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Desci até a lavanderia onde mamãe estava e peguei um pano para limpar um pouco meu ambiente pessoal que sinceramente, estava parecendo um cativeiro.

— Vai limpar seu quarto? - Perguntou. — Qual é o nome desse milagre?

— Engraçadinha - Respondi atravessando um longo sorriso irônico no rosto. — Você viu o que o Chico fez? Ele devastou meus papéis. Eu fiquei fora por menos de dois dias e isso acontece, por que não pergunta á ele como ele consegue ao invés de mim?

— Amanhã é dia de veterinário esquentadinha, vou conversar com a doutora. Talvez ele só esteja um pouco irritado, sabe como são os animais, não? Talvez o cheiro do seu namoradinho ainda esteja impregnado lá e ele esteja incomodado. - Respondeu ela enquanto misturava alguns produtos.

— Mãe! - Resmunguei. — O que eu disse? Sem falar de nenhum dos meninos, que saco! 

Fiquei chateada novamente, como se não estivesse mal uma hora atrás. Eu não possuía estrutura nenhuma e parecia que a qualquer momento iria desabar completamente. Então isso é gostar de alguém? Ficar mal por não poder mais vê-la depois e continuar tentando agir normalmente quando seu mundo fica totalmente cinza?
Eu não entendo como isso é possível em nenhuma dimensão, de repente desenvolvemos sentimentos e em questão de segundos as coisas viram de ponta cabeça.

Voltei para o quarto e comecei a remover algumas molduras e quadrinhos com fotos da minha infância que estavam em cima da cômoda. Confesso que fiquei mais triste ainda pensando em como seria voltar para minha velha infância, minha vida era fácil do meu jeito e minha única preocupação era não voltar para casa tarde. Francamente, como é ruim ser adolescente.
Tudo parecia tão impossível que acabei ficando alí parada para tentar compreender melhor o que eu sentia.

— Filha? Mamãe pode entrar? 

Ouvi a voz de Ana batendo na porta, não tive a mínima vontade de responder pois já sabia sobre o que seria o assunto.

— Á  vontade. - Respondi com desânimo. Eu só queria esfriar um pouco a cabeça e me distrair, é impossível conseguir ficar sozinha?

— Desculpa, filha. Não queria aborrecer você. - Disse ela fechando a porta. — Posso me sentar?

Somente suspirei e sinalizei que sim, queria que ela notasse meu incômodo mas ao mesmo tempo também queria ouvi-la, então apenas respondi:

— Tudo bem, você não tem culpa. Eu lá iria prever isso, mas agora já foi, vai ficar tudo bem.

— Te conheço bem senhorita Giovana, quero que me conte cada pedacinho de seus sentimentos. Eu me preocupo com você, mais do que imagina.

— É tudo que você ouviu dona Ana, não tenho mais nada para dividir. Você sabe como é, não? Talvez isso passe, não há necessidade de se preocupar com algo momentâneo. - Respondi largando o quadro.

— Ah, é? Pois tenho certeza de que não é algo que você está sentindo "só pelo momento" - Disse ela fazendo movimentos de aspas com os dedos. — Eu sei muito bem como é gostar e se apaixonar, mocinha. Ver você se enganando consigo mesma está me deixando agoniada. 

— Não importa. Pode me deixar um pouco sozinha, por favor? Não quero conversar agora. - Falei cortando o assunto repentinamente. Minha paciência estava por um fio e eu não queria brigar com minha própria mãe.

— Tudo bem. Vou estar na cozinha. - Respondeu ela apoiando as mãos na cama enquanto se levantava

Senti um tom extremamente triste em sua voz, me senti bastante culpada por ser grossa com ela, mas não queria elevar a conversa de forma negativa e pior. Então voltei a arrumar minhas coisas. 

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