Caminhei até uma sala qualquer, em um corredor qualquer. Estava tensa, então me esforcei para me acalmar, respirando fundo algumas vezes e repassando o texto mentalmente. Prendi a respiração e bati na porta da sala três vezes antes de abri-la e me encostar no batente.
- Bom dia, professor. Posso falar com a sala rapidinho? - Pedi sorrindo.
- Não deu nem 1 minuto de paz para eu iniciar a aula e vocês já querem interromper? Não querida, sinto muito mas alunos não dão recados durante minha aula. - Respondeu o cavalo em pessoa.
- Agradeço o elogio, mas eu não sou aluna. - Neste momento o homem arregalou os olhos em minha direção, fazendo a turma toda rir - Meu nome é Bianca Lopes, mas por favor me chamem de Bia. - Prossegui entrando na sala e falando com os jovens.
Um coro de "e aí, Bia", com alguns destoando ao dizerem "foda-se" e afins, mas nada que eu já não havia previsto. Ao fundo da sala, sentado sozinho, estava o irmão do Oscar, me encarando. Ele parecia curioso, mas desviou o olhar quando percebeu que eu o observava.
- Bom, eu sou uma brasileira de 25 anos que durante todo este ano estarei aqui na escola, em minha sala ao lado do refeitório, para conversar com vocês. Sobre o que quiserem. Problemas com garotos? Com os pais? Dificuldades nas matérias? Sem par para o baile? Qualquer questão, podem contar comigo para desabafar. - Não foi exatamente o discurso que eu havia planejado, mas foi o possível devido ao nervosismo.
Um aluno loiro, com a camisa do time de basquete do colégio, levantou a mão do fundo da sala. Assenti com a cabeça para que ele falasse.
- E se meu problema for nunca ter transado com uma professora? - Perguntou o jovem com um sorriso malicioso, arrancando gargalhadas da turma.
- Neste caso, ficarei feliz em te arranjar um encontro com a professora de ciências, soube que ela se divorciou do marido recentemente, deve estar carente o suficiente para aceitar seu convite.
Um coro de risadas e gritos eclodiu dos alunos, enquanto o professor continuava me encarando como se eu fosse uma aberração.
- Falando sério pessoal, meu único papel aqui é tornar essa fase mais tolerável e menos traumática para vocês. Meu número de telefone ficará anotado aqui na lousa, podem me mandar mensagem quando quiserem, sério, vai demorar meses para eu me acostumar com o fuso horário. E por fim, mas mais importante: eu não trabalho para a Sra. Fernandez, nada do que vocês me contarem será reportado a ela, a não ser que vocês queiram. - Neste momento eu posso jurar que ouvi o professor rezando - Então, não hesitem em me procurar.
Reparei nos olhares surpresos, desconfiados e até aliviados dos alunos quando terminei de falar. Saí da sala confiante que a mensagem havia sido passada, então segui para a próxima sala, depois para a próxima e assim por diante até ter falado com todas as turmas. Meu celular tocou algumas vezes, algumas mensagens me chamando para sair, outras mandando eu voltar para o meu país, mas muitas agradecendo e dizendo estarem felizes com a minha chegada. Isso é o que importa, e essas mensagens foram o suficiente para eu voltar pra casa caminhando como se estivesse em um filme de Hollywood.
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♱ ENTRE A CRUZ E A ARMA ♱
Non-FictionEla sabia no que estava se envolvendo, havia se preparado para isso e aceitava as consequências por um objetivo maior. Mas nenhum treinamento a preparou para o amor. "- Volta aqui, me deixe explicar! - E não ouse voltar para o meu bairro, vadia."