Passei o resto da manhã com o rosto enfiado na mesa, me recusando a acreditar em tudo que estava acontecendo, apenas rezando para nenhum aluno entrar na sala. Meu pedido foi atendido e logo o sinal tocou, anunciando a hora de ir embora. Saí correndo, literalmente, para não encontrar Alejandro pelos corredores. Fui caminhando até em casa, pensando em como eu ia fugir dele hoje, seria uma boa hora para ter meu próprio lar temporário.
Estava na rua de casa quando meu celular vibrou.
"R. Frost Gate nº98. Socorro"
Ah, que merda. Nem me recuperei de uma, já tem outra? E sem detalhe algum do que se tratava. Corri para dentro de casa, fui no escritório e peguei a mochila preta, que tem um pouco de tudo, especialmente para esses casos onde não sei o que esperar. Certifiquei que meu anel especial estava em meu dedo, pois era ele quem mandava minhas informações para minha equipe. Tranquei o quarto e saí correndo de casa, o endereço não era longe, mas também não era exatamente perto. Se tivesse sorte, chegaria lá antes da chuva. Eu não quero nem imaginar qual mensagem eu estava passando no momento, correndo pelas ruas com uma mochila nas costas e com o rosto em desespero.
Chegando na rua do endereço, diminui os paços, recuperei o fôlego e olhei em volta. Tudo parecia tranquilo, as casas aqui eram um pouco mais bonitas, maiores. Caminhei até a casa informada, tentando ouvir qualquer coisa que me avisasse sobre o que é essa emergência. A porta da frente estava apenas encostada, mas dentro dela estava o mais puro silêncio. Olhei em volta novamente. Quieto demais. Mesmo com a chuva anunciada, estava tudo muito silencioso, ninguém caminhava pela rua. Minha intuição me mandou sair de lá, mas arriscar perder mais um jovem? Então ouvi um soluço, como se alguém estivesse chorando dentro da casa. Merda.
Saí da varanda e dei a volta pelo lado de fora, tentando olhar pelas janelas. Todos os cômodos estavam vazios e escuros. Era uma casa abandonada, ninguém morava lá. Merda. Apenas uma janela estava tampada com um saco plástico preto. É claro, quem fez isso sabia muito bem o que estava fazendo. Abri a mochila, peguei a lanterna e a arma, coloquei a mochila nas costas novamente e fui em direção a porta de entrada. Posicionei minhas duas ferramentas nas mãos e entrei, com calma, fazendo absoluto silêncio, do jeito que fui treinada. Tudo vazio, de fato, exceto pela porta fechada no fim do corredor. Respirei fundo e caminhei até ela, quando estava diante da porta, certifiquei novamente que meu anel estava comigo, e ao olhar para ele senti um aperto no coração. Encarei a porta, e me concentrei em ouvir algo.
Uma respiração. Um choro baixo. Um barulho de metal.Decidi parar de pensar e agir. Ajoelhei o máximo que pude, e me equilibrando no pé esquerdo, usei a perna direita para chutar a porta, com a arma engatilhada. A porta se abriu com um barulho avassalador, e então tudo foi rápido demais. Vi uma pessoa vestida de verde em pé, mirando a arma para frente e atirando no nada. Ou onde deveria estar meu rosto, caso eu abrisse a porta como uma pessoa normal. Era só essa confirmação que eu precisava, então atirei no peito dessa figura. Ela caiu para trás imóvel. Aos pés dela, tinha um jovem amordaçado, chorando, com os olhos fechados. Graças a Deus. Escondi minha arma na cintura, peguei a minha mochila e tirei de lá um frasco pequeno e uma gaze. Molhei a gaze com o líquido do frasco e me aproximei do jovem, ainda de olhos fechados, coloquei o pano perto do seu nariz, para ele inalar o cheiro. Em poucos segundos o jovem desmaiou. Então me permiti sentar para analisar a situação por 20 segundos. Não passaram nem 10, quando meu celular tocou.
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♱ ENTRE A CRUZ E A ARMA ♱
Non-FictionEla sabia no que estava se envolvendo, havia se preparado para isso e aceitava as consequências por um objetivo maior. Mas nenhum treinamento a preparou para o amor. "- Volta aqui, me deixe explicar! - E não ouse voltar para o meu bairro, vadia."