Capítulo 18 - Deixa o Aatrox Splitando nas Sides

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O quarto de Aatrox refletia bastante a personalidade dele. A cama bagunçada há uma semana, os pôsteres de bandas de metal - Slayer, Megadeth, Deicide e Death - colados na parede, uma quantidade absurda de HQs e mangás nas estantes - o que poderia ser um mau sinal - e alguns equipamentos de exercício - como halteres, uma barra e um saco de pancadas com um homem de moicano barbudo colado no centro dele.

Aatrox pareceu um pouco constrangido e paralisado, não devia ter pensado direito quando a arrastou para longe de Varus.

- A-ah, você pode... se trocar e eu viro as costas.

O demônio não respondeu. Foi até o armário e se vestiu. Quando se virou para ele, estava de calças, mas seu peitoral malhado ainda escorria gotas do banho.

- Por que não colocou uma camisa? Você poderia... - uma imagem dos músculos dele torneados numa camisa apertada a deixaram rubra - pensando bem, pode ficar assim mesmo.

Aatrox não perdeu tempo e perguntou:

- O que o Varus estava falando contigo?

- Ele não me disse nada demais. - garantiu Kayle.

- Claro que não! Eles tem muita inveja do meu dano elevado e relevância como o maior Darkin! Pode falar, tudo bem se você não quiser ser mais minha lacaio.

Pelo que Varus comentou, Kayle sabia que aquele Darkin possuía algum complexo de inferioridade (superioridade, Napoleão, Romero Britto?) que envolvia esconder seus reais sentimentos para proteger e afastar seu coração da mágoa da intimidade. Ou talvez poupá-lo da mágoa da separação.

Por um minuto, enquanto Kayle sentava-se sorrindo ao lado dele - ele não podia ver o sorriso por baixo da escuridão do elmo, mas tudo bem - ela sentiu compaixão pelo Darkin da guerra e do massacre e acreditou fielmente que ele tinha um coração nobre e gentil por baixo de todo o sangue. Ora, John Wick matou a população de um país pequeno ao longo da sua tetralogia, por que Aatrox que dizimou mundos inteiros não poderia também ter matado alguns milhões?

Afinal, eles podem ter merecido. Certo?

Ela decidiu consolá-lo, como se falasse com um filhotinho de Pitbull.

- Eu disse, ele não falou nada demais... - baixou sua voz a um tom acalentador - você não pode sair arrastando uma garota pro seu quarto enquanto está seminu. Outros podem entender errado, sabe... 

- Você se identifica como algo tão baixo e fraco como uma garotinha adolescente? Pensei que tivesse séculos de idade.

Kayle precisou usar todo seu poder de processamento cerebral para interpretar se aquilo era um elogio ou uma ofensa.

- Hã... obrigado?

É, talvez ele fosse idiota demais para ter planejado um genocídio. Naquele instante, Kayle soube que se ele conseguiu uma agenda para atingir suas metas de cadáveres do Vazio e Ikathia, provavelmente havia algum organizador por trás disso tudo.

- Ele falava sobre o Rhaast, não é mesmo? Sobre como fracassamos com nossa família e fomos abandonados por aquela maldita empresa quando começaram a vender skins de animês, como nosso tempo passou e agora não valemos nada.

Kayle sabia que a pergunta era retórica, por isso respondeu:

- São animes, sem o acento.

- Estou falando de você também, Kayle.  - ele prosseguiu seu monólogo - Eles trocaram sua armadura por um colant no seu rework visual, quando as coisas começaram a mudar.

- Eu não sei do que está falando. Foi a minha mãe que faz meu guarda-roupa, ela pediu para usar esse colant roxo. É mais... - "moderna, ela falou moderna, e favorece as coxas para encontrar um pretendente adequado para continuar a linhagem dos Justos". Kayle corou na escuridão de seu elmo - ...Permite mais movimentos numa batalha.

- Sim, sua mãe. Talvez ela tenha o rabo preso com um ou outro sócio daquela empresa. Nós todos caímos nessa, confiamos que poderíamos recuperar nossos irmãos e trazê-los de volta para uma era em que o Nunu era feio e parecia ter saído de um comercial do Proerd e o Teemo era o personagem mais bonito do jogo. O Rhaast foi um desses.

Aí vinha outro monólogo expositivo. Kayle sentou-se confortavelmente, se preparando para o pior.

"Rhaast é quem mais me ajudava. Ele não teve a minha sorte de encontrando um hospedeiro sem nome como eu, nem possuía mais orçamento para ter uma arma amaldiçoada de verdade. Por isso, comprou uma foice na sessão de jardinagem do Carrefour e apareceu para a entrevista de emprego com aquela arma.

"Foi bom, porque eles conseguiram uma pontinha dele no jogo principal da empresa com outro rapaz. Aqueles tempos eram outros, a Riot Games estava mais para Riot Game e ingressar no jogo significava jogar na série A. Por isso não nos preocupamos muito e, algumas vezes, Rhaast e Kayn ficavam se alternando nas aparições.

"Isso, pelo menos, até que o Kayn forçou a diretoria a cumprir seu contrato.

"Ah, não há nada mais maligno no mundo do entretenimento que um contrato. No dia que Rhaast foi chamado para uma reunião extraordinária, pensou que estavam para anunciar o evento dos Darkin que estavam prometendo uns anos atrás. Estávamos assistindo a 'Sociedade dos Poetas Mortos' e comentando como aquele filme era de frescos, enquanto nós chorávamos de raiva na demissão do professor.

"Robin Williams tentou nos avisar. Rhaast não voltou para casa e tudo que tivemos em troca foi um cachorro invisível que fica roubando nossa comida da geladeira e fugindo pela vizinhança".

- Você está dizendo que...

- Sim, o Kayn azul matou meu irmão, porque precisavam de uma garoto bonito para fazerem Fanarts na Internet e o Aatrox era apenas uma mascote. Os jogadores de Kayn escolhiam meu irmão para vencer e o outro para se divertir, mas algum diretor da empresa estava deixando o jogo mais casual e definiu que jogar de Rhaast, era a mesma coisa que jogar de Trundle: "era hora de Trollar" ou algo assim.

Aatrox estava cabisbaixo agora, encarando uma mancha suja no carpete, provavelmente de Nescau que ele pensou que sumiria se não a olhasse mais para ela.

- Kayle, me deixe sozinho agora. Preciso pensar no que fazer antes que os executivos venham me transformar numa garotinha animê ou cachorro voador quando descobrirem que me tornei uma piada. Talvez eu devesse começar a construir tanque, certo?

Kayle não respondeu, o encarando com sua costumeira quietude. Ela se levantou, segurou na maçaneta da porta e ficou ali por alguns instantes. Ela respirou fundo e falou:

- Você não pode ficar nesse quarto olhando pra essa macha de Nescau pra sempre, Aatrox. Precisa continuar olhando pro futuro, com ou sem um hospedeiro, você precisa amar a si mesmo primeiro. Não é outra pessoa que vai decidir sua felicidade.

- Kayle você não entende, eu sou uma espada demoníaca que possui pessoas, eu não posso simplesmente...

Então ele calou-se. Kayle já tinha saído e o deixado sozinho, como ele queria.

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