21. Acordo.

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 A volta para casa foi tranquila, não conversamos mais, mas o silêncio com ele era confortável. Antes de chegar ao bairro, lembrei que estava com a camisa dele ainda.

- Você pode parar em algum lugar mais reservado, por favor?

- Achei que não ia pedir nunca. - Disse rindo e entrando em uma rua menos movimentada.

- Idiota, eu só quero colocar minha roupa de volta, para não sair assim - Apontei para a camiseta dele. - na rua.

- Qual seria o problema? Achei que cinza caiu bem em você. - Ele estava rindo ainda.

- É, claro, cinza está na minha paleta, mas não quero passar a mensagem errada pros vizinhos. - Falei enquanto tirava a camisa.

- Você realmente não se importa em ficar assim na minha frente, né?

- Na verdade não, até acho engraçada sua cara. - Disse rindo enquanto vestia minha calça.

- Vamos ver se vai continuar achando engraçado quando eu perder o controle. - Disse sério e se virou pro lado oposto ao meu.

- Qual é, você é chefe de uma gangue, luta pela própria vida todo dia mas não consegue ver uma mulher em roupas íntimas sem 'perder o controle'? - Foi difícil segurar a risada, então ele me olhou novamente.

Ele respirou fundo, fechou os olhos, então me encarou.

- Você nem percebe o que causa em mim, né? Pra você deve ser natural isso. Mas para mim não. Desde que eu te vi fazendo a mudança, eu fiquei fissurado em você. Nunca tive problemas em conseguir mulher, mas por algum motivo com você é diferente e isso me prende ainda mais. Desde o primeiro dia eu só consigo pensar em você, só consigo pensar quando vou finalmente te levar pra cama. - Nem com todo esforço do mundo eu conseguiria ter segurado a gargalhada que eu dei ao ouvir essas últimas palavras.

- É sério isso? Eu estava ficando comovida já, achei que era uma declaração de amor, que eu finalmente seria pedida em casamento, e na verdade sua única intenção é me levar pra cama? Poxa vida, Oscar. Mas tudo bem, eu vou te dar pontos pela honestidade. - Terminei de me vestir enquanto falava, então olhei pra ele, que estava rindo também.

- Eu não minto, chica. E casamento, é? Então você é dessas que sonha em casar? - Perguntou enquanto voltava a dirigir rumo ao nosso bairro.

- Não, na verdade não, mas foi o que pareceu com o começo do seu discurso. - Dei de ombros. - Mas então é isso? Tudo o que eu preciso fazer para você continuar me trazendo para praia, algumas caronas e afins, é não transar com você?

- Acho que não entendi sua linha de raciocínio, Sra. Lopes. - Ele pegou um cigarro do porta-luvas e acendeu.

- Se sua única intenção comigo é sexo, a partir do momento que eu der o que você quer, você vai sumir e aí eu nunca mais verei o mar.

- Então você vai me usar como uber particular? - Questionou sério.

- Você me usa como casa de acolhimento E médica particular, eu diria que você me usa bem mais. Uma ida à praia por semana não é nada pra você. - Disse cruzando os braços.

- Tá certa, você está totalmente certa. Mas acho que podemos melhorar este acordo. - Ele me olhou rapidamente com aquele maldito sorriso.

- Eu não vou pra cama com você.

- Eu já entendi isso, porra. - Disse com um tom de voz um pouco amargurado - O que eu quero propor, é: eu te levo para a praia toda sexta-feira e te busco na escola sempre que estiver chovendo. - Eu já ia gritar que aceito, mas ele continuou. - Em troca, você será meu lar temporário, minha enfermeira e vai continuar afastando o Cesar daqui sempre que as coisas ficarem feias. - O tom de voz agora era sério.

- Este é o acordo mais fácil do mundo, claro que aceito. - Ele jogou o cigarro pela janela e estendeu a mão para eu apertar.

- Mas a opção de sexo continua de pé, quando você mudar de ideia.

- Eu não vou mudar de ideia.

- É o que vamos ver. - Riu convencido.

♱ ENTRE A CRUZ E A ARMA ♱Onde histórias criam vida. Descubra agora