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Enquanto passava algumas latas de refrigerante no caixa me senti vigiado, porém talvez havia sido apenas uma impressão boba que me apontou naquele momento. Então apenas ignorei, paguei as compras e retornei diretamente para o carro sem dar as costas.

- Acorda aí mano - Gritei me aproximando da porta

- Qual foi cara, que demora foi essa? - Disse Bill levantando a cabeça do volante rapidamente

- Tinha uma fila gigante na minha frente, seu idiota - Retruquei jogando a sacola no banco de trás enquanto me sentava no carona.

O mesmo ligou o carro sem trocar nenhuma palavra comigo, talvez tenha levado a sério o momento em que eu me referi a ele como um idiota, então apenas ri da reação inesperada que ele teve e mudei de assunto contando o ocorrido.

- Quando fui passar as coisas eu me senti meio incomodado, achei estranho mas talvez era só parada da minha cabeça - Falei estralando os dedos em sequência

Bill diminuiu a velocidade do carro e desligou o som, concentrando-se na minha preocupação que acabou se tornando dele também.

- De novo isso? A última vez não foi só impressão, você lembra? - Perguntou ele com um tom de voz aflito

- Lembro. - Confirmei com um suspiro

No mesmo instante todas aquelas cenas se repetiram na minha mente. Consegui lembrar exatamente de todos os dias de perseguição que me traumatizam até hoje, de todas as noites que acabei não conseguindo dormir por medo de alguma louca aparecer na minha cama quando eu acordasse, sentia que cada movimento realizado minimamente era uma atração e uma isca fácil. Eu nunca me sentia seguro, independente de quem estava comigo.
Não consigo imaginar tudo aquilo se repetindo de novo na minha vida, desde a última vez eu fiquei completamente abalado e sem sanidade para qualquer coisa que envolva pessoas obcecadas a ponto de te perseguirem em qualquer lugar, afinal acredito que qualquer um ficaria.

- Tom? - Sussurrou Bill olhando em minha direção

- Hm? - Respondi levantando a cabeça atentamente dirigindo meu olhar para o mesmo

- A gente não tinha culpa, você não tinha. - Afirmou ele na tentativa de melhorar o clima do momento.

Eu sempre soube que não fomos culpados por nada que aconteceu desde a infância, porém de uma forma ou de outra as vezes ainda me sentia extremamente mal por tudo que aconteceu e ainda acontece.

-

Passei o resto do caminho em silêncio observando a paisagem enquanto Bill cantava algumas músicas de 90. Eu não suportava mais aquele tédio e nem a voz dele, parecia que o caminho era infinito. Não parecia assim tão longe quando eu estava com a... bom.

Minha cabeça voltou totalmente para todos aqueles momentos que passamos juntos, aquele abraço e aquele beijo que já estavam me enlouquecendo só de lembrar, os carinhos que fizemos no bichinho de estimação dela, quando sentamos com a dona Ana para conversar e quando ela cuidou de mim em cada detalhe. Sinceramente minha única vontade era poder ter a chance de fazer tudo de novo mesmo sabendo que não seria possível.
Pelo menos agora havia algo em que eu pudesse pensar sem ficar entediado pelo resto do caminho.

Tempo depois chegamos no hotel, peguei as sacolas no banco de trás e meu celular que estava no porta-luvas enquanto Bill arrumava seu cabelo pelo retrovisor.

- Vai se maquiar também, princesa? - Perguntei colocando meu telefone no bolso e batendo a porta logo em seguida

- Tô fazendo o que você deveria fazer mais tarde também seu bobão - Respondeu Bill saindo pela porta.

Ficamos trocando alguns empurrões e risadas enquanto atravessávamos o estacionamento do hotel e passávamos por alguns espaços que ficavam entre os carros, até a cabeça brilhante de Bill ter a ideia de olhar o interior de um dos automóveis através do vidro.

- Tá vendo, Tom? É uma Audi daquelas que você gosta - Gaguejou Bill euforicamente soltando alguns pulinhos

- Sai daí cara, vai que você dispara o alarme sem querer - Falei rindo enquanto puxava o mesmo pelo braço

Não se passaram nem dois segundos do aviso que eu havia dado e o alarme incrivelmente disparou, fazendo com que Bill e eu saíssemos correndo desesperadamente.

- Eu avisei caramba! Para de ser idiota - Reclamei empurrando o braço do mesmo

- Da próxima te deixo pra trás seu bobão - Retrucou Bill retribuindo meu empurrão.

Saímos do local e subimos mais alguns degraus para pegar o elevador e voltar aos nossos quartos. Quando chegamos, apenas larguei as sacolas e me debrucei sobre a cama para tentar aliviar o cansaço que meu corpo estava sentindo, mas Bill continuava animado por alguma razão na qual eu fiquei até com medo de perguntar.

- Aí Tom, me vê a hora faz favor - Gritou ele enquanto tirava algumas roupas do armário

Peguei meu celular com os olhos quase fechados inteiramente por conta de todo aquele cansaço e olhei para a tela. Porém tive uma surpresa ao ver as notificações, esquecendo completamente do horário que Bill havia pedido.

' 15:59

- Oi tom, podemos sair sim! eu não ia fazer nada hoje mesmo, vê que horas fica bom pra você e me avisa, tá?'

Meu coração acelerou automaticamente ao terminar de ler a frase, fiquei completamente nervoso e ansioso ao mesmo tempo, mas também fiquei extremamente animado em saber que ela estaria livre para alguma coisa, talvez eu poderia fazer tudo de novo, como enchê-la de beijos e abraços, o que me deixou mais empolgado ainda.

- Tom, a hora caramba! - Exclamou Bill

- Para de gritar porra, são 16:15 ouviu? - Vociferei enquanto balançava os pés e voltava a atenção para o celular.

Fiquei algum tempo pensando no que eu falaria, também não tinha ideia sobre o que poderíamos fazer, talvez um filme ou um cinema seria algo interessante. Mas minhas experiências com encontros geralmente eram todas fracassadas e sem emoção nenhuma, eu só não queria que esse fosse mais um deles, então precisava usar todo meu cérebro para pensar em algo bom para os dois.

' 16:23 - Tom

- Oi gatinha. Desculpa a demora, acabei de chegar no hotel. Quer colar comigo no cinema? Talvez tenha uma sessão que comece perto das 19:30, se quiser eu passo aí meia hora antes.'

' 16:25

- Tudo bem, se não for incômodo pra você pode passar aqui sim. Beijinho xuxu! '

Naquele momento fiquei completamente eufórico e tenso, eu não queria esperar mais nenhum segundo para ver aquele rostinho lindo de novo.

- Cê tá bem? - Questionou Bill ao me ver balançando os pés em ritmo acelerado

- Adivinha quem vai em um encontro hoje? - Falei agitadamente levantando da cama

- Eu, por que? - Respondeu Bill junto de uma expressão confusa em seu rosto

- Cê vai sair também? Que novidade hein Billzinho, agora eu entendi sua alegria mais cedo - Proferi enquanto ligava a tela do celular novamente.

No mesmo instante mostrei minha conversa sobre nosso encontro para ele, que com uma reação exaltada me deu um tapa nas costas.

- Para de me bater cara. Eu não sou um saco de pancada seu besta - Murmurei tentando esconder meu riso.

ps; perdão pelos erros.

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