Capítulo 12 - Meu Nome Não é Kayle

7 1 6
                                    

Depois de pegar dois ônibus e caminhar muito, Aatrox alcançou a periferia da cidade e encontrou uma fazendinha com ovelhas, vaquinhas e até um Border Collie para cumprimentá-lo. Um chalé aconchegante saindo fumaça pela chaminé o aguardava e precisou encarar duas vezes o endereço no caderno para saber que levava Kayle para o lugar certo.

Sim, Kayle devia viver ali.

Ela babava no trapézio descendente de Aatrox a viagem inteira e ele estava cansado de carregá-la. Simplesmente bateu na porta e esperou.

Uma gótica abriu a porta. Pode dizer isso pelo vestido tomara-que-caia escuro, cabelos e maquiagem roxos e as asas púrpuras como a escuridão da noite. Ela o encarou entediada, mesmo quando precisou olhar para cima e encontrar a cara de Aatrox.

- Eu sou Aatrox... o Deicida Matador-de-Deuses! Eu matei o Aspecto da Guerra, liderei uma legião de Darkins assassinos contra minha irmã imbecil Xolaani e estou lhe dando a honra de resolver um problema para mim.

Ele jogou Kayle inconsciente aos pés da adolescente gótica que a encarou silenciosamente.

- O nome desse Aspecto é Kayle, a Justa. Ela deve possuir alguma alergia a mini-mortais peludos e acabou surtando. Você precisa matá-la e depois selar seu espírito numa arma para que a cura mental ocorra, só assim ela ficará imune aos efeitos de qualquer que seja a maldição espalhada por aquele duende.

A gótica sustentou aquele olhar entediado e púrpura nele e Aatrox nunca se sentiu tão julgado.

- O que está esperando? Quem você pensa que é você... você... ei, por que está tão quieta? Ande logo e inicie os rituais!

Um homem de boina e óculos desceu as escadas e os viu na porta. Ele não usava nenhum adereço fodástico como Aatrox ou o vestido trevoso da gótica, apenas um suéter e galochas. Ele se aproximou sorridente.

- Morgana, querida, com quem está falando?

- É o namorado da Kayle. - ela então olhou para o chão - Ele trouxe a Kayle pra cá. Teve uma recaída.

- Eu não sou o namorado dessa... - ele viu a escuridão do elmo e imaginou um Troll, um homem-macaco ou um jogador de Yuumi - ...coisa.

- Oh, por Targon, que horrível! - ele se aproximou e foi o único que pegou Kayle no chão. A carregou nos braços - Você a trouxe por todo caminho? Muito obrigado, rapaz! Bom que trouxe. A mãe dela provavelmente a entregaria para a diretoria se soubesse dessa recaída. Ela sempre tentou ficar tão longe dos Yordles, até deixa registrado num site toda sua agenda para evitar desencontros.

Aatrox encarou os dois novamente e ficou um pouco perturbado. Não eram nada parecidos.

- Vocês dois são... uh... estão numa relação... é... ganha-ganha? Sugar Daddy ? - eles não haviam entendido ainda - São namorados?

O homem mais velho riu, Morgana não esboçou qualquer reação, simplesmente pegou o celular e mexeu nele.

- Não, não! Eu sou o pai da Kayle e da Morgana, Kilam, embora só tenha a guarda da Morgana. A Mihira insistiu em ficar com uma delas, embora o juiz e a assistente social foram contra. Isso até ela obliterar o meirinho na frente deles. - O homem mais velho balançou a cabeça tristemente - Pobre rapaz. Era apenas um estagiário. De toda forma, está muito tarde para voltar para cidade! Não quer passar a noite aqui?

Aatrox encarou os arredores e percebeu que seria aquilo ou passar a noite ao relento, talvez sendo atacado pelas vacas ou confundido com o chupa-cabra - não foi a primeira vez.

- Tudo bem, mortal. Arranje-me seu melhor aposento. Serei seu hóspede essa noite e, se não ficar satisfeito, saberá porque me chamam Aatrox Deicida.

... 

Quando tinha suas recaídas, só retinha alguns flashes de memória. Ela sendo carregada por ombros largos e fortes, o céu escurecendo rapidamente, a troca de ônibus e linhas, intercaladas por grandes surtos e viagens psicodélicas envolvendo pelo de Yordle.

A história de como ficou viciada em pelo de Yordle é muito antiga. Nos tempos primordiais, seus compatriotas faziam várias coisas para relaxar e uma delas era cheirar a cabeça dos Yordles no exército demaciano. Eles gostavam, alguns até ronronavam e achavam um gesto carinhoso. Kayle não dava bola até aquele momento, se diferenciando deles como se fosse algo de soldado raso, e continuou seguindo os ideais da mãe.

Isso até que Mihira e Kilam se divorciaram. Até que a separação finalmente ocorresse, Kayle e Morgana foram expostas a várias brigas entre os pais. Depois do divórcio, quando Kilam ficou com a fazenda em Demacia e Mihira a casa em Targon, não conseguiam concordar nem com a guarda compartilhada das irmãs e houve muita alienação paternal. Quando passavam os dias na casa de Mihira, ela menosprezava Kilam porque precisava pagar pensão dele e das filhas, chamando todos de parasitas que estavam atrás do poder divino dela e atrapalhando seu ideal de JUSTIÇA

Nesse ponto, cada irmã reagiu de uma maneira diferente. Morgana virou uma gótica, fez tatuagens e penhorou a espada que Mihira legou para ela. Mihira deserdou Morgana e forçou Kayle a trabalhar pra recuperar a espada. Isso elevou o estresse de Kayle que precisou trabalhar em turnos triplos no exército, até encontrar a única coisa que a fazia relaxar: cheirar Yordles.

O primeiro Yordle que cheirou sentiu pena dela e queria aconchegá-la. Enquanto Kayle cheirava seu pelo e afagava sua cabeça, ela contava sobre sua gata mágica e gorda que roubava seu livro mágico destruidor de mundos para voar por aí. Kayle a cheirou por tanto tempo que ela morreu de inanição.

Kayle se envergonha de não lembrar onde enterrou o cadáver da Yordle e ter deixado a gata gorda largada por aí, perdida com um livro destruidor de mundos.

Depois que passou a raptar Yordles e prendê-los no porão da sua casa em Targon, as suspeitas surgiram e o comportamento errático de Kayle não ajudava. Ela não conseguia agir normalmente se não cheirasse Yordles pelo menos três vezes ao dia e ficasse abraçada com um deles por quatro horas. Os turnos viraram quádruplos para sustentar os Yordles que mantinha escondidos no porão e raptar outros.

Certo dia, houve uma rebelião. Os Yordles fugiram, contaram sobre os raptos e esconderam Bandópolis (ela nem sabia que Bandópolis existia!) em outra dimensão para protegê-los. Eles se disfarçavam quando precisavam sair da cidade e se esconderam de Kayle.

Aquele século foi difícil e pensaram por um momento que ela fosse um Darkin. Sua mãe a enfiou em várias prisões até que sua abstinência passou e ela encontrou foco e um novo caminho como Aspecto da JUSTIÇA.

Só que de vez em quando tinha essas recaídas.

...

Quando ela finalmente despertou, viu Morgana mexendo no celular, no pé da sua cama.

- Oi. - falou Morgana.

- Oi, chorona. - cumprimentou Kayle.

As Vantagens de Ser um TopLanerOnde histórias criam vida. Descubra agora