43. Rosas.

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Acordei com o despertador para mais um dia de trabalho. O clima estava agradável, o que ajudou a melhorar o meu humor, apesar do horário. Tomei um banho demorado e coloquei uma roupa confortável, mas quando ia sair do quarto percebi que desde que havia chegado aqui, eu tinha me deixado de lado. Não conseguia lembrar a última vez que tinha passado um rímel sequer. Não é porque estou aqui como agente do f.b.i que devo ignorar minha própria existência. E analisando minha atual situação romântica, acho que cuidar mais da minha aparência poderia me resultar em partidos melhores. Então voltei para o armário e escolhi uma roupa melhor. Uma calça de alfaiataria azul royal e um top de alcinha branco, deixando uma faixa da barriga à mostra, mas continuei de tênis pois não há vaidade no mundo que me faça abrir mão do conforto. Passei uma maquiagem leve, o que já fez muita diferença, ajeitei meu cabelo e olhei novamente no espelho. Agora sim, me sentia muito melhor. Tomei um café rápido e saí de casa rumo à escola, mas fui surpreendida com um carro estranho parado em minha porta.

- Hm, pois não? - Perguntei sem entender.

- Fala princesa, o chefe mandou a gente te levar até a escola, entra aí. - Respondeu o rapaz que ocupava a posição de motorista.

Ele tinha a tatuagem dos Santos no pescoço, e me lembro de já ter visto ele com Oscar, então sorri e entrei no banco de trás, já que outro rapaz estava sentado no banco de carona.

- Obrigada pela carona, rapazes, mas acho que tô grandinha o suficiente para não precisar de uma perua escolar, não acham? O chefe precisa relaxar um pouco. - Comentei durante o trajeto.

- Você bem que podia ajudar ele nisso. - Gargalhou o motorista, mas parou ao receber uma cotovelada do outro rapaz.

- Ignora ele, Bianca. Todos nós ignoramos. A propósito, eu sou Javier, e esse imbecil é o Diego.

- Eu com certeza vou ignorar. - Respondi rindo, afinal até que foi engraçado. - Prazer em conhecê-los.

Diego abriu a boca para dizer alguma coisa, mas recebeu outra cotovelada antes que pudesse emitir qualquer som.

- Para com isso cara, só quero fazer a primeira dama rir um pouco. - Comentou o motorista.

- Então coloque um nariz de palhaço, vai combinar com você.

Eles pareciam irmãos, daqueles que brigam o tempo todo, mas estava me entretendo bem. Logo chegamos a escola, antes de descer do carro agradeci mais uma vez pela carona e segui para minha sala. Logo ocupei meu lugar, mas decidi deixar a porta aberta hoje, talvez para atrair mais alunos, talvez para mais pessoas me verem, nunca saberemos a resposta.

Conforme os alunos passavam conversando eu fui escutando as notícias, fofocas e comentários que faziam um dos outros. Descobri coisas interessantes, como o fato de que um aluno vomitou azul na festa do dia anterior. Estava rindo das histórias, quando uma conversa específica me chamou a atenção.

- Quem diria que ele, todo magrelo e estranho daquele jeito, seria na verdade um grande herói corajoso? - Disse uma voz feminina.

- Continua sendo magrelo, mas agora imaginar ele escapando e matando o próprio sequestrador me faz querer ir pra cama com ele, só pra ver toda essa masculinidade. - Outra voz comentou rindo.

- Onde será que ele aprendeu a atirar? Matar um sequestrador profissional com apenas um tiro deve ser difícil. - Outra menina perguntou.

Era realmente só o que me faltava. Um aluno se gabando por ter matado alguém. Não sei o que é pior, a mentira ou ele achar que isso é algo legal de se contar. De qualquer forma, eu conversaria com Fernando. As consequências de uma história desta circulando no bairro são imagináveis, especialmente quando o assassinado era cúmplice de uma gangue. Me encostei em minha cadeira e fechei os olhos para respirar fundo algumas vezes, mas fui interrompida por uma voz.

- Sra. Bianca Lopes?

- Sou eu mesma. - Respondi sentando direito e observando o rapaz que trabalha na portaria da escola.

- Bom dia, professora. - Eu é que não ia corrigir ele. - Mandaram entregar isso para senhora. - Trouxe um buquê de rosas até mim.

- Ah, que lindas, muito obrigada! - Sorri gentilmente para ele, que se virou e saiu da sala.

Levantei em seguida e fechei a porta. Olhei para o buquê com ódio, já sabendo de quem seria, então fui até ele e peguei o cartão para analisar qual era a atrocidade da vez.

"Saudades, meu amor."

Rasguei em mil pedacinhos e joguei no lixo. Peguei o buquê e saí da minha sala, decidida a fazer do limão uma limonada, vou usá-lo como desculpa para andar pela escola e fazer outra pessoa feliz hoje. Fui andando lentamente pelas salas, observando os alunos, até que achei quem eu queria. Uma aluna sentada sozinha no canto da sala, deitada sobre a mesa, enquanto todos à sua volta pareciam não vê-la, Sol. Conhecia a jovem por já ter observado ela sempre sozinha. Para minha sorte a professora era a Paola.

- Licença, professora? - Perguntei dando uma piscada de cumplicidade a ela.

- Claro, pode entrar. - Respondeu segurando o riso.

- Pediram para entregar esse lindo buquê para a Sol. - Levei as flores até a jovem, que estava sem entender nada.

- Pra mim? - Perguntou confusa.

- Sim, não são lindas? As flores do amor. - Respondi docemente.

- Obrigada... - Com os olhos cheios de lágrimas, foi só o que ela conseguiu dizer.

Sorri para Paola e saí da sala, mas antes observei um pouco a jovem, limpando as lágrimas enquanto outros alunos sorriam e a parabenizaram. Voltei para a minha sala feliz com o resultado, e por alguns segundos até agradeci por ter recebido as rosas.

♱ ENTRE A CRUZ E A ARMA ♱Onde histórias criam vida. Descubra agora