Acordei com o celular despertando para mais um dia de trabalho, mas pelo menos hoje é sexta. Foi uma semana intensa, para dizer o mínimo. Ao desligar o alarme percebi que havia uma mensagem do Oscar.
"Vá de biquíni."
Nesse momento eu realmente deveria respirar fundo e perceber que as coisas estavam começando a sair do meu controle. Primeiro um quase desconhecido me propôs um relacionamento, agora o chefe da gangue me manda esse tipo de mensagem. Biquini? Sério? Eu fui até meu quarto, peguei a pequena caixa onde guardava meus biquinis, e fiquei encarando eles. Eu não podia fazer isso. Obedecer uma ordem dessas passaria a mensagem errada para ele. Faria ele acreditar que eu estou disponível para ele. Fechei a caixa e guardei de volta, sem tirar nenhum par de lá. Fui para a cozinha, engoli meu café da manhã, peguei meu celular e saí. Nenhum sinal dele nem de seus amigos. Bom, melhor assim.
Chegando na escola, avistei o grupo de alunos com quem Cesar costuma andar, mas ele não estava. Espero que tenha ficado em casa arrumando as malas, ele realmente precisava de um tempo longe daqui, pagar pelas passagens foi o mínimo. Caminhei até a minha sala e mal tive tempo de organizar minhas coisas, pois logo uma jovem garota abriu a porta e se sentou na cadeira à minha frente.
- Bom dia, fique a vontade. - Disse sorrindo para ela.
- Bom dia. Meu nome é Ashley, prazer. - Deu um sorriso irônico.
- Uau, estou surpresa. Porque aqui nesse bairro ninguém se apresenta?
- Não é óbvio? - Fiz sinal de não com a cabeça. - Achei que fosse mais inteligente... - Ela deu um longo suspiro. - Este é um bairro onde todos se conhecem e todos tem algo que tentam esconder. As histórias aqui rolam muito rápido, Sra. Lopes. Ou devo chamá-la de Sra. Diaz? - Disse dando uma gargalhada.
- Hm, eu tenho quase certeza que na minha certidão está Bianca Lopes mesmo, mas obrigada por perguntar. Então é isso? Não se apresentam porque o nome vem atrelado a histórias? Interessante. Mas para sua felicidade, eu não ouvi nenhuma história sobre ninguém daqui. Então sinta-se à vontade para me contar sua versão sobre você mesma, pois é isso que eu quero ouvir.
- Talvez outro dia. Hoje eu vou te contar sobre algo mais importante para você. Sei que vem de outro país, então muita coisa daqui pode ser novidade para você. Então me permita te explicar: existem os Santos e os Profetas, as gangues que dominam o bairro, o lado vermelho, onde estamos, é território dos Santos, e o lado verde, é dos Profetas. Eles brigam entre si desde que o mundo é mundo, e sempre será assim. Mas isso você já sabe, né? - Arqueei uma sobrancelha instigando-a a continuar. - Oscar Diaz, Sra. Lopes, é o chefe dos Santos, o cara mais perigoso e temido deste bairro. - Não foi nenhum esforço manter a expressão neutra enquanto ela falava. - Ele já dormiu com todas mulheres maiores de idade deste bairro - Fez uma breve pausa. - bonitas, é claro, ele pode se dar ao luxo de escolher. O que eu quero dizer, é: tome cuidado. Eu não sei de qual 'faz de conta você vem', mas aqui é vida real e bad boys não se tornam mocinhos por amor a personagem principal. - Terminou de falar e se recostou na cadeira, com um sorriso triunfante, isso quase fez eu me sentir mal ao respondê-la.
- Eu venho do Brasil, Ashley. Achei mesmo que ia me contar uma história mais interessante. Quem sabe no próximo encontro, não é?
Para minha surpresa, ela se levantou com um sorriso ainda maior e caminhou em direção a porta, mas parou com a mão na maçaneta e virou um pouco a cabeça sobre o ombro para me olhar.
- Então aqui vai uma informação que não estava no seu manual de instruções, considere isso um aviso de amiga, mas também uma troca de favores que eu vou cobrar em breve: Oscar tem uma ex-mulher, que surtou quando ele terminou com ela, e jurou acabar com a vida dele custe o que custar. O primeiro passo dela em direção a essa promessa foi entrar pros Profetas.
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♱ ENTRE A CRUZ E A ARMA ♱
Non-FictionEla sabia no que estava se envolvendo, havia se preparado para isso e aceitava as consequências por um objetivo maior. Mas nenhum treinamento a preparou para o amor. "- Volta aqui, me deixe explicar! - E não ouse voltar para o meu bairro, vadia."