ou melhor, com quem você chegou aqui segunda-feira. - Ela deu um tapinha no meu braço.
- Foi apenas uma carona. E sério, todo mundo?
- Primeira lição sobre Freeridge, querida, aqui as notícias voam, especialmente as fofocas.
- Isso é triste. - Concluí.
- Só quando nós somos a fofoca. - Admitiu rindo, - Foi bom te conhecer, preciso voltar pra sala e terminar a correção de umas provas, mas nos vemos por aí.
Ela mandou um beijo no ar e saiu. Paola parecia ter minha idade, talvez 1 ou 2 anos mais velha. Era alta, um corpo curvilíneo com algumas tatuagens delicadas, os olhos escuros combinavam com o cabelo longo, dando contraste à pele clara. Muito bonita realmente, e parecia ser legal. Me perguntei o que ela quis dizer com "a vizinhança me conquistou" mas acho melhor criar mais intimidade antes de perguntar detalhes sobre a vida amorosa.
Voltei para a minha sala e fiquei respondendo algumas mensagens de alunos, nada relevante. Logo o sinal da saída tocou, então recolhi minhas coisas e caminhei até em casa. A casa dos Santos continuava quieta demais, também não ouvi o motor daquela lataria vermelha nenhuma vez nas últimas 24 horas. Estranho, mas novamente me apeguei a ideia de que isso não é um problema meu. Aproveitei a paz na vizinhança para passar o dia lendo sentada na varanda. Poderia dizer que foi um alívio não receber nenhuma mensagem ou olhar, mas seria mentira minha.
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♱ ENTRE A CRUZ E A ARMA ♱
Non-FictionEla sabia no que estava se envolvendo, havia se preparado para isso e aceitava as consequências por um objetivo maior. Mas nenhum treinamento a preparou para o amor. "- Volta aqui, me deixe explicar! - E não ouse voltar para o meu bairro, vadia."